São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

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"A minha vida é uma reinvenção diária"

Aos 61 anos, Rita Lee afirma que lança DVD ao vivo para que a neta possa vê-la e diz detestar quando perguntam quando ela irá se aposentar

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando recebeu a reportagem da Folha em casa para falar sobre seu "Multishow ao Vivo", Rita Lee nem sequer tinha ouvido ou visto os respectivos CD e DVD. Assumiu que não gosta desses registros que faz em público. Nunca os vê depois de prontos.
"Sou do tempo da Elis e da Angela Maria, minha voz não é nada. Numa gravação como essa do DVD, fico muito insegura", confessa. "Prefiro aqueles videozinhos que as pessoas gravam com celular e colocam no You Tube. É muito mais legal, mais quente."
Seu grande barato é entrar em estúdio e, longe do público, fazer experiências. Graças a isso, já tem pronto um número suficiente de canções inéditas para encher um álbum. E diz estar "se coçando" para fazê-lo.
Por que então deixar a novidade de lado e lançar mais um trabalho ao vivo? "Nem sei direito", diz. "Pra registrar, pra minha neta assistir quando eu morrer. São essas coisas que me passam pela cabeça."
Além do disco de inéditas, ela pensa em regravar músicas de cinema numa levada bossa nova, como já fez antes com o repertório dos Beatles. "Adoro as canções dos filmes italianos, dos musicais da Metro, das chanchadas da Atlântica", enumera. "Talvez "roquear" os clássicos da bossa nova também seja uma ideia boa."
Roberto de Carvalho gosta das possibilidades. Suas aptidões como pianista e arranjador sempre foram íntimas dessa estética musical. "Quando ele entrou na minha vida, trouxe uma carioquice que tinha muito a ver com bossa nova", lembra Rita. "Eu fiquei apaixonada. Era um vulcão. A gente fazia música o dia inteiro."
Ele próprio, no entanto, se mostra fascinado com artistas que transgridem seus próprios padrões estéticos. Cita os dois últimos discos de Caetano, voltados ao novo rock, como bons exemplos dessa ousadia. Mas afirma que ele próprio não sabe lidar com ela.
"Quando tenho esse tipo de ansiedade, eu sento e espero passar", diz o músico. "A diversidade de assuntos que o Caetano tem não faz parte da minha personalidade. E eu nem sei se tenho esse talento todo para fazer bem alguma coisa diferente da que eu já faço."

Misoginia?
Assumir as próprias limitações é algo que costuma trazer serenidade -a tal paz de espírito que, segundo Rita Lee, as pessoas só atingem com o avançar da idade. Ainda assim, o casal gosta de fazer a diferenciação: estar sereno não é o mesmo que estar acomodado.
"Uma coisa que me perguntam sempre é quando eu vou me aposentar. Eu detesto porque continuo com o mesmo tesão de antes quando subo no palco", diz Rita. "É gozado: nunca vi perguntarem isso pro Chico Buarque. Será que é misoginia?".
Roberto joga na roda outras palavras que, como "aposentadoria", Rita detesta. Uma delas é "irreverente", adjetivo que corriqueiramente a imprensa cola ao nome da cantora. Outra: "reinvenção". "Não suporto esse termo", ela reclama.
"Isso é bobagem da Madonna, que bota uma roupa diferente e acha que se reinventou. Na real, a vida é uma reinvenção diária. A minha, pelo menos, tem sido assim." (MP)


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