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ÚLTIMA MODA
Francisco Costa concorre ao Oscar da moda
O designer da Calvin Klein
é o primeiro brasileiro a ser indicado para prêmio do Conselho de Estilistas dos EUA
O estilista Francisco Costa, diretor de criação da Calvin
Klein, foi indicado na terça-feira para os prêmios anuais
do Council of Fashion Designers
of America (conselho de estilistas
dos EUA). Ele é o primeiro brasileiro a ser selecionado para a premiação -uma espécie de Oscar
da moda americana. Costa, 40,
concorre na categoria melhor coleção feminina, ao lado de Marc
Jacobs e dos designers Lazaro
Hernandez e Jack McCollough,
da grife Proenza Schouler. O vencedor será conhecido em junho.
Mineiro de Guarani, Francisco
Costa mudou-se para os Estados
Unidos no início da década de 90.
Estudou moda e trabalhou com
Oscar de la Renta, Pierre Balmain
e Tom Ford (na Gucci). Em 2003,
foi contratado por Calvin Klein,
que o indicou como seu substituto ao vender a grife.
A indicação da CFDA consagra
o estilista brasileiro nos EUA. "Fiquei muito feliz, ainda mais que
estou há apenas quatro anos na
Calvin Klein", disse ele à Folha,
por telefone. Na entrevista a seguir, Costa afirma que a moda "fica mais real quando parte da necessidade das pessoas" e sugere
aos estilistas brasileiros apostarem mais numa simplicidade elegante e sem vulgaridade.
Folha - Como você concilia a sua
criação com o estilo esportivo tradicional da Calvin Klein?
Francisco Costa -
Eu tento fazer
uma aproximação moderna, nova, irreverente do
espírito da marca.
Mas ainda não fui
totalmente bem-sucedido. Minha
primeira coleção
foi algo mais soft.
Na segunda, tentei fazer uma coisa mais Calvin e
fui criticado
imensamente.
Acho que as pessoas querem que
você encontre o
seu próprio caminho e desenvolva
um espírito novo
para qualquer casa onde trabalhe.
Folha - Qual a
principal contribuição de Calvin
Klein à moda?
Costa - O atemporal, aquela roupa de qualidade
que se pode vestir
sempre. Eu gosto
de olhar a moda desse jeito. Vestir
a roupa que está muito "na moda" realmente fica meio cafona.
Acho "fashion victims" um saco.
Folha - A alfaiataria foi importante na sua coleção de inverno, não?
Costa - Sim, grande parte da coleção, fora os vestidos, foi composta por blazers e calças.
Folha - Você não acha que a temporada de inverno foi marcada, sobretudo na Europa, por um toque
masculino nas coleções femininas?
Costa - Acho que sim. É uma
tendência, porque passamos por
dez anos de Prada, daquela linha
que é uma coisa linda, muito feminina, mas cujo look ficou muito fácil de as pessoas entenderem
e copiarem. O momento agora é
de alguma coisa nova, mais forte,
com uma certa base masculina.
Folha - O estilo de feminilidade
criado pela Prada já passou?
Costa - Sim.
Folha - A própria Prada mostrou
uma coleção um tanto indecisa
nesta temporada, você concorda?
Costa - Totalmente.
Folha - Para você, que já trabalhou com Oscar de la Renta e Pierre
Balmain, qual é a diferença entre a
moda americana e a européia?
Costa - Acho que a moda americana é mais fácil, pelo fato de ser
menos elaborada. Isso ocorreu
desde o início. Claire McCardell
[1905-1958, considerada a primeira grande estilista americana] ia à
Europa e recriava tudo da maneira mais simples possível, em tecidos mais baratos. Por quê? Porque era roupa para vender em supermercados e lojas de departamento. Agora, do ponto de vista
estético, a moda americana é totalmente européia.
Folha - Esteticamente, a moda
americana não tem uma personalidade própria?
Costa - A mulher americana
tem. A moda na Europa é muito
mais um "look" [imagem]. Aqui é
sobretudo um "lifestyle" [estilo de
vida]. Mas, curiosamente, foi
Chanel quem criou a idéia de lifestyle e sportswear, porque precisava de jérsei, que era mais barato no final da guerra, porque ela
viajava muito para Biarritz... Ela
buscou o que estava precisando e,
coincidentemente, o mercado estava precisando também. Calvin
Klein e Ralph Lauren foram inspirados por Chanel. Acho que a moda fica mais real quando parte da
necessidade das pessoas. As modas francesa e inglesa são laboratórios. São roupas muito pensadas, menos espontâneas.
Folha - Você também trabalhou
com Tom Ford, conhecido por imprimir um estilo supersexy à moda.
Esse estilo ainda tem valor?
Costa - Acho que sim, pois,
quanto mais segura é a mulher,
mais liberdade
ela tem de se expressar. Mas, depois que Tom
saiu da Gucci, tudo ficou muito
chato por lá.
Folha - O sexy à
la Tom Ford ainda
tem importância?
Costa - Ainda
vale a essência,
mas não a mesma
forma. Ele chegou a um limite.
Quando você
olha aquilo hoje,
vê que ficou uma
coisa vulgar. Hoje
a mulher é um
pouco mais discreta, mas sem
ser chata e conservando a sua
espontaneidade.
Folha - O que falta à moda feita no
Brasil?
Costa - Ela está
bem forte, hoje. O
que falta a ela é se
posicionar melhor no mercado
global, com mais vigor. Acho
também que os estilistas têm que
olhar mais para o país. Às vezes
folheio umas revistas do Brasil e
vejo uns tecidos tão pesados...
Não é confortável para o nosso
clima. Por outro lado, não é o caso
de limitar a criação, pois é preciso
competir internacionalmente.
Folha - Se você fosse fazer moda
no Brasil, em que apostaria?
Costa - Acho que voltaria a uma
simplicidade que existiu no Brasil
nos anos 70. Seria muito interessante. Me lembro muito de fotos
de mulheres fantásticas, como a
Maísa, que tinha uma presença
fortíssima e usava roupas muito
simples e básicas. Eu apostaria
mais nisso, nesta simplicidade
forte, nos tecidos que são realmente para o nosso clima, leves e
fáceis, e nas cores, pois é muito
gostoso usar cores em países tropicais. Acho que o mercado mundial espera isso do Brasil, além de
uma sensualidade discreta. As
brasileiras são versáteis e criativas
no modo de vestir -e são até
bem seguras. Só acho que às vezes
elas se expõem demais. Muita
barriga de fora não fica elegante.
Barbudos voltam à publicidade fashion
Durante longo tempo banidos
das publicidades de moda, os
barbudos estão voltando com
força aos anúncios das grifes. A
Ralph Lauren saiu na frente,
mostrando rapazes que lembram rockeiros dos anos 60/70,
como Eric Clapton. Barbas já
aparecem também em publicidades da L'Oréal e da Calvin
Klein. Não se trata mais daquelas barbichas por fazer, miúdas
e juvenis, mas de camadas mais
volumosas de pêlos. No Brasil, a
onda existe há algum tempo -é
marca registrada de Los Hermanos-, mas impera mais na política que na publicidade.
Nos Estados Unidos, a tendência já está nas ruas, no mundo da música (com as barbas
neo-hippies de Devendra Banhart e sua turma) e vai sendo
difundida, em variados estilos,
por atores como Gael García
Bernal, Heath Ledger, de "Brokeback Mountain", e Hugo
Weaving, de "V de Vingança", o
novo filme cult dos irmãos Wachowski. Um dos ícones no cinema é o personagem de George Clooney em "Syriana". A onda da barba entre os atores e em
círculos moderninhos nos EUA
levou o "New York Times" a dedicar ao assunto um artigo de
capa do caderno "Styles" (23/3).
Com o fim do metrossexual e
a crise da imagem "baby face"
(homem com jeito de garotão),
a barba se tornou o melhor adereço da nova masculinidade
-mais madura e confiante-,
transmitindo de quebra um ar
de nobreza e inconformismo.
NAKAO ENTRA PARA A HISTÓRIA
O estilista brasileiro
Jum Nakao é o único
latino-americano
convidado a participar da
exposição "Showtime" no
Palácio Galliera - Museu
da Moda de Paris. A
exposição faz um
apanhado da história da
moda para tentar
entender a sua força atual,
com looks memoráveis de
Chanel, Dior, Courrèges,
Miyake, Gaultier, entre
outros. Nakao
reconstruiu em Paris um
dos vestidos de papel de
seu famoso desfile de
2004, quando as
modelos ao final
rasgaram todas as roupas.
ITEM DE COLEÇÃO
Karl Lagerfeld é o editor
convidado da edição de abril
da "Elle" inglesa. O estilista
alemão da Chanel, que é
também fotógrafo, clicou a
cantora pop Christina Aguilera para a capa da revista, a
modelo Lily Cole num
editorial feito nas ruas de Paris e a atriz Selma Blair. A revista traz também uma interessante entrevista com Lagerfeld feita pelo estilista inglês Giles Deacon. O alemão
conta que Kate Moss fará a
nova campanha da Chanel e
se define assim: "Eu sou uma
pessoa superficial -muito
informada, mas superficial.
E eu trabalho muito para
continuar superficial!".
ALCINO LEITE, com Viviane Whiteman - ultima.moda@folha.com.br
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