São Paulo, sexta-feira, 31 de março de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Na bossa nova globalizada

Divulgação
Bruno Barreto dirige sua mulher Amy Irving, que interpreta miss Simpson, durante as filmagens



Novo filme de Bruno Barreto estréia hoje misturando idiomas em um Rio idealizado


CYNARA MENEZES
especial para a Folha


A mulher de Bruno Barreto, a atriz norte-americana Amy Irving, não carrega a ilusão de que "Bossa Nova", 14º filme do diretor, possa concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro, como aconteceu com "O Que É Isso, Companheiro?" em 1998.
"Esse filme é uma comédia romântica, você precisa de um velho, um menino, para isso", ironizou -referência explícita a filmes outrora indicados, como "Cinema Paradiso", "A Vida É Bela" ou o brasileiro "Central do Brasil".
Amy Irving, que fala português razoavelmente e diz ser fã do escritor gaúcho (colunista da Folha) Moacyr Scliar, é a protagonista de "Bossa Nova", um filme "sobre um Rio idealizado e sobre o desaparecimento da elegância", segundo Bruno Barreto.
Inspirado no conto "Miss Simpson", de Sérgio Sant'Anna, conta a história de uma norte-americana solitária, professora de inglês, que se apaixona por Pedro Paulo (Antonio Fagundes), carioca quarentão, com a paisagem carioca e muita bossa nova de pano de fundo.
"Tirei do conto a situação básica, mas foram as letras de "Inútil Paisagem" e "Vou te Contar (Wave)" que me deram o subtexto do filme", disse Barreto.
"Dos personagens, só miss Simpson, Pedro Paulo e o jogador existiam no conto."
O jogador Acácio (Alexandre Borges), vendido a um time inglês, parece funcionar como uma pequena ironia dentro da elegia, quase ode, à cidade onde vale mais em que nenhuma outra o velho clichê sobre o Brasil: mulata, Carnaval e futebol. Acácio é o perfeito craque encrenqueiro.
Seria Romário? Bruno Barreto desconversa. "Não, não pensei nele, talvez o Edmundo", disse.
Ao lado, a mãe e produtora, Lucy Barreto, diz que achou o cabelo "bem parecido" com o do jogador do Vasco -no filme é do Flamengo, mas Romário estava no time rubro-negro quando o filme foi rodado.
Acácio aprende inglês em uma produção globalizada: além das cenas com miss Simpson, legendadas, há cenas inteiramente em português (por sugestão de Fagundes, a própria professora fala português, com sotaque) e algumas em espanhol, protagonizadas pelo ator argentino Alberto de Mendoza, que vive um alfaiate, pai do advogado Pedro Paulo.
Bruno Barreto diz que não o fez pensando atingir também o público que fala espanhol. "Ele não é manipulador", interfere Amy Irving. "Se fala espanhol, é por uma razão específica: os alfaiates do Brasil vinham da Argentina ou da Espanha, como em Nova York são todos sicilianos", diz Bruno.
Juan, o alfaiate do filme, foi inspirado em um real, argentino, pai do cineasta Hector Babenco. No interior da alfaiataria se passam alguns dos momentos mais poéticos da história, sem interferência da paisagem: ali se corta, se "ouve" o tecido para que dê um bonito traje, ali os homens da película conversam profundamente entre goles de uísque. É a "elegância" de que fala Barreto.
"Não quis jeans e camisetas. Queria de volta aquela elegância que desapareceu", diz.
O diretor se empenhou pessoalmente para que o figurino seguisse à risca o que desejava: até os maiôs de miss Simpson, um deles estampado com as ondas do calçadão de Copacabana, foram imaginados por ele.
A alfaiataria nunca existiu -tampouco a cidade que pinta Bruno Barreto, "livre dos prédios que vieram com a especulação imobiliária", segundo diz.
"Limpei, tentei editar o Rio com a câmera. É um Rio idealizado, que existe dependendo de como você o vê."
O roteiro da escritora Fernanda Young e do publicitário Alexandre Machado, com seus diálogos divertidos à moda do TV Pirata, contribui para a visão maravilhada da Cidade Maravilhosa que o filme dá.
O próximo projeto de Bruno Barreto é no teatro: ele pretende montar no Brasil "The Blue Room" (estrelado na Broadway, com estardalhaço, por uma pelada Nicole Kidman), peça dirigida por Sam Mendes, o mesmo de "Beleza Americana", filme favorito do brasileiro e da Academia do Oscar nesta temporada .


Texto Anterior: Mundo Gourmet - Josimar Melo: Churrascaria evoca o sul
Próximo Texto: Cenário é plataforma utópica
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.