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Segurança foi resolvida, diz curador
Teixeira Coelho, curador do Masp, afirma que falta de recursos é o grande problema e que "jantar na Fiesp" não resolve
Para ele, é preciso discutir o "sistema'; instituição de Israel, que fará mostra no Masp, pediu explicações sobre segurança do museu
TEREZA NOVAES
DA REPORTAGEM LOCAL
"Um jantar na Fiesp não resolve o problema do Masp",
afirma Teixeira Coelho, curador-chefe do Masp, em resposta à crítica feita por Paulo Hekenhoff na entrevista publicada na Ilustrada, anteontem.
Coelho, que também é professor de política cultural da
USP, afirma que é necessário
que o Estado, a sociedade e a
iniciativa privada discutam
uma forma de manter o museu.
O curador dirigiu o MAC
(Museu de Arte Contemporânea, ligado à USP) e foi responsável pela reforma do museu
que, entre outras melhorias,
deu segurança ao local.
Segundo ele, as falhas de segurança do Masp já foram resolvidas. "O grande problema
do museu é a obtenção de recursos de forma constante para
que ele se mantenha", afirma o
curador em entrevista à Folha.
FOLHA - O sr. tem relações com instituições e intelectuais de fora do
Brasil. Como o furto repercutiu nesse meio?
TEIXEIRA COELHO - Fui [recentemente] para a Alemanha fazer
contatos. Ou as pessoas são
muito educadas, ou se comportaram de uma maneira normal.
O caso foi mencionado, naquele
momento as obras já tinham sido descobertas, mas isso foi
discutido de passagem. Não foi
uma reação impactante.
FOLHA - E qual foi a reação dos museus que emprestarão obras para o
Masp? Eles contataram o museu?
COELHO - O museu de Israel,
sim. Eles sempre foram muito
preocupados com a questão da
segurança. O museu vai fazer
uma exposição aqui chamada
"Tesouros da Terra Santa" e,
desde o início, eles fizeram uma
série de exigências de segurança, e nós fomos atendendo a todas. Quando houve manifestações da promotora [Mariza Tucunduva, que solicitou o fechamento do museu], eles pediram
novas informações, que o museu está dando e vai continuar a
dar. Mas neste momento não
temos nenhum cancelamento
de exposição.
FOLHA - Em algum momento pensou em abandonar o cargo?
COELHO - Não pensei em deixar
o cargo. Eu vim para cá com a
idéia de que poderia contribuir
para um reposicionamento do
museu. Continuo achando que
posso fazer essa tarefa. Não me
refiro a essas questões de segurança. Os pontos falhos de vigilância do museu foram corrigidos. O grande problema do museu, no meu ponto de vista, é a
obtenção de recursos de forma
constante para que ele se mantenha. É isso que estou tentando construir também.
No final do ano passado, o
Masp conseguiu depois de dois
anos, e não por responsabilidade dele, aprovação do projeto
anual de manutenção na Lei
Rouanet. O projeto tinha sido
apresentado em 2005, portanto nove meses antes de eu assumir, e ficou perdido no MinC.
Assim que foi aprovado, patrocinadores se apresentaram e
já deram dinheiro. Apoio da iniciativa privada está aparecendo
e há a possibilidade de financiamento de exposições. Por outro
lado, não vim aqui para ficar
dez anos, vim para fazer trabalho de organização, de conversa
e de redefinição do museu, trazer um pouco da experiência
que tive com o MAC.
FOLHA - Como era a situação do
MAC quando o sr. assumiu?
COELHO - É um pouco desagradável comentar essas coisas.
Mas o MAC estava desde a criação sem ar-condicionado, sem
sistema de segurança contra incêndio ou contra furto, fechado
por uma porta de vidro com
uma corrente passada ao redor
do trinco. No verão, você não
podia entrar dentro do MAC.
Fizemos a reforma, o museu ficou com ar-condicionado, sistema de proteção às obras e
contra incêndio e uma nova reserva técnica. Isso foi possível
de se fazer em quatro anos, em
um ano não é. O recurso para
fazer a reforma do MAC foi dado a mim, e eu fui o responsável
de prestar contas à Fapesp
[Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo]
de todos os tostões gastos.
Agora, está surgindo essa
idéia de o Masp ser estatizado e
eu não creio de maneira nenhuma que o Estado seja o melhor
patrão em termos de arte e cultura. Por que eu digo isso? Porque a reforma feita no MAC
não foi paga pela universidade.
Claro que os recursos da Fapesp são públicos, mas o Estado
nunca conseguiu colocar ar-condicionado lá. O Estado, a
iniciativa privada e a sociedade
civil têm que conversar, como
acontece nos EUA, para ver como é possível manter o museu.
FOLHA - Em entrevista à Ilustrada,
publicada na edição de anteontem,
Paulo Herkenhoff afirma que a direção do museu é "impermeável". Como trazer a sociedade civil e o Estado para a instituição?
COELHO - É uma questão complicada. Primeiro, é um museu
privado. Segundo, boa parte da
coleção é declarada de interesse público. O museu não é o
possuidor dessas obras, é o gerenciador em nome de uma
idéia cultural nacional.
Houve neste ano algumas
aproximações, tentativas de
conversas, mas elas não foram
em frente. Não faço parte da direção do museu, minha função
é cultural. O que posso fazer em
relação a isso? Conversar com a
administração para indicar
quais são as vias possíveis. Agora, os termos de um acordo
concreto é algo que tem que ser
discutido entre as partes interessadas. Não sei se está havendo diálogo suficiente. Quando
se tem mais de um para se sentar à mesa, é preciso que cada
um faça sua proposta, não sei se
essas propostas estão saindo de
todos os interessados.
FOLHA - Herkenhoff disse ainda
que o problema financeiro do museu poderia ser resolvido com "um
jantar na Fiesp". Em sua opinião, por
que o museu, que tem entre seus sócios grandes empresas e pessoas
abastadas, não consegue fundos?
COELHO - Por que você não faz
essa pergunta para essas pessoas? Faça essa pergunta para
as pessoas do conselho do
Masp. Quando aceitei vir para
cá, me trouxeram ao museu,
me contaram o que havia sido
feito, uma reforma que custou
R$ 20 milhões, dos quais a prefeitura entrou com R$ 1 milhão
e o museu levantou, junto à iniciativa privada, R$ 19 milhões.
Para mim, foi um sinal da capacidade mobilizadora dessa
administração para buscar recursos, o que no Brasil é muito
difícil, cada dia mais difícil. Há
um lado perverso das leis de incentivo fiscal, das quais sou um
convicto defensor. Os grandes
bancos e as grandes empresas
começaram a canalizar recursos para suas próprias instituições culturais. Os recursos para
museus diminuíram enormemente. Além disso, não existe
no Brasil nem a sombra da
consciência que há nos EUA de
que cada um de nós deve
apoiar. Não é esta direção que é
incapaz ou que não quer levantar dinheiro, não é só também a
iniciativa privada e as pessoas
mais abastadas que não querem contribuir. É um conjunto
de fatores. Financiamento de
museu é como acidente de
avião, uma somatória de fatos.
Não é porque soltou um parafuso que o avião caiu; a pista estava molhada, congestionada...
E você não resolve o problema do Masp em uma noite na
Fiesp. Quando estava no MAC,
eu tentei, mas não sai dinheiro.
Um jantar na Fiesp não resolveu o problema do MAC.
Dizem que, quando o presidente do Masp for outro, o problema vai se resolver, mas não é
a mudança de uma pessoa que
resolve a situação. Estão argumentando "ad hominem", sobre uma pessoa. Nós temos que
discutir o sistema. Qual deve
ser a gestão de um museu como
este, que é um museu privado?
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