Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Grupo barroco espanhol toca em SP
Com 18 vozes e 25 instrumentos, Capela Real de Madri faz apresentações hoje e amanhã, no Teatro Cultura Artística
Diretor critica educação
musical espanhola e diz que
ainda há muito a descobrir
sobre o repertório barroco
ibérico em palácios e igrejas
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Capela Real de Madri apresenta-se hoje e amanhã no Teatro Cultura Artística, em São
Paulo. É um grupo de criação
recente. Surgiu em 1992, sob a
direção do musicólogo argentino Oscar Gershensohn.
No programa, um dos oratórios de Páscoa de Bach ("Kommet, Eilet und Laufet"), um
cântico de Händel ("Foundling
Hospital Anthem") e duas peças assinadas por compositores
espanhóis ou radicados na Espanha do início do século 18:
Francisco Corselli e José de
Nebra.
O maestro Gershensohn está
sentado em cima de uma mina
de ouro. O repertório barroco
da Espanha é imenso. Mas quase desconhecido. Há muita pesquisa ainda a ser feita. Seus arquivos podem nos dar grandes
e excelentes surpresas.
Mesmo assim, os conjuntos
espanhóis com instrumentos e
afinação de época são pouco
numerosos. É um dos preços a
serem pagos, avalia Gershensohn, pela educação musical
deficiente naquele país.
Veja os principais trechos da
entrevista que ele concedeu à
Folha.
FOLHA - Como explicar o fato de a
Espanha, com um barroco musical
tão imenso, ainda não contar com
grande quantidade de formações
especializadas na execução desse
repertório?
OSCAR GERSHENSOHN - A meu ver,
isso se deve às deficiências da
educação da música na Espanha. Ela foi até há pouco limitada e abordava o repertório mais
tradicional. O barroco era evocado sobretudo por corais, que
não se baseavam em uma concepção estilística correta. Os
grupos instrumentais ainda estavam mais preocupados com a
polifonia clássica. O movimento de música antiga foi algo
bem mais tardio. Praticamente
começou com Jordi Savall, na
década de 70.
FOLHA - Em países como Itália,
França ou Holanda, as pesquisas em
arquivos dão hoje uma idéia precisa
sobre o que foi o repertório barroco.
E na Espanha?
GERSHENSOHN - Há um trabalho
muito importante a ser ainda
feito nos arquivos das igrejas e
palácios espanhóis. Desconhecemos nessa quantidade imensa o que é realmente de qualidade. O que temos é apenas
uma amostra dessa riqueza.
Em nossa turnê, apresentaremos dois exemplos: Francisco
Corselli e José de Nebra.
FOLHA - Poderia falar um pouco sobre a obra e a biografia desses dois
compositores?
GERSHENSOHN - Corselli, nascido na Itália, chegou à Espanha
no começo do século 18. Ele foi
mestre-de-capela em Parma.
Exerceu a mesma função em
Madri, na capela do palácio
real. Dedicou-se mais à música
sacra. Tem mais de 300 obras
em seu catálogo. Quanto a Nebra, é um músico espanhol, filho e neto de organistas, influenciado por Domenico Scarlatti e que conseguiu mesclar o
barroco italiano à música madrilenha mais popular.
FOLHA - A corte em Madri estava
sujeita à mesma influência musical
que os napolitanos exerciam àquela
época em Lisboa?
GERSHENSOHN - Os napolitanos
também na época triunfam em
Madri, nas figuras de Francesco Duarte ou Nicola Porpora,
por exemplo. Mas já não é mais
propriamente a música barroca. Já há ingredientes do período clássico na música que eles
faziam.
FOLHA - Quantos músicos estarão
em São Paulo com a Capela Real?
GERSHENSOHN - São 18 vozes e
25 instrumentos. Há os naipes
de corda, fagote, oboés, trompete, órgão e até uma guitarra.
FOLHA - Uma guitarra?
GERSHENSOHN - É um instrumento já quase clássico.
CAPELA REAL DE MADRI
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, região central, tel.
3258.3344)
Quanto: de R$ 80 a R$ 180, e R$ 10 para estudantes com menos de 30 anos,
até meia hora antes de cada récita
Texto Anterior: Cinema: Festival catalão começa hoje no Centro Cultural São Paulo Próximo Texto: Cinema/Crítica/"Luzes do Além": "Thriller" sobrenatural se contenta com a banalidade Índice
|