São Paulo, sábado, 31 de maio de 2008

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Gravurista Renina Katz expõe "vísceras"

Mostra reúne obras de fase abstrata; "paisagem é questão de interpretação, porque tenho amigos que vêem ali vísceras"

Artista apresenta 82 trabalhos produzidos a partir dos anos 70 em exposição e cita Goya e Velázquez como influências


SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Podiam ser vísceras as clareiras e formações rochosas nas gravuras de Renina Katz. Depois do realismo social que marcou sua produção nos anos 50 e 60, a artista, entre as mais importantes gravuristas brasileiras, mergulhou num período abstrato, classificado como fase das paisagens.
São 82 gravuras feitas entre os anos 70 e hoje, das séries "Cárceres", "O Vermelho e o Negro" e "Territórios Imaginários", que estão na mostra aberta ontem pela Caixa Cultural.
"A paisagem é uma questão de interpretação, porque tenho amigos que vêem ali vísceras", diz Katz à Folha. "Dizer que abandonei o figurativo de caráter social para fazer paisagem é muito esquemático."
Até a chamada fase abstrata, rótulo que renega, Katz foi apontada por críticos e historiadores como discípula da gravurista alemã Kathe Kollwitz, figura forte do expressionismo que retratava operários, migrantes e outros excluídos.
"Isso são coisas que as pessoas dizem sem se preocupar com a realidade", diz Katz, que vê em sua obra influências de Goya, Velázquez e até de William Turner. Talvez por reconhecer a pegada do mestre do paisagismo inglês, ficou fácil ligar essa produção recente à abstração que revela traços mais figurativos da paisagem.
E se é que ficou mesmo de lado a fase figurativa, ecos de Kollwitz, não é menos agressiva a série seguinte. "Cárceres" são trabalhos em preto e vermelho: sobre as paisagens ou vísceras, surgem grades geométricas. "Usei só duas cores para que não fosse uma ilustração; queria o impacto da liberdade e da ausência dela."
Ela garante que "O Vermelho e o Negro" é só homenagem ao livro de Stendhal, que não havia, além da escolha cromática, um eixo temático para as obras. "Não quero ilustrar uma idéia, quero fazer gravura."
Com as provas expostas ao lado da gravura final, a mostra apresenta de forma didática a técnica da artista, tanto na litografia, desenho sobre pedra, quanto na gravura sobre metal.
Junto de Maria Bonomi e Anna Letycia, Katz pode dar à gravura um ar feminino, mas lembra o contrário. "A gravura é bruta, você mexe com ácido, fica com a mão cheia de calos." Ela deixa claro que a delicadeza, como as montanhas, clareiras e vísceras, está nos olhos de quem vê. Na técnica, acredita que "não faz feio".


RENINA KATZ
Quando: de ter. a dom., das 9h às 21h; até 6/7
Onde: Caixa Cultural (pça. da Sé, 111, tel. 0/xx/11/3321-4400)
Quanto: entrada franca



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