São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/show

Sem concessões, Muse traz ótima barulheira melódica e suntuosa

Em show em Buenos Aires, banda, que toca hoje em SP, evita suavizar o som e destaca líder que lembra Jimi Hendrix

SYLVIA COLOMBO
EM BUENOS AIRES

Quem assistiu a algo dos concertos que o Muse deu em junho do ano °°passado no então recém-inaugurado Wembley, em Londres, deve estar imaginando como uma banda com sonoridade tão explosiva pode se comportar num espaço fechado sem causar danos à sua estrutura.
Pois foi com essa dúvida e com a imagem grandiosa do trio inglês sendo alçado por máquinas do meio daquele colossal estádio lotado de fãs aos gritos -isso pode ser conferido no DVD "H.A.A.R.P." (Warner; CD + DVD a R$ 62, em média)- que entrei no Gran Rex, um dos mais tradicionais teatrões de Buenos Aires, para conferir a primeira das duas apresentações que a banda fez na cidade, na semana passada.
Eu me perguntava se o pomposo espaço da avenida Corrientes iria continuar de pé depois de um par de horas de apresentação do grupo, que mistura rock progressivo e punk setentista.
Não só o velho Gran Rex seguiu firme como a banda não se sentiu obrigada a fazer concessões. Nada de adaptações acústicas, percussão mais moderada nem solos de cordas menos ruidosos. O Muse tocou a 100% no coração da cidade do tango.
Se fizer o mesmo hoje, no HSBC Brasil, os roqueiros paulistanos sairão felizes.
O show que veio para a América do Sul é uma versão muito fiel de "H.A.A.R.P.", apenas troca um pouco a ordem das canções. O repertório privilegia os hits do mais recente CD, "Black Holes & Revelations", como "Starlight" e "Map of the Problematique"; mas não ignora belas canções anteriores ao estrelato da banda, como "Time Is Running Out" e "Sunburn".

Comparações
É equivocada e preguiçosa a comparação que se faz entre o Muse e o Radiohead. Basta reparar no modo como Matt Bellamy se curva para dedilhar a guitarra, ou como o faz com ela levantada sobre a cabeça.
Sua performance é uma óbvia evocação do estilo de Jimi Hendrix. O próprio Bellamy já disse que a apresentação do mítico guitarrista em Monterey, em 1967, é sua grande inspiração. Enquanto o pequeno guitarrista de Cambridge solta-se como versão moderna do ícone americano, Dominic Howard faz caretas de moleque detrás da "imparável" bateria, e o baixista Christopher Wolstenholme, sisudo, destoa do grupo, como um irmão mais velho a marcar o passo dos mais novos.
O ponto alto do show na Argentina foi a seqüência "Invincible"/"Hysteria". A primeira, que começa com uma lenta levada de marcha marcial e termina numa apoteose de ruídos e fogos de artifício, abre espaço para a segunda, onde o virtuosismo de Bellamy chega ao clímax. No telão ao fundo, animações gráficas fundem-se a imagens de manifestações de rua.
No bis, a banda pede a todos que acendam os celulares para acompanhar a bonitinha "Soldiers Poem". Surgem balões cheios de papel picado, que passeiam sobre as cabeças e depois explodem sobre o público.
Alguém responde, jogando um ursinho de pelúcia branco aos pés do baixista. "Knight of Cydonia" encerra a noite, com disparos de gelo seco formando uma cortina entre os músicos e os fãs. Parece uma tentativa da banda de oferecer um epílogo lúdico para compensar os excessos cometidos com nossos ouvidos. Não é necessário. Eles só têm a agradecer.
Não há nada mais melódico e suntuoso no pop hoje do que a barulheira do Muse.

MUSE

Quando: hoje, às 22h
Onde: HSBC Brasil
(r. Bragança Paulista, 1.281, tel. 0/xx/11/4003-1212)
Quanto: de R$ 140 a R$ 250 (até o fechamento desta edição, ainda havia ingressos de R$ 140 e de R$ 200)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 14 anos
Avaliação: ótimo



Texto Anterior: Após turnê de sucesso, Cisne Negro leva três coreografias ao Municipal
Próximo Texto: Música: Show de Roberto e Caetano no Rio tem nova data
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.