São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

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Mônica Bergamo

bergamo@folhasp.com.br

Mantenha o respeito

O ator Marcello Antony diz que não faz comercial em novela para preservar seu "star quality" e que discutiria maconha se a sociedade não fosse tão "preconceituosa"

Fotos Marlene Bergamo/Folha Imagem
No camarim de marcello, fotos dos filhos
dividem o espelho com o bilhete da mulher,
Mônica, que assina como "Moranga"


"Marcello Antony, para mim, é como um sonho de consumo", diz a professora Naira Rodrigues, 39, uma das deficientes visuais que acompanharam a peça "Vestido de Noiva", com Marcello, no último dia 22.

 

No camarim, as colegas de elenco concordam. "Ele é o sonho de consumo de toda mulher. É inacreditável de bonito, talentoso, apetitoso e o resto não vou nem dizer...", arrisca Vera Zimmermann. "Ele é tão bonito que não precisa nem ver", diz Maria do Carmo Soares. "Marcello, separa o cheque [pelos elogios]!", grita Vera.

 

O ator, que fez fama em novelas da Globo, decidiu dedicar um ano ao teatro e vive o malandro Pedro na peça de Nelson Rodrigues, dirigida na atual montagem por Gabriel Villela, no teatro Vivo, em SP.

 

Aos 44 anos, 1,90 m, disse certa vez que "você é mais bonito pessoalmente" é a frase que esperava ouvir um dia de Deus. "Não é que eu me ache. Falei porque essa frase é recorrente, eu sempre escuto das pessoas", diz, no café de uma livraria nos Jardins, em SP, onde uma fã faz a mesma observação.

 

Marcello fez uma carreira tardia. Virou ator depois dos 30. Antes foi office-boy, garçom, vendedor e fez até mapa astral. Hoje, depois de 11 novelas, tem uma relação "muito sólida" com a Globo e, enquanto toma seu cappuccino, não quer nem comentar a possibilidade de ir para outro canal -como fez Mônica Torres, sua mulher há 12 anos, que hoje trabalha na TV Record.
"Eu sou muito ético. Como a maré da superficialidade, o esgoto da superficialidade é muito grande, qualquer declaração entra nesse esgoto e toma uma dimensão que foge do meu controle... Me dá uma preguiça!"

 

"Quando eu disse que ia fazer uma caminhada no Himalaia, já saiu [na imprensa] que eu estava chegando ao cume do Everest [esconde o rosto com as mãos]. Dá uma preguiça!"

 

Zeloso da imagem, Marcello conta que não participa de propaganda dentro de novela. "Para um veículo com a penetração que tem, o que se paga pra merchandising é ínfimo. Não gosto de me associar a nada só por "make money" [fazer dinheiro]. "Make money" é muito importante, mas [escolher] é um "star quality" [qualidade de estrela]. Gosto de me valorizar."

 

O "money" já foi mais importante. Marcello conta que, quando era mais novo, era "duro", não namorava. "Ficava com uma e outra", porque não tinha dinheiro para levar as garotas para sair. No casamento, diz, não há ciúme do assédio. "A Mônica foi casada por 13 anos com o José Wilker, no auge do Wilker na televisão. Não preciso nem responder..."

 

O casal tentou ter filhos e passou por cinco abortos por uma incompatibilidade sanguínea. Decidiram adotar e hoje têm Francisco, 6, e Stéphanie, 9. Tentaram adotar outra menina, mas os pais biológicos desistiram do processo. "Foram para aqueles programas de TV sensacionalistas. Virou um circo. Cinco dias depois, a gente devolveu ela", diz o ator. "Há quatro meses, me ligaram para dizer que ela está mendigando em Santa Cruz [bairro do Rio], está na rua."

 

Para o ator, seus filhos se parecem entre eles e com os pais. "Cientificamente, é comprovado que até os seis anos o músculo da face não está formado ainda. Então, ele repete tudo que ele vê. Pega a feição", diz Marcello, que mora com a família no Rio, mas tem um apartamento na alameda Franca.

 

Na porta do prédio, diz: "Posso pedir a vocês [repórter e fotógrafa] para esperarem aqui enquanto eu pego o carro?" Depois, por brincadeira, narra o que a reportagem poderia escrever: "Ao parar para pegar a gente para ir ao teatro, depois de vetar a entrada das duas, de uma maneira antipática, Antony puxa o cigarro com desdém", brinca o ator, cigarro aceso, a caminho do teatro.

 

E falando em fumar... "Não tenho nada pra falar sobre esse assunto." O "assunto" é o episódio em que Marcello foi preso em flagrante comprando cerca de cem gramas de maconha em Porto Alegre, em 2004. "É um episódio que foi, e as pessoas tirem as conclusões que quiserem tirar. Fiquem à vontade."

 

"Numa coletiva, uma mulher perguntou "A droga atrapalha a sua vida?" Fui um idiota em responder: "O que atrapalha a minha vida é corrupção, hipocrisia, falsidade". E a chamada da matéria foi "As drogas não fazem mal à minha vida'", recorda. "Eu adoraria trocar essa bola com o Brasil. Mas a sociedade não está pronta pra isso. É muito preconceituosa."

 

Já no camarim, a mesa de Marcello tem um espelho com fotos dos filhos e vários bilhetes recebidos na estreia. Um deles diz "Be Brave! Forever Yours [Coragem! Sempre sua]" e é assinado por "Moranga", apelido com que chama a mulher [ele é o "Morango" de Mônica].

 

Marcello liga o iPod na caixa de som, passa blush, lápis no olho, pinta as unhas de preto. Ao chegar, o colega de elenco Cacá Toledo recebe um aviso. "Cacá, muito cuidado com o que você falar. Meça suas palavras." Marcello vai trocar de roupa. Volta com "gel de babosa" no cabelo e sem camisa, expondo a tatuagem com um coração e o nome dos filhos.

 

No som, põe para tocar "Mantenha o Respeito", do grupo pró-maconha Planet Hemp. E ri. "Claro, ele botou um monte de músicas para tocar. Qual vai sair na matéria? "Mantenha o Respeito'", brinca. Um ator acende um incenso. O som toca uma música do The Police.

 

Hora de entrar em cena. Saca então um cachimbo de plástico com uma bolinha para exercícios de respiração. "Isso aqui tá um prato cheio. Pronto, já tem a marica [cachimbo para uso de drogas], D2, The Police, incenso, colírio... Já tem a matéria. Valeu, gente!" Marcello termina de se vestir, sai do camarim e vai ser Pedro no palco.

com ADRIANA KÜCHLER



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