São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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OUTRA FREQUÊNCIA

72% das rádios estão nas mãos do Estado

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

É uma constatação importante. Dentre todas as mídias, o rádio é a que mais se concentra nas mãos do poder estatal.
Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano-2002, divulgado pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), 72% das AMs e FMs estão nas mãos do governo, contra 60% das TVs e 29% dos jornais.
O estudo de mídia do Pnud começa com a seguinte frase: "Talvez nenhuma reforma seja tão significativa para fazer com que as instituições democráticas funcionem quanto a reforma da mídia". E continua: "Para ser livre e independente, para produzir informação factual e imparcial, a mídia precisa ser livre não só do controle estatal, mas também das pressões políticas e corporativas".
Para nós, brasileiros, é fácil perceber -e o estudo do Pnud comprova- que a realidade está bem distante desse ideal. Por aqui, o Estado não controla diretamente a maioria das AMs e FMs, mas é raro que se tenha no dial algo livre de pressões políticas, alguma estação que não esteja inundada de interesses que passam a milhares de quilômetros dos democráticos.
O relatório diz que o liberalismo, as privatizações e o alto custo das novas tecnologias colaboram para que parte do controle estatal fosse transferido a empresas.
Mas afirma que isso nem sempre é a solução para a democracia, já que, em muitos casos, a mídia acaba caindo em monopólios familiares. A Globo, por exemplo, é citada pelo estudo das Nações Unidas como um dos maiores monopólios no mundo controlados por indivíduos e familiares.
É claro que há realidades piores do que a brasileira, e o Pnud trata de listar algumas. Em Ruanda, por exemplo, onde o rádio é a mídia mais importante, as estações foram usadas, em 94, para incentivar o genocídio. O estudo lembra ainda que o Líbano é o único país árabe que permite a existência de radiodifusão privada.
Mas isso não livra o Brasil da necessidade de refletir sobre essa questão. E de considerar uma dica importante do relatório: para acabar com uma estação "antidemocrática", basta escutar outra.

Depois de Maluf e Genoino, agora será a vez de Alckmin almoçar com os empresários de rádio. Será na próxima terça-feira, na sede da Aesp (Associação das Emissoras de Rádio e TV de SP).

Vai ao ar no próximo domingo, à meia-noite, na Cultura FM (103,3 MHz), um especial sobre folclore produzido na ilha de Parintins, no Amazonas.

laura@folhasp.com.br



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