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Na bossa nova globalizada
Divulgação
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Bruno Barreto dirige sua mulher Amy Irving, que interpreta miss Simpson, durante as filmagens |
Novo filme de Bruno Barreto estréia hoje misturando idiomas em um Rio idealizado
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CYNARA MENEZES
especial para a Folha
A mulher de Bruno Barreto, a
atriz norte-americana Amy Irving, não carrega a ilusão de que
"Bossa Nova", 14º filme do diretor, possa concorrer ao Oscar de
melhor filme estrangeiro, como
aconteceu com "O Que É Isso,
Companheiro?" em 1998.
"Esse filme é uma comédia romântica, você precisa de um velho, um menino, para isso", ironizou -referência explícita a filmes
outrora indicados, como "Cinema Paradiso", "A Vida É Bela" ou
o brasileiro "Central do Brasil".
Amy Irving, que fala português
razoavelmente e diz ser fã do escritor gaúcho (colunista da Folha) Moacyr Scliar, é a protagonista de "Bossa Nova", um filme
"sobre um Rio idealizado e sobre
o desaparecimento da elegância",
segundo Bruno Barreto.
Inspirado no conto "Miss Simpson", de Sérgio Sant'Anna, conta
a história de uma norte-americana solitária, professora de inglês,
que se apaixona por Pedro Paulo
(Antonio Fagundes), carioca quarentão, com a paisagem carioca e
muita bossa nova de pano de fundo.
"Tirei do conto a situação básica, mas foram as letras de "Inútil
Paisagem" e "Vou te Contar (Wave)" que me deram o subtexto do
filme", disse Barreto.
"Dos personagens, só miss
Simpson, Pedro Paulo e o jogador
existiam no conto."
O jogador Acácio (Alexandre
Borges), vendido a um time inglês, parece funcionar como uma
pequena ironia dentro da elegia,
quase ode, à cidade onde vale
mais em que nenhuma outra o velho clichê sobre o Brasil: mulata,
Carnaval e futebol. Acácio é o perfeito craque encrenqueiro.
Seria Romário? Bruno Barreto
desconversa. "Não, não pensei
nele, talvez o Edmundo", disse.
Ao lado, a mãe e produtora,
Lucy Barreto, diz que achou o cabelo "bem parecido" com o do jogador do Vasco -no filme é do
Flamengo, mas Romário estava
no time rubro-negro quando o filme foi rodado.
Acácio aprende inglês em uma
produção globalizada: além das
cenas com miss Simpson, legendadas, há cenas inteiramente em
português (por sugestão de Fagundes, a própria professora fala
português, com sotaque) e algumas em espanhol, protagonizadas pelo ator argentino Alberto de
Mendoza, que vive um alfaiate,
pai do advogado Pedro Paulo.
Bruno Barreto diz que não o fez
pensando atingir também o público que fala espanhol. "Ele não é
manipulador", interfere Amy Irving. "Se fala espanhol, é por uma
razão específica: os alfaiates do
Brasil vinham da Argentina ou da
Espanha, como em Nova York
são todos sicilianos", diz Bruno.
Juan, o alfaiate do filme, foi inspirado em um real, argentino, pai
do cineasta Hector Babenco. No
interior da alfaiataria se passam
alguns dos momentos mais poéticos da história, sem interferência
da paisagem: ali se corta, se "ouve" o tecido para que dê um bonito traje, ali os homens da película
conversam profundamente entre
goles de uísque. É a "elegância" de
que fala Barreto.
"Não quis jeans e camisetas.
Queria de volta aquela elegância
que desapareceu", diz.
O diretor se empenhou pessoalmente para que o figurino seguisse à risca o que desejava: até os
maiôs de miss Simpson, um deles
estampado com as ondas do calçadão de Copacabana, foram
imaginados por ele.
A alfaiataria nunca existiu
-tampouco a cidade que pinta
Bruno Barreto, "livre dos prédios
que vieram com a especulação
imobiliária", segundo diz.
"Limpei, tentei editar o Rio com
a câmera. É um Rio idealizado,
que existe dependendo de como
você o vê."
O roteiro da escritora Fernanda
Young e do publicitário Alexandre Machado, com seus diálogos
divertidos à moda do TV Pirata,
contribui para a visão maravilhada da Cidade Maravilhosa que o
filme dá.
O próximo projeto de Bruno
Barreto é no teatro: ele pretende
montar no Brasil "The Blue
Room" (estrelado na Broadway,
com estardalhaço, por uma pelada Nicole Kidman), peça dirigida
por Sam Mendes, o mesmo de
"Beleza Americana", filme favorito do brasileiro e da Academia do
Oscar nesta temporada .
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