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Metrossexual, o novo "homem moderno", invade a cultura pop e as revistas nos EUA
Espelho, espelho meu
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
E de uma costela gay nasceu o
homem moderno. Entre outras
coisas, 2003 será marcado pelo
ano do aparecimento do termo
"metrossexual", designação fashion-mercadológica para um homem das grandes cidades que
gasta mais de 30% de seu salário
com cosméticos e roupas, frequenta manicures, aprecia um
bom vinho, adora um shopping, é
(para resumir) mais que simpatizante da cultura gay. Mas não se
engane: é um sujeito bem macho.
Desde meados deste ano o mercado publicitário americano está
atrás do dinheiro deste ser vaidoso, geralmente bem colocado profissionalmente e que não vive sem
sua marca predileta de hidratante
para a pele. E atrás dos anunciantes está a cultura pop.
E mais do que um modismo
passageiro, como era a aposta
quando a palavra metrossexual se
alastrou na mídia, a presença desse homem com "H" está viva nos
EUA e bem visível no Brasil.
O canal pago Sony exibe por
aqui o mais comentado seriado
novo de 2003, "Queer Eye for the
Straight Guy", que pode ser traduzido como "O Olhar Gay para o
Cara Hétero". A série é uma espécie de "reality show" em que cinco
gays especialistas em moda, decoração, cultura, comida e vinhos
são acionados para transformar
um sujeito heterossexual careta
em um "novo homem". Mais ou
menos como transformar um sapo em um príncipe.
"Queer Eye..." estreou em julho
nos EUA e desde novembro passa
na Sony brasileira, aos domingos,
às 20h30. Na internet circula desde outubro, em programas de
download, o divertidíssimo episódio 708 do desenho "South
Park", em que toda a cidade, inclusive os levados meninos-personagens, viram metrossexuais.
O termo, que comprime as palavras heterossexual e metropolitano, ganhou editorial da revista
mais masculina do Brasil, a "Playboy", que está atenta a esse cara
que gosta de mulher e de Listerine. O metrossexual, mais do que
uma presença editorial de evolutiva importância, pautou a última
edição de outra revista de homens, a "Vip". Em uma das reportagens, inspirada no seriado,
alguns gays foram convidados a
transformar em modernos alguns
homens-"homens", daqueles que
adoram futebol, mas que nunca
reparam nas unhas bem feitas e
pintadas e no cabelo alinhadíssimo do inglês David Beckham.
A diretora de Redação da "Playboy", Cynthia de Almeida, diz que
o metrossexual ainda é um sujeito
com um comportamento distante
do homem brasileiro. "Esse jovem urbano, obcecado pela aparência que consegue segurar a onda da virilidade é raro. O nosso
macho médio, no entanto, está
longe de ser um brucutu e está cada vez menos preconceituoso em
relação a cuidar do corpo e a ficar
bonito. Na célebre reportagem do
"New York Times" que botou em
circulação o termo metrossexual,
tem um texto cujo título eu adoro:
"Esfoliação não é o caminho para
o coração de toda a mulher"..."
Se o homem metrossexual brasileiro ainda tem alguma dificuldade de encontrar seu creminho
nas revistas brasileiras, americanos vaidosos como o astro galã
Brad Pitt acham fácil o deles em
páginas e páginas de publicações
masculinas bem-sucedidas, consideradas hoje bíblias do metrossexualismo, como a "Details", a
"GQ" e a "Vanity Fair".
"Revistas como a "Details" e outras tiveram que se aproximar dos
homens diferentemente nos últimos tempos. No meu caso, como
editor da "Details", tenho feito há
três anos uma revista para o homem -não o hétero, não o gay,
mas simplesmente para o homem. No começo os críticos de
mídia falaram que a "Details" era
uma publicação gay. Agora, falam
que minha revista está se enchendo de dinheiro porque conseguiu
focar no "homem contemporâneo", aquele que está interessado
tanto no resultado de um jogo do
New York Knicks quanto em exposições de arte", disse Dan Peres
em chat do "Washington Post".
Mais do que guiado pelas revistas, o metrossexual já ganhou até
seu manual em livro. Em outubro
último foi lançado "The Metrosexual Guide to Style: A Handbook
for the Modern Man", de Michael
Flocker. "Nunca estale os dedos
em um restaurante para chamar o
garçom. Faça um delicado aceno", ensina o guia.
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