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TELEVISÃO
Por que Manoel Carlos não cria uma Odete Roitman?
TELMO MARTINO
COLUNISTA DA FOLHA
N o limite? Depois daquela overdose de Pedro Bial e
salve, perdão, Glória Maria, está
muito mais para além de todos os
limites. Quando esse cansaço estiver rotineiro, fala-se dele. Por enquanto, é excitação dos novidadeiros.
Muito melhor foi ver Manoel
Carlos, o favorito de todos, se
emaranhar com as mulheres que
ele inventou. Normalmente doce
e gentil com todas elas, perdeu o
controle com o mulherio do Leblon. Já são visíveis indícios de
uma incipiente misoginia.
Uma espiada na mulher do gordo tão jovial (Zé Victor Castiel),
mas sempre tripudiado vendo o
marido jogar bola na areia com o
Laerte, um negro mais do que sarado, foi uma das oportunidades
mais engraçadas. Sempre infeliz e
chata com o marido, ela mostrou
que, como suas duas amigas,
também tem formiga no biquíni.
Desaparecida a esposa sádica,
foi um pinga-pinga de comentários molhados sobre homens negros. Tipo tamanho e eficiência.
As amigas imaginavam. A mulher casada lembrava negras delícias. Enquanto isso, o marido gordo tem sempre sua gula patrulhada. Ótimo diálogo pode variar à
vontade de assunto e ocasião. Solta o verbo delicioso, Manoel Carlos!
E a Alma e seu sobrinho Edu.
Ela é insuportavelmente possessiva. Controla a agenda sexual do
sobrinho como uma cafetina ciumenta. Tolera as filhas das namoradas, nunca as apaixonantes
mães. Edu é famoso por variar de
geração. Sem que haja necessidades de teúdo-e-manteúdo.
Mas a tia Alma está cada vez
mais intolerável. Até os cavalos
do seu haras relincham.
Sugestão para o Manoel Carlos.
Por que ele não induz o José Mayer a matá-la, sem contar para
ninguém que foi ele? Há tanto
tempo que não se tem uma Odete
Roitman. Quem matou o corpo
da Alma? Seria um lamber de beiços. E que alívio luxuoso! Ligar a
novela favorita e não ver a Alma
desobedecendo a menopausa numa espalhação de regras.
Uma mulher que tenta impedir
um rapaz solto de se lambuzar
com a Vera Fischer é um estorvo e
precisa ser eliminada. Ver a tia
Alma levar um tiro e acompanhar seu corpo rolando escada
abaixo. Um erro de um cenógrafo
desatualizado em sua modernidade precisa ter um função mais
dramática que um tombo.
José Mayer seria o assassino
ideal. Está sempre querendo tirar
proveito da Helena Ranaldi. Um
atrevimento. Galã rude há muito
já foi despedido de Hollywood.
Até dinossauro por lá já é dócil.
Isso porque surgiu a tentação de
chamar Mayer de dinossauro.
Não dá ver Helena Ranaldi e
Paulo Zulu expondo suas divindades com a espuma feita por um
jet-ski e depois encontrá-la toda
babada pelos beijos descontrolados de um centauro nem um pouco mitológico. Helena é a pausa
que revigora Manoel Carlos num
repouso de uma misoginia impossível. Mas ela aparece muito
pouco.
Ela vai embora, e sofrendo surge o Luigi Barichelli, ótimo marido que tudo faz para contornar a
infelicidade de um casamento
com uma mulher ávida de luxo e
riqueza. Num desespero cômico,
arranjou emprego numa joalheria. Melhor chance para um suicídio não há. Vai, Manoel Carlos. É
Betty Lago às sete. E você com a
melhor novela.
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