São Paulo, quinta-feira, 31 de março de 2011

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20º FESTIVAL DE CURITIBA

CRÍTICA TEATRO

Espetáculo de rua enxerta comédia em obra de Shakespeare

A peça "Sua Incelença, Ricardo 3º", do grupo Clowns de Shakespeare, leva a trama do autor para o Nordeste


OS FIGURINOS MISTURAM REFERÊNCIAS DO CANGAÇO COM SOFISTICAÇÃO E SINGELEZA


CHRISTIANE RIERA
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA

Como sugere o título, não há purismos em "Sua Incelença, Ricardo 3º", adaptação de William Shakespeare pelo grupo Clowns de Shakespeare, que abriu o Festival de Curitiba com um espetáculo de rua anteontem.
Desde sua criação em 1993, a trupe investiga a comicidade na obra do autor.
Traços de apropriação aparecem em trocadilhos como "Muito Barulho por Quase Nada", "Sonhos de Uma Noite Só" e "Megera DoNada", comédias shakespeareanas montadas pelo grupo. Nelas o universo do dramaturgo é transportado para um ambiente nordestino por meio de um diálogo fértil com poetas populares e um clima mais cotidiano.
Neste primeiro mergulho em uma tragédia, contaram com a direção de Gabriel Villela, consagrado por seu "Romeu e Julieta" com o Grupo Galpão, que compartilha da mesma sensibilidade lírica e popularesca.
No cenário de Ronaldo Costa, carroças adereçadas com galhos distorcidos remetem à aridez do sertão, formando pequenos palcos com caráter itinerante.
Os figurinos misturam referências do cangaço com máscaras de palhaço, um sincretismo feito com sofisticação e singeleza, no arremate da costura ao mesmo tempo circense e regionalista. O mesmo ecletismo visual está na composição musical, que harmoniza influências cancioneiras e repentistas com um mundo pop.
Além da abertura com os Beatles, Freddie Mercury é incorporado por César Ferrario em cena divertidíssima. O coro de atores, competentes tanto no domínio da voz como na ardilosa pantomima, desperta aplausos.

FÁBULA
Distante do trágico, a fábula original é mantida. Depois de longa guerra entre as famílias de York e de Lancaster, a Inglaterra passa por um período de paz sob o reinado de Eduardo 4º.
Até que o irmão mais novo dele, Ricardo 3º, amargo por sua deformidade física, decide matar quem o impedir de conquistar o trono.
Interpretado com rigor por Marco França, entra em cena como "porco imundo sanfoneiro". A grande novidade é que todos os personagens são travessos.
Lady Ana, a viúva seduzida, interpretada por Dudu Galvão, adquire pinceladas grotescas com bexigas coloridas no peito. A rainha Elizabeth ganha graça e pulso forte com Titina Medeiros.
A opção por enxertar o cômico no trágico chega ao ápice na cena mais torpe do original, em que o assassinato dos filhos de Clarence é encenado por dois cocos que têm seus canudinhos sufocados.
Neste sentido, a lógica da comédia calcada na subversão é muito bem-sucedida.
Opções cênicas como esta fazem com que Ricardo 3º perca sua vilania, levando junto sua genialidade de sedutor. Ganham os personagens secundários que estão em concordância com um mundo violento.
Com isso, é somente por meio deles que se constrói uma relação de mais complacência com a plateia.

SUA INCELENÇA, RICARDO 3º

AVALIAÇÃO bom


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