São Paulo, terça-feira, 31 de julho de 2007

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Grupo barroco espanhol toca em SP

Com 18 vozes e 25 instrumentos, Capela Real de Madri faz apresentações hoje e amanhã, no Teatro Cultura Artística

Diretor critica educação musical espanhola e diz que ainda há muito a descobrir sobre o repertório barroco ibérico em palácios e igrejas

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Capela Real de Madri apresenta-se hoje e amanhã no Teatro Cultura Artística, em São Paulo. É um grupo de criação recente. Surgiu em 1992, sob a direção do musicólogo argentino Oscar Gershensohn.
No programa, um dos oratórios de Páscoa de Bach ("Kommet, Eilet und Laufet"), um cântico de Händel ("Foundling Hospital Anthem") e duas peças assinadas por compositores espanhóis ou radicados na Espanha do início do século 18: Francisco Corselli e José de Nebra.
O maestro Gershensohn está sentado em cima de uma mina de ouro. O repertório barroco da Espanha é imenso. Mas quase desconhecido. Há muita pesquisa ainda a ser feita. Seus arquivos podem nos dar grandes e excelentes surpresas.
Mesmo assim, os conjuntos espanhóis com instrumentos e afinação de época são pouco numerosos. É um dos preços a serem pagos, avalia Gershensohn, pela educação musical deficiente naquele país.
Veja os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.  

FOLHA - Como explicar o fato de a Espanha, com um barroco musical tão imenso, ainda não contar com grande quantidade de formações especializadas na execução desse repertório?
OSCAR GERSHENSOHN
- A meu ver, isso se deve às deficiências da educação da música na Espanha. Ela foi até há pouco limitada e abordava o repertório mais tradicional. O barroco era evocado sobretudo por corais, que não se baseavam em uma concepção estilística correta. Os grupos instrumentais ainda estavam mais preocupados com a polifonia clássica. O movimento de música antiga foi algo bem mais tardio. Praticamente começou com Jordi Savall, na década de 70.

FOLHA - Em países como Itália, França ou Holanda, as pesquisas em arquivos dão hoje uma idéia precisa sobre o que foi o repertório barroco. E na Espanha?
GERSHENSOHN
- Há um trabalho muito importante a ser ainda feito nos arquivos das igrejas e palácios espanhóis. Desconhecemos nessa quantidade imensa o que é realmente de qualidade. O que temos é apenas uma amostra dessa riqueza. Em nossa turnê, apresentaremos dois exemplos: Francisco Corselli e José de Nebra.

FOLHA - Poderia falar um pouco sobre a obra e a biografia desses dois compositores?
GERSHENSOHN
- Corselli, nascido na Itália, chegou à Espanha no começo do século 18. Ele foi mestre-de-capela em Parma. Exerceu a mesma função em Madri, na capela do palácio real. Dedicou-se mais à música sacra. Tem mais de 300 obras em seu catálogo. Quanto a Nebra, é um músico espanhol, filho e neto de organistas, influenciado por Domenico Scarlatti e que conseguiu mesclar o barroco italiano à música madrilenha mais popular.

FOLHA - A corte em Madri estava sujeita à mesma influência musical que os napolitanos exerciam àquela época em Lisboa?
GERSHENSOHN
- Os napolitanos também na época triunfam em Madri, nas figuras de Francesco Duarte ou Nicola Porpora, por exemplo. Mas já não é mais propriamente a música barroca. Já há ingredientes do período clássico na música que eles faziam.

FOLHA - Quantos músicos estarão em São Paulo com a Capela Real?
GERSHENSOHN
- São 18 vozes e 25 instrumentos. Há os naipes de corda, fagote, oboés, trompete, órgão e até uma guitarra.

FOLHA - Uma guitarra?
GERSHENSOHN
- É um instrumento já quase clássico. CAPELA REAL DE MADRI Quando: hoje e amanhã, às 21h Onde: Teatro Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, região central, tel. 3258.3344) Quanto: de R$ 80 a R$ 180, e R$ 10 para estudantes com menos de 30 anos, até meia hora antes de cada récita

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