São Paulo, segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

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Curador de festival de quadrinhos mira universo jovem

ENVIADO ESPECIAL A ANGOULÊME (FRANÇA)

O anel de caveira na mão esquerda do quadrinista francês Hervé Barulea, 63, é a primeira informação que ele deixa registrada quando passa entre as multidões que visitam Angoulême no festival internacional de quadrinhos.
Depois, vem o cabelo penteado para cima. Então, a postura jovem, marca registrada de seu trabalho, focado no cotidiano adolescente e transpirando rebeldia.
Baru é o curador da edição deste ano do festival, privilégio adquirido quando recebeu, em 2010, o principal prêmio do evento por sua contribuição aos quadrinhos franco-belgas.
Desde que publicou seu primeiro álbum ("Quéqette Blues", no início da década de 80), Baru está preocupado em entender e representar o universo dos jovens da classe operária -da qual ele próprio veio. Os quadrinhos são permeados por sua própria experiência de vida.
"Um adulto que entende sua vida é aquele que não se esqueceu de sua adolescência", afirma, em entrevista à Folha.
Os jovens dos gibis de Baru estão, como ele explica, presos a um círculo fechado, do qual tentam escapar, sem êxito. Mas ele próprio é um exemplo de fuga.
"Eu sabia que ia conseguir sair", afirma. E aponta que tomou um caminho "estreito", "para poucos" e "com poucas chances de sucesso": os estudos.
Baru conseguiu se tornar um artista de êxito aos 35 anos, após trabalhar como professor no ensino fundamental. Ao mesmo tempo, ele ainda se sente preso à vida que deixou para trás.
"Eu me vejo como um traidor, por ter estudado e escapado do destino de me tornar um operário", diz. "Por isso, sempre volto a esse período em meu trabalho."
A curadoria de Baru deu ares de rock'n'roll a Angoulême neste ano. A programação de palestras e dedicatórias foi recheada com shows. Ele próprio subiu ao palco.
Baru também organizou uma exposição de desenhos inspirados em clássicos do rock, com contribuição de artistas de renome. "Os adultos têm as ferramentas para aplicar a energia que tinham quando jovens", diz. "Dou vazão à minha indignação por meio da arte." (DB)


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