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"A minha vida é uma reinvenção diária"
Aos 61 anos, Rita Lee afirma que lança DVD ao vivo para que a neta possa vê-la e diz detestar quando perguntam quando ela irá
se aposentar
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quando recebeu a reportagem da Folha em casa para falar sobre seu "Multishow ao Vivo", Rita Lee nem sequer tinha
ouvido ou visto os respectivos
CD e DVD. Assumiu que não
gosta desses registros que faz
em público. Nunca os vê depois
de prontos.
"Sou do tempo da Elis e da
Angela Maria, minha voz não é
nada. Numa gravação como essa do DVD, fico muito insegura", confessa. "Prefiro aqueles
videozinhos que as pessoas
gravam com celular e colocam
no You Tube. É muito mais legal, mais quente."
Seu grande barato é entrar
em estúdio e, longe do público,
fazer experiências. Graças a isso, já tem pronto um número
suficiente de canções inéditas
para encher um álbum. E diz
estar "se coçando" para fazê-lo.
Por que então deixar a novidade de lado e lançar mais um
trabalho ao vivo? "Nem sei direito", diz. "Pra registrar, pra
minha neta assistir quando eu
morrer. São essas coisas que
me passam pela cabeça."
Além do disco de inéditas, ela
pensa em regravar músicas de
cinema numa levada bossa nova, como já fez antes com o repertório dos Beatles. "Adoro as
canções dos filmes italianos,
dos musicais da Metro, das
chanchadas da Atlântica", enumera. "Talvez "roquear" os clássicos da bossa nova também seja uma ideia boa."
Roberto de Carvalho gosta
das possibilidades. Suas aptidões como pianista e arranjador sempre foram íntimas dessa estética musical. "Quando
ele entrou na minha vida, trouxe uma carioquice que tinha
muito a ver com bossa nova",
lembra Rita. "Eu fiquei apaixonada. Era um vulcão. A gente
fazia música o dia inteiro."
Ele próprio, no entanto, se
mostra fascinado com artistas
que transgridem seus próprios
padrões estéticos. Cita os dois
últimos discos de Caetano, voltados ao novo rock, como bons
exemplos dessa ousadia. Mas
afirma que ele próprio não sabe
lidar com ela.
"Quando tenho esse tipo de
ansiedade, eu sento e espero
passar", diz o músico. "A diversidade de assuntos que o Caetano tem não faz parte da minha personalidade. E eu nem
sei se tenho esse talento todo
para fazer bem alguma coisa diferente da que eu já faço."
Misoginia?
Assumir as próprias limitações é algo que costuma trazer
serenidade -a tal paz de espírito que, segundo Rita Lee, as
pessoas só atingem com o avançar da idade. Ainda assim, o casal gosta de fazer a diferenciação: estar sereno não é o mesmo que estar acomodado.
"Uma coisa que me perguntam sempre é quando eu vou
me aposentar. Eu detesto porque continuo com o mesmo tesão de antes quando subo no
palco", diz Rita. "É gozado:
nunca vi perguntarem isso pro
Chico Buarque. Será que é misoginia?".
Roberto joga na roda outras
palavras que, como "aposentadoria", Rita detesta. Uma delas
é "irreverente", adjetivo que
corriqueiramente a imprensa
cola ao nome da cantora. Outra:
"reinvenção". "Não suporto esse termo", ela reclama.
"Isso é bobagem da Madonna, que bota uma roupa diferente e acha que se reinventou.
Na real, a vida é uma reinvenção diária. A minha, pelo menos, tem sido assim."
(MP)
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