|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA MEMÓRIAS
Alusão a Borges não esconde defeitos de novo Paulo Coelho
MANUEL DA COSTA PINTO
COLUNISTA DA FOLHA
"O Aleph", novo lançamento de Paulo Coelho, tem
o mesmo título da narrativa
que dá nome ao livro de contos publicado pelo escritor
argentino Jorge Luis Borges
no ano de 1949.
Nos dois casos, o termo cabalístico se refere a um ponto
do espaço que contém todos
os pontos e do qual se pode
contemplar, simultaneamente, a totalidade dos
acontecimentos da história.
Borges enxerga nesse mirante cósmico, encontrado
num porão de Buenos Aires,
o "inconcebível universo",
mas só consegue enumerar
cenas triviais da vida privada
(seu quarto vazio, cartas numa gaveta de escrivaninha) e
relances de sua poética (labirintos, tigres, livros), numa
ironia em relação ao alcance
da imaginação literária.
O Aleph de Paulo Coelho é
bem mais concebível, ao menos para os crédulos leitores
de livros espíritas e manuais
de autoajuda: um observatório de vidas passadas que ele
utiliza a bel-prazer, como um
guia turístico, a bordo da ferrovia Transiberiana.
O JOIO E O TRIGO
Também é infinitamente
menos irônico que o escritor
argentino.
Não existe (como havia em
Borges) uma dissonância entre o autor empírico, real, e
um narrador supostamente
autobiográfico.
Paulo Coelho crê (ou quer
nos fazer crer que crê) que a
violinista turca Hilal resolve
acompanhá-lo nessa travessia não apenas por ser uma fã
ensandecida de seu breviário
esotérico, mas porque ambos
estiveram frente à frente durante a Inquisição espanhola
do século 15.
Pois é disso que trata o livro: durante uma crise espiritual, o mago dos best-sellers
atravessa a Ásia com sua corte (editora, intérprete, jornalistas), mas encontra uma figura misteriosa que dará um
sentido espiritual a sua peregrinação midiática.
Enfim, a comparação com
Borges só se justifica por uma
coincidência de títulos, que
obriga o leitor a separar o joio
do trigo.
O ALEPH
AUTOR Paulo Coelho
EDITORA Sextante
QUANTO R$ 24,90 (256 págs.)
AVALIAÇÃO ruim
Texto Anterior: Crítica/Romance: Rushdie ganha o jogo em livro sobre games Próximo Texto: Folha.com Índice
|