|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Gravurista Renina Katz expõe "vísceras"
Mostra reúne obras de fase abstrata; "paisagem é questão de interpretação, porque tenho amigos que vêem ali vísceras"
Artista apresenta 82 trabalhos produzidos a partir dos anos 70 em exposição e cita Goya e Velázquez como influências
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Podiam ser vísceras as clareiras e formações rochosas nas
gravuras de Renina Katz. Depois do realismo social que
marcou sua produção nos anos
50 e 60, a artista, entre as mais
importantes gravuristas brasileiras, mergulhou num período
abstrato, classificado como fase
das paisagens.
São 82 gravuras feitas entre
os anos 70 e hoje, das séries
"Cárceres", "O Vermelho e o
Negro" e "Territórios Imaginários", que estão na mostra aberta ontem pela Caixa Cultural.
"A paisagem é uma questão
de interpretação, porque tenho
amigos que vêem ali vísceras",
diz Katz à Folha. "Dizer que
abandonei o figurativo de caráter social para fazer paisagem é
muito esquemático."
Até a chamada fase abstrata,
rótulo que renega, Katz foi
apontada por críticos e historiadores como discípula da gravurista alemã Kathe Kollwitz,
figura forte do expressionismo
que retratava operários, migrantes e outros excluídos.
"Isso são coisas que as pessoas dizem sem se preocupar
com a realidade", diz Katz, que
vê em sua obra influências de
Goya, Velázquez e até de William Turner. Talvez por reconhecer a pegada do mestre do
paisagismo inglês, ficou fácil ligar essa produção recente à
abstração que revela traços
mais figurativos da paisagem.
E se é que ficou mesmo de lado a fase figurativa, ecos de
Kollwitz, não é menos agressiva a série seguinte. "Cárceres"
são trabalhos em preto e vermelho: sobre as paisagens ou
vísceras, surgem grades geométricas. "Usei só duas cores
para que não fosse uma ilustração; queria o impacto da liberdade e da ausência dela."
Ela garante que "O Vermelho
e o Negro" é só homenagem ao
livro de Stendhal, que não havia, além da escolha cromática,
um eixo temático para as obras.
"Não quero ilustrar uma idéia,
quero fazer gravura."
Com as provas expostas ao
lado da gravura final, a mostra
apresenta de forma didática a
técnica da artista, tanto na litografia, desenho sobre pedra,
quanto na gravura sobre metal.
Junto de Maria Bonomi e
Anna Letycia, Katz pode dar à
gravura um ar feminino, mas
lembra o contrário. "A gravura
é bruta, você mexe com ácido,
fica com a mão cheia de calos."
Ela deixa claro que a delicadeza, como as montanhas, clareiras e vísceras, está nos olhos
de quem vê. Na técnica, acredita que "não faz feio".
RENINA KATZ
Quando: de ter. a dom., das 9h às
21h; até 6/7
Onde: Caixa Cultural (pça. da Sé,
111, tel. 0/xx/11/3321-4400)
Quanto: entrada franca
Texto Anterior: Mostra no CCBB-SP vai até amanhã Próximo Texto: Frase Índice
|