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Crítica/"Olhar Estrangeiro"
Tom acusatório de documentário comprova apenas o óbvio
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Muita gente diz que a
verdade não existe,
mas alguns fatos são
indubitáveis. Não há praia na
cidade de São Paulo, nossa língua não é o espanhol, topless
não é rotina por aqui. Coisas assim aparecem todo o tempo em
filmes como "Orquídea Selvagem", de Zalman King, e "Feitiço do Rio", com Michael Caine.
"O Olhar Estrangeiro" reúne
uma saborosa coleção de clichês sobre o Brasil. Cenas de
uma espécie de pornochanchada francesa com Roberta Close
("Si Tu Vas à Rio, Tu Meurs", de
Philippe Clair) ou do obscuro
filme sueco "Sällskapsresan",
de Bo Johnson, servem para
que a diretora Lúcia Murat prove, comprove e reprove o óbvio.
A saber, que o Brasil é visto
como um lugar exótico, cheio
de praias e mulheres belíssimas. A tese se repete ao longo
do documentário, como um requisitório que se esfrega na cara dos entrevistados, muitos simpaticíssimos, politicamente
corretos e bastante desconcertados pela atitude simploriamente agressiva da diretora.
Por que não escolheram um
ator que falasse português sem
sotaque? Não percebem que tudo é estereótipo? Hope Davis,
atriz de "Próxima Parada,
Wonderland", pede desculpas.
Robert Ellis Miller, diretor de
"Brenda Starr" (em que Brooke
Shields, personagem de HQ, faz
esqui aquático sobre jacarés),
precisa explicar que o mundo
dos "comics" não é real. Com
ironia, Michael Caine diz que,
se quisermos nos livrar dos clichês, a saída seria enfear as mulheres. Outra sugestão seria recomendar a Murat que, em vez
de sair de dedo em riste contra
diretores de terceiro time, entrevistasse com igual audácia
autores da Globo. Todos diriam
que operam com estereótipos:
de industriais, operários, padres, franceses ou brasileiros.
Experiências sutis poderiam
ser tentadas com o material:
contrastá-lo com a vida real, registrar as reações de brasileiros
ao vê-lo, mostrar se a realidade
do país, mesmo em produções
fantasiosas, aparece. Murat
preferiu a obviedade acusatória. Descobriu a América.
OLHAR ESTRANGEIRO
Direção: Lúcia Murat
Produção: Brasil, 2005
Quando: pré-estréia hoje, 21h30, no
Reserva Cultural; em cartaz amanhã
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