São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2010

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Justiça decide sobre inéditos de Picasso

Eletricista aposentado que trabalhou com o pintor espanhol diz ter recebido as obras do artista e de sua mulher

Para o filho do pintor, Claude Picasso, pai não teria doado tudo a uma só pessoa; empregado responderá à Justiça

France Presse
Picasso entre algumas obras em sua casa, em Mougins, na França, em imagem de fevereiro de 1973

LENEIDE DUARTE-PLON
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Possuir 271 obras de Pablo Picasso (1881-1973) pode ser a certeza de um futuro sem problemas para qualquer mortal, já que elas são avaliadas em 60 milhões de euros. Mas uma gorda conta bancária não é propriamente o que espera o francês Pierre Le Guennec, 71, eletricista aposentado que trabalhou com o pintor em seus últimos anos.
Ao contatar neste ano Claude Picasso, filho do artista, solicitando certificados de autenticidade para obras que dizia possuir, Le Guennec se transformou em suspeito de furto ou, na melhor das hipóteses, receptador de obras subtraídas de uma das três últimas propriedades do artista na Côte d'Azur, onde trabalhou.
O jornal "Libération" publicou ontem com exclusividade a história destas 271 obras inéditas que o eletricista diz terem sido ofertadas por Picasso e sua mulher Jacqueline, morta em 1986.
Os experts ficaram fascinados com as obras, provavelmente nunca vistas. Os trabalhos não são assinados, mas foi excluída a possibilidade de falsificação.
Eles datam do período entre 1900 a 1932, os anos mais férteis do artista, e contêm uma raridade: nove "colagens cubistas" que valem algo em torno de 40 milhões (cerca de R$ 90 milhões).
Em seu nome e dos seis herdeiros do pintor, Claude Picasso resolveu iniciar um processo contra "X" (quando não se tem certeza de quem cometeu o crime). Segundo o filho do pintor, seu pai nunca deixava sair nenhuma peça de seu ateliê sem sua assinatura e a data de execução.
"Ter dado a uma só pessoa essa quantidade de obras é completamente absurdo, essa história não tem pé nem cabeça", avalia Claude Picasso, que dirige a Picasso Administration.
A galerista e marchand parisiense Lisette Schwarz, especializada em obras em papel, admite que o artista pode ter doado ao eletricista alguns trabalhos: "Mas o volume da doação e levando-se em conta que o artista assinava tudo o que fazia, sobretudo quando dedicava a alguém, é surpreendente".
Entre as obras estão colagens cubistas, uma aquarela do período azul, alguns guaches, estudos de mãos em tela, cerca de trinta litografias, além de 200 desenhos.
Todas foram apreendidas na residência do casal Le Guennec, no sul da França, e estão sob proteção do Office Central de Lutte Contre le Trafic Des Biens Culturels (OCBC), órgão da polícia francesa em Nanterre.
O ex-eletricista, que clama sua inocência, vai ter que se explicar na Justiça. Depois da decisão, Claude Picasso tem intenção de doar algumas obras a diferentes museus.


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