São Paulo, sábado, 31 de julho de 2010

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CRÍTICA HISTÓRIA

Edição traduz pesquisa de documentos com erudição

Evaldo Cabral de Mello faz consistente contextualização em "Brasil Holandês'

RONALDO VAINFAS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Evaldo Cabral de Mello é o principal historiador do Brasil holandês, discípulo de José Antônio Gonçalves de Mello, que revolucionou os estudos do tema com seu clássico "Tempo dos Flamengos" (1947), o primeiro grande livro de história baseado em pesquisa de fontes originais. Seguindo a trilha do mestre, Evaldo sempre valorizou o documento como base do conhecimento histórico, despreocupado, felizmente, em provar esta ou aquela teoria.
Evaldo combina sólida pesquisa documental com erudição, espírito crítico e capacidade narrativa -as quatro habilidades essenciais de um grande historiador. Em certa ocasião, Evaldo chegou a dizer que a história é um gênero literário, embora diferente de ficção.
A grande diferença reside na busca da evidência documental sobre o que aconteceu ou deixou de acontecer. O mais é matéria de interpretação e, nesse passo, vale a imaginação do autor, o talento especulativo, a perícia em decifrar documentos.
"Pas de documents, pas d'histoire" (se não há documentos, não há história): a frase de Langlois e Seignobos, tão criticada pelos historiadores do século 20, continua mais viva do que nunca.

DOCUMENTO HISTÓRICO
O autor de "Rubro Veio" e "Olinda Restaurada", dois clássicos sobre o tema, dedica-se a expor, neste "O Brasil Holandês", as possibilidades que cada tipo de documento histórico pode oferecer para a construção historiográfica.
Trata-se de uma coletânea, portanto, mas não de uma recolha seriada de textos -e o leitor que se vire. Esta é uma coletânea acompanhada pelo historiador do início ao fim por meio de contextualizações.
Pretende -e consegue- familiarizar o leitor com as motivações da conquista holandesa e da restauração pernambucana, que são as partes inicial e final da obra. O miolo se concentra no governo de Maurício de Nassau -personagem quase mítico de um "Brasil que não foi"-, prevalecendo documentos políticos, administrativos e econômicos. A introdução é um primor.
Tipifica os documentos, dentre impressos e manuscritos, crônicas, cartas e relatórios. Faz um histórico da documentação, sobretudo a dos arquivos holandeses, descobertos pela missão de José Hygino Duarte, sob o patrocínio do governo provincial pernambucano, em 1885.
Missão que revelou um manancial de fontes inéditas e marcou a valorização da experiência colonizadora dos holandeses como objeto de pesquisa. Criou a base para alguns mitos também. Mas essa é outra história.

RONALDO VAINFAS, autor de "Traição: Um Jesuíta a Serviço do Brasil Holandês" (Cia. das Letras), é professor de história moder-na da Universidade Federal Fluminense


O BRASIL HOLANDÊS

ORGANIZADOR Evaldo Cabral de Mello
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 28 (512 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo




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