São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 2000


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TELEVISÃO
Por que Manoel Carlos não cria uma Odete Roitman?

TELMO MARTINO
COLUNISTA DA FOLHA

N o limite? Depois daquela overdose de Pedro Bial e salve, perdão, Glória Maria, está muito mais para além de todos os limites. Quando esse cansaço estiver rotineiro, fala-se dele. Por enquanto, é excitação dos novidadeiros.
Muito melhor foi ver Manoel Carlos, o favorito de todos, se emaranhar com as mulheres que ele inventou. Normalmente doce e gentil com todas elas, perdeu o controle com o mulherio do Leblon. Já são visíveis indícios de uma incipiente misoginia.
Uma espiada na mulher do gordo tão jovial (Zé Victor Castiel), mas sempre tripudiado vendo o marido jogar bola na areia com o Laerte, um negro mais do que sarado, foi uma das oportunidades mais engraçadas. Sempre infeliz e chata com o marido, ela mostrou que, como suas duas amigas, também tem formiga no biquíni.
Desaparecida a esposa sádica, foi um pinga-pinga de comentários molhados sobre homens negros. Tipo tamanho e eficiência. As amigas imaginavam. A mulher casada lembrava negras delícias. Enquanto isso, o marido gordo tem sempre sua gula patrulhada. Ótimo diálogo pode variar à vontade de assunto e ocasião. Solta o verbo delicioso, Manoel Carlos!
E a Alma e seu sobrinho Edu. Ela é insuportavelmente possessiva. Controla a agenda sexual do sobrinho como uma cafetina ciumenta. Tolera as filhas das namoradas, nunca as apaixonantes mães. Edu é famoso por variar de geração. Sem que haja necessidades de teúdo-e-manteúdo.
Mas a tia Alma está cada vez mais intolerável. Até os cavalos do seu haras relincham.
Sugestão para o Manoel Carlos. Por que ele não induz o José Mayer a matá-la, sem contar para ninguém que foi ele? Há tanto tempo que não se tem uma Odete Roitman. Quem matou o corpo da Alma? Seria um lamber de beiços. E que alívio luxuoso! Ligar a novela favorita e não ver a Alma desobedecendo a menopausa numa espalhação de regras.
Uma mulher que tenta impedir um rapaz solto de se lambuzar com a Vera Fischer é um estorvo e precisa ser eliminada. Ver a tia Alma levar um tiro e acompanhar seu corpo rolando escada abaixo. Um erro de um cenógrafo desatualizado em sua modernidade precisa ter um função mais dramática que um tombo.
José Mayer seria o assassino ideal. Está sempre querendo tirar proveito da Helena Ranaldi. Um atrevimento. Galã rude há muito já foi despedido de Hollywood. Até dinossauro por lá já é dócil. Isso porque surgiu a tentação de chamar Mayer de dinossauro.
Não dá ver Helena Ranaldi e Paulo Zulu expondo suas divindades com a espuma feita por um jet-ski e depois encontrá-la toda babada pelos beijos descontrolados de um centauro nem um pouco mitológico. Helena é a pausa que revigora Manoel Carlos num repouso de uma misoginia impossível. Mas ela aparece muito pouco.
Ela vai embora, e sofrendo surge o Luigi Barichelli, ótimo marido que tudo faz para contornar a infelicidade de um casamento com uma mulher ávida de luxo e riqueza. Num desespero cômico, arranjou emprego numa joalheria. Melhor chance para um suicídio não há. Vai, Manoel Carlos. É Betty Lago às sete. E você com a melhor novela.



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