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Crítica/Hong Sang-soo
Festival destaca filmes de coreano que evita excessos
Cineasta difere de conterrâneos ao evitar violência gráfica e poesia forçada
DO CRÍTICO DA FOLHA
Fim do jejum. Com a chegada do festival Indie a
São Paulo, depois de sete edições bem-sucedidas em
Belo Horizonte, o espectador
paulistano vai, finalmente, poder conhecer a obra de um dos
mais instigantes cineastas contemporâneos: o coreano Hong
Sang-soo.
O Indie apresentará, de hoje
até a próxima quinta-feira, no
Cinesesc, com entrada franca,
25 filmes de dez países, todos
inéditos na cidade.
No conjunto, encontram-se
títulos que chegam com boas
referências, como o argelino
"Bled Number One", o chinês
"A Outra Metade" e o norte-americano "Monstros de Quatro Olhos".
A cereja do bolo, contudo, é a
apresentação de seis dos sete
filmes dirigidos por Sang-soo
(quatro deles com cópias em
película).
Ao contrário de outros cineastas coreanos já exibidos
comercialmente no Brasil, o
excesso visual, a violência gráfica e a poesia forçada passam
longe do universo deste diretor.
O primeiro fator que chama a
atenção em seus filmes é a regularidade: de temas, de situações, de uso expressivo de técnicas (como a zoom).
Em todos os seus sete longas
há cenas de bebedeira e cenas
de sexo, há encontros com conhecidos ao acaso e, sobretudo,
há personagens que se conhecem, flertam, transam e depois
se desentendem.
Esse tipo de resumo sugere
uma banalidade temática que
percorre a obra de Sang-soo e
ela de fato é predominante. Ao
contrário dos filmes independentes americanos, este vazio
não é preenchido com psicologia de botequim ou pseudo-filosofia existencial.
Poesia do banal
Como no cinema do francês
Éric Rohmer, uma das mais
evidentes influências da obra
de Sang-soo, o banal funciona
como uma armadilha para o
olhar desatento. Uma história
de amor começa, se desdobra,
alcança aquele ponto inevitável
em que se aproxima do fim e,
subitamente, é outra história
que passamos a assistir, que de
algum modo ecoa aquela primeira.
Ou são os dois personagens
envolvidos numa mesma história, da qual vemos primeiro a
perspectiva de um, depois a de
outro, ou pode ser as de ambos
embaralhadas. Uma mesma cena, de amor físico, sobretudo,
pode se repetir com pequenas
variações.
Trata-se de um cinema que
exige muita atenção, pois seu
segredo se esconde nas minúcias dos gestos que diferem e
nos instantes que produzem as
rupturas.
Não é fácil tentar identificar
tramas em seus filmes. O que
Sang-soo encena são situações,
daí a impressão de uma sucessão de esquetes e de histórias
que parecem nunca começar.
Desta indeterminação, porém, é que resulta uma sofisticação que pode passar despercebida. Ela se concretiza, em
particular, na forma como o diretor manipula o tempo, rompendo a linearidade e a univocidade. Suas elipses abruptas são
os mais seguros índices de que
algo se passou.
Como nas nossas vidas, o modo como Sang-soo conduz seus
personagens nos leva a perceber e concordar que o tempo
tem lá suas próprias regras. E
que só nos resta estar bem
atentos a seus efeitos.
(CÁSSIO STARLING CARLOS)
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