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MÍDIA
Ausentes do mercado há anos, novas publicações adotam perfis distintos e autoria de jornalistas e historiadores
Revistas tentam "popularizar" a história
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Existem várias revistas brasileiras de divulgação que procuram traduzir temas mais ou
menos complexos ao público em
geral: falam de ciência, de medicina e saúde, de aviação, tecnologia
militar, de automóveis. Fazia anos
que não havia nenhuma que tratasse de história.
De repente, surgem três revistas
populares de divulgação de história: "Nossa História", "Aventuras
na História" e "História Viva".
Concorrência faz bem, apesar dos
perfis distintos.
"Tudo é História" era o nome
de uma coleção de livrinhos da
Editora Brasiliense. O título é perfeito, pois, de fato, tudo que existe
tem sua óbvia origem em algo que
aconteceu antes, seja a história
mais tradicional dos governos e
guerras e revoluções, seja aquela
do cotidiano, da vida privada, da
tecnologia.
O passado é uma espécie de supermercado no qual as pessoas
-e as revistas- buscam nas
gôndolas aquilo que lhes interessa. Ao comemorar efemérides, as
autoridades procuram lembrar o
que pega bem. Alemães não comemoram a tomada do poder
por Adolf Hitler em 1933. Pela primeira vez, neste ano, um governante da Alemanha foi convidado
a participar da festa dos 60 anos
do Dia D, a invasão anglo-canadense-americana do norte da
França que iniciou a expulsão dos
alemães dali na Segunda Guerra.
A mais pop delas, "Aventuras
na História", com a grife da revista "Superinteressante", é voltada
para um público mais jovem. Um
número dela traz um texto sobre
samurais, algo na moda no momento por conta de um filme com
Tom Cruise, e um texto sobre o
Drácula histórico, "o príncipe
medieval que inspirou as lendas
de vampiros".
Muitas ilustrações, infográficos
e fotos servem para tornar a leitura mais ágil, algo que também foi
copiado, mas mais discretamente,
pelas outras duas revistas.
"História Viva" inclui traduções
de uma clássica revista francesa, a
"Historia" (sem acento). Na França há mais de uma revista de divulgação de história. No Reino
Unido há outra publicação antiga
e importante, a "History Today".
Nos EUA, curiosamente, é mais
comum ver revistas devotadas à
história militar -como "Military
History" e "Military History
Quarterly"-, talvez um reflexo
do papel dessa república imperial
no mundo de hoje.
"Nossa História", editada pela
Biblioteca Nacional, se concentra
em história brasileira, e há mais
textos de historiadores do que de
jornalistas, dois profissionais que
lidam essencialmente com a mesma matéria-prima, embora com
"timings" bem diferentes.
Autores
Jornalistas têm escrito muitos
best-sellers tratando de temas históricos. Dois nomes óbvios são
Eduardo Bueno, autor de livros
sobre a descoberta do país e os
primórdios da colonização, e Elio
Gaspari, colunista da Folha e autor de livros sobre o regime militar. Os dois comparecem com
textos nessas revistas.
Bueno é chamado por muitos
historiadores, invejosos de seu sucesso editorial, de "Paulo Coelho
da história". É gente que associa
"divulgar" com "tornar vulgar".
Pois raros são os historiadores
que sabem escrever textos atraentes para um público leigo, como
reconhece um dos melhores deles, José Murilo de Carvalho, em
texto no primeiro número de
"Nossa História". Carvalho elogia
o botânico alemão Karl von Martius, que apresentou o estudo
"Como se deve escrever a História
do Brasil", em 1843.
"Preocupados legitimamente
em distinguir seu trabalho do de
outros profissionais, sobretudo
de jornalistas, nossos historiadores acabaram desenvolvendo um
estilo que se aproxima da linguagem empolada e tortuosa condenada por Martius", escreveu Carvalho. "O campo foi tomado por
jornalistas e outros profissionais,
cujo êxito editorial mostra que
existe grande interesse popular
pela história", continua ele.
Como mostra texto do historiador Ricardo Maranhão na revista
rival, "História Viva", existe quem
aprendeu a lição de Martius. Maranhão mostra que a chamada
"cozinha mineira", na verdade, é
oriunda de São Paulo. Sem dúvida, um texto de apelo popular,
mas com rigor histórico.
HISTÓRIA VIVA. Editora: Duetto (R$
8,90). NOSSA HISTÓRIA. Editora:
Biblioteca Nacional (R$ 6,80).
AVENTURAS NA HISTÓRIA. Editora:
Abril (R$ 7,95).
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