São Paulo, sábado, 31 de julho de 2004

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Ben Jor resgata alquimia em disco

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Os alquimistas estão voltando. Trinta anos depois de "A Tábua de Esmeralda", o fundamental disco que abria com "Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas", esses personagens voltam a protagonizar um trabalho de Jorge Ben, agora Ben Jor.
Foi ele, em coletiva realizada quinta-feira, quem assumiu a ligação com os anos 70 ao falar de "Reactivus Amor Est [Turba Philosophorum]" (Universal), título de seu novo CD, o primeiro de músicas inéditas em nove anos.
"Turba Philosophorum é uma reunião amistosa de alquimistas, aqui reativada pelo amor que está sempre nas minhas letras, minhas histórias urbanas e suburbanas", contou Ben Jor, 62.
Definida pelo Aurélio como "conjunto das práticas, técnicas e dos conhecimentos químicos da Idade Média e da Renascença, especialmente aqueles voltados para a descoberta da pedra filosofal e da panacéia, ou remédio universal", a alquimia também está por trás da primeira faixa do disco, "Mexe Mexe", já gravada pela banda Mundo Livre S/A.
"Essa história de "quando você pára de mexer, envelhece, padece", que está na letra, é uma antiga receita dos alquimistas. E "História do Homem" é baseada na filosofia dos alquimistas também", exemplificou Ben Jor, citando a música dos versos "Todo homem nasceu do amor de alguém/ Todo homem viveu na dependência de alguém/ Todo homem tem que ser feliz com alguém".
"Discretos e silenciosos", como diz a letra de 74, os alquimistas participam sem aparecer até da programação eletrônica dos arranjos do CD - uma inspiração, segundo o cantor, do disco "Samba Raro", de Max de Castro. Jorlando Rollins Music, a entidade que assina o trabalho, é uma confraria sobre a qual Ben Jor não dá muitas pistas, apenas confirmando que está ligada à alquimia.
"É um grupo que pensa positivo, para as coisas darem certo. São músicos, escritores, filósofos que se encontram para conversar e rever a qualidade das músicas", disse, mais confundindo do que explicando, um Ben Jor que dispensou a banda nesse trabalho, valendo-se apenas de um coro feminino e, em duas faixas, de dois percussionistas.
Com as novas gerações da música brasileira, não tem ruído na comunicação. Ben Jor, que fez a cabeça de contemporâneos como Caetano Veloso e Gilberto Gil, hoje é gravado (e/ou endeusado) por Fernanda Abreu, Sandra de Sá, Nação Zumbi, Simoninha...
"Eu sou o muso do Fred 04 [líder do Mundo Livre S/A]", brincou ele, antes de revelar uma inveja benigna dos jovens fãs. "Eles fazem o que eu gostaria de ter feito quando comecei, mas não havia tecnologia para isso. Se houvesse, eu poderia estar mais à frente."
Mesmo lembrando que recebia "críticas pesadíssimas" por causa da afinação heterodoxa de seu violão, ele emplacou logo no primeiro disco ("Samba Esquema Novo", de 1963) o maior sucesso de sua vida: "Mas que nada", com mais de 200 gravações espalhadas pelo mundo, segundo ele.
Ben Jor foi às lágrimas na coletiva ao falar de "Maria Helena e Chiquinho", a música que fez depois de ver uma apresentação da porta-bandeira e do mestre-sala da Imperatriz Leopoldinense, mãe e filho. "Na frente dos jurados, ele começou a chorar. Eu me emocionei, me senti o filho naquele momento. Quando fui parabenizá-los, soube que estavam há mais de um ano sem se falar e ali fizeram as pazes", lembrou.


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