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Ben Jor resgata alquimia em disco
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Os alquimistas estão voltando.
Trinta anos depois de "A Tábua
de Esmeralda", o fundamental
disco que abria com "Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas", esses personagens voltam a protagonizar um trabalho
de Jorge Ben, agora Ben Jor.
Foi ele, em coletiva realizada
quinta-feira, quem assumiu a ligação com os anos 70 ao falar de
"Reactivus Amor Est [Turba Philosophorum]" (Universal), título
de seu novo CD, o primeiro de
músicas inéditas em nove anos.
"Turba Philosophorum é uma
reunião amistosa de alquimistas,
aqui reativada pelo amor que está
sempre nas minhas letras, minhas
histórias urbanas e suburbanas",
contou Ben Jor, 62.
Definida pelo Aurélio como
"conjunto das práticas, técnicas e
dos conhecimentos químicos da
Idade Média e da Renascença, especialmente aqueles voltados para a descoberta da pedra filosofal e
da panacéia, ou remédio universal", a alquimia também está por
trás da primeira faixa do disco,
"Mexe Mexe", já gravada pela
banda Mundo Livre S/A.
"Essa história de "quando você
pára de mexer, envelhece, padece", que está na letra, é uma antiga
receita dos alquimistas. E "História do Homem" é baseada na filosofia dos alquimistas também",
exemplificou Ben Jor, citando a
música dos versos "Todo homem
nasceu do amor de alguém/ Todo
homem viveu na dependência de
alguém/ Todo homem tem que
ser feliz com alguém".
"Discretos e silenciosos", como
diz a letra de 74, os alquimistas
participam sem aparecer até da
programação eletrônica dos arranjos do CD - uma inspiração,
segundo o cantor, do disco "Samba Raro", de Max de Castro. Jorlando Rollins Music, a entidade
que assina o trabalho, é uma confraria sobre a qual Ben Jor não dá
muitas pistas, apenas confirmando que está ligada à alquimia.
"É um grupo que pensa positivo, para as coisas darem certo.
São músicos, escritores, filósofos
que se encontram para conversar
e rever a qualidade das músicas",
disse, mais confundindo do que
explicando, um Ben Jor que dispensou a banda nesse trabalho,
valendo-se apenas de um coro feminino e, em duas faixas, de dois
percussionistas.
Com as novas gerações da música brasileira, não tem ruído na
comunicação. Ben Jor, que fez a
cabeça de contemporâneos como
Caetano Veloso e Gilberto Gil, hoje é gravado (e/ou endeusado) por
Fernanda Abreu, Sandra de Sá,
Nação Zumbi, Simoninha...
"Eu sou o muso do Fred 04 [líder do Mundo Livre S/A]", brincou ele, antes de revelar uma inveja benigna dos jovens fãs. "Eles fazem o que eu gostaria de ter feito
quando comecei, mas não havia
tecnologia para isso. Se houvesse,
eu poderia estar mais à frente."
Mesmo lembrando que recebia
"críticas pesadíssimas" por causa
da afinação heterodoxa de seu
violão, ele emplacou logo no primeiro disco ("Samba Esquema
Novo", de 1963) o maior sucesso
de sua vida: "Mas que nada", com
mais de 200 gravações espalhadas
pelo mundo, segundo ele.
Ben Jor foi às lágrimas na coletiva ao falar de "Maria Helena e
Chiquinho", a música que fez depois de ver uma apresentação da
porta-bandeira e do mestre-sala
da Imperatriz Leopoldinense,
mãe e filho. "Na frente dos jurados, ele começou a chorar. Eu me
emocionei, me senti o filho naquele momento. Quando fui parabenizá-los, soube que estavam
há mais de um ano sem se falar e
ali fizeram as pazes", lembrou.
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