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Comida
Babette à chinesa
A uma semana do Ano Novo chinês, a Folha foi conferir como é um banquete chinês, que pode ter iguarias como a sopa de ninho de andorinha
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para começar, águas-vivas,
ovos de mil anos, peixe defumado, saborosas natas de soja,
nozes açucaradas, línguas e
moela de pato. Tudo frio -e isso ainda é só um aquecimento.
Uma fumegante tigela com
sopa de barbatana de tubarão
chega à mesa. Ao lado, um
"steamer" de bambu mantém
aquecidas as panquecas que envolverão o pato laqueado. Entram uma lagosta e um peixe.
Num piscar de olhos, não há
mais vazios na mesa. É difícil
conceber, mas ainda faltam um
joelho de porco supercheiroso,
um abalone (molusco caríssimo) e outro "steamer" com
siao-lun-baos (macios pãezinhos recheados com porco)
bem-arrumados sobre fatias de
cenoura. Ao final, uma sopa de
ninho de andorinha ligeiramente quente e adocicada.
Doze pratos em uma refeição? Nem sempre. Num banquete chinês eles podem chegar a 18. Ou mais. E, se a ocasião
for o Ano Novo chinês, com início na próxima quinta, haverá
ainda jiau-zi (guioza) e arroz.
A máxima é comer bem, não
em excesso, e de maneira variada. Provar bocados de tudo, como se estivesse beliscando, e
compartilhar cada prato com
quem estiver à mesa -aquela
redonda, com o indispensável
centro giratório. Não há pratos
individuais, por assim dizer.
Pinça-se o pedaço desejado,
que vai diretamente à boca ou a
um pequeno prato ou potinho
de apoio.
"Banquete é uma tradição
chinesa. Não é algo cotidiano, e
sim reservado para momentos
especiais", diz Liu Xiyuan, responsável pelo setor de cultura
do consulado chinês em São
Paulo. "É uma mostra da boa
qualidade de vida da família."
A ocasião exige, de fato, condições financeiras. Na China,
um banquete requintado, com
iguarias raras, pode chegar a
US$ 10 mil (quase R$ 18 mil).
Em São Paulo, o China Lake,
onde as fotos desta página foram feitas, cobra de R$ 1.500 a
R$ 3.000 por uma refeição para
dez a doze pessoas. É preciso
fazer reserva um dia antes (tel.
0/xx/11/5524-7921).
"Comer bem faz parte da cultura chinesa. E a comida é muito diversificada", diz Paul Liu,
57, presidente-executivo da
Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico.
Chinês de Qingdao e há 48
anos no Brasil, Liu ajudou a reportagem da Folha a se familiarizar com o ritual do banquete. "No passado, as famílias
preparavam as comidas do Ano
Novo. Hoje, ninguém quer ter o
trabalho de fazer o banquete
em casa. Os restaurantes têm
um cardápio pronto. É uma semana de comer e beber."
Ninho de andorinha
À maneira das refeições ocidentais, os pratos frios iniciam
o banquete. Variam de quatro a
oito opções servidas de uma só
vez. O que soa mais improvável
é comer peixe ou frango à temperatura ambiente. A seguir,
vêm de seis a oito pratos quentes. Se uma sopa especial será
servida (como a de ninho de andorinha), cabe à ela dar início a
esta etapa -quem a encerra é
um peixe, que pode ser seguido
por fruta e alguma sobremesa.
O ninho, aliás, merece um capítulo à parte. Trata-se de um
delicado emaranhado de fios
construídos pelo pássaro com
sua própria saliva (100 g podem
custar até US$ 1.000, cerca de
R$ 1.800). Quase sem sabor, é
cobiçado graças à crença de que
faz bem à saúde. "Dizem que
quem come ninho diariamente
vive mais e melhor", diz Liu.
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