São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2008

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Mostra sobre Saramago virá ao Brasil

"A Consistência dos Sonhos" será inaugurada no Instituto Tomie Ohtake em dezembro deste ano ou no início de 2009

Exposição multimídia usa videoinstalações, fotos e manuscritos para repassar a vida do escritor português, Nobel de Literatura em 1998

MARIO GIOIA
ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Fotos de infância vistas em forma de cubos luminosos, videoinstalações inspiradas nas narrativas do escritor e aparatos sonoros por meio dos quais ele lê suas obras. Esse é o formato da exposição "José Saramago - A Consistência dos Sonhos", que chegará a São Paulo entre dezembro deste ano e o início de 2009 -a data ainda não foi confirmada.
É um formato que remete ao das mostras do Museu da Língua Portuguesa, que tanto público atraem. Mas a exposição aportará no Instituto Tomie Ohtake. Ela iniciou sua trajetória na Fundação César Manrique, em Lanzarote (Ilhas Canárias), onde o escritor reside desde 1992, e ficou em cartaz no Palácio da Ajuda, em Lisboa, até o último domingo.
"Saramago esteve diretamente empenhado na montagem, vinha diariamente aqui", conta a diretora do Palácio da Ajuda, Graça Mendes Pinto, também à frente do Instituto dos Museus e da Conservação, entidade ligada ao Ministério da Cultura de Portugal que é uma das organizadoras da exposição. "Ele sempre dizia que não se lembrava de que guardava alguns manuscritos, documentos e algumas fotografias, e que tinha de agradecer a Fernando [Gómez Aguilera, curador da mostra] por recuperá-los das caixas em que estavam."

Programa de polícia
A exposição segue uma ordem cronológica, pontuada por quatro videoinstalações do escocês Charles Sandison. A que abre a mostra é uma projeção de feições do escritor, hoje com 85 anos, durante etapas variadas de sua vida, realizada com a ajuda de um programa de computador que simula as mudanças faciais de desaparecidos e é utilizado por polícias de diversos países. Como em outros vídeos, Sandison usa as letras como componentes do trabalho.
Na primeira parte da exposição, são explicadas a infância e a adolescência duras de Saramago, nascido em uma família de camponeses na cidade de Azinhaga. Aos dois anos, foi morar em Lisboa, onde o pai conseguira um emprego de agente da Polícia de Segurança Pública. No mesmo ano, morreu de pneumonia seu irmão Francisco, aos quatro anos.
Seu dia-a-dia na capital portuguesa foi de privações. A família morou em diversos cortiços em zonas pouco nobres da cidade. Um pouco mais velho, transferiu os estudos de um liceu para uma escola técnica, onde obteve o diploma de serralheiro. A aproximação com os livros veio nas horas vagas, quando freqüentava a Biblioteca Municipal do Palácio das Galveias, no Campo Pequeno. Todo esse percurso é exibido por meio de fotografias, vídeos, manuscritos, documentos e outros tipos de registro, a grande maioria nunca mostrada ao público (e, no caso de objetos originais, em ótimo estado de conservação). "A abordagem multimídia dá mais dinamismo ao que poderia ser apenas uma apresentação de coisas", afirma Mendes Pinto.

"Terra do Pecado"
A fase literária propriamente dita da exposição é iniciada na apresentação do ano de 1944, quando Saramago começou a escrever poesia. Em 1947, ele publicou seu primeiro romance, "Terra do Pecado", que está "na órbita do neo-realismo", segundo o escritor.
Na parte dos anos 50 e 60, aparece um Saramago ainda não completamente dedicado à escrita e se equilibrando em outros empregos (contador, produtor editorial, tradutor e jornalista) para se sustentar.
Nos anos 70, tempo da Revolução dos Cravos e de profundas mudanças em Portugal, a militância política foi mais intensa. Nas duas décadas seguintes, surgiram suas principais obras, como "Memorial do Convento" (1982), "O Ano da Morte de Ricardo Reis" (1994), "A Jangada de Pedra" (1986), "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" (1991) e "Ensaio sobre a Cegueira" (1995) -cuja versão para o cinema, de Fernando Meirelles, deve estrear em setembro no Brasil. O Nobel de Literatura veio em 1998 e é tema de uma sala especial. Brasileiros como Jorge Amado, Nélida Piñon e Caetano Veloso aparecem na exposição em retratos ao lado de Saramago.
Também é ressaltada sua amizade com o fotógrafo Sebastião Salgado. A exposição é encerrada com uma minibiografia redigida pelo próprio Saramago.


O jornalista MARIO GIOIA viajou a convite da organização da mostra



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