São Paulo, domingo, 31 de julho de 2011

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MÔNICA BERGAMO

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ÓRFÃS DE WINEHOUSE

Covers e sósias de Amy Winehouse refazem planos após morte da cantora inglesa

Alexandre Rezende/Folhapress
Miranda Kassin, que faz o show "I Love Amy"

"Estou evitando falar sobre Amy. Já falei tanto que exauriu", diz a cantora Miranda Kassin, 30, que há três anos apresenta o show "I Love Amy", calcado em músicas da inglesa e de outras cantoras de soul. No momento da conversa, num estúdio da Vila Leopoldina, em São Paulo, fazia cinco dias que Amy Winehouse tinha morrido.

 

Kassin se apresentou dez horas depois da confirmação da morte. "Não foi 'ela morreu, vou fazer um show'. Coincidentemente já tinha marcado para o sábado, no Studio SP." A casa da rua Augusta lotou.

 

"Foi o show mais dolorido da minha vida", diz ao repórter Chico Felitti . Minha ficha começou a cair quando, cantando as músicas dela, ia percebendo o significado das letras, que falam de amor, de sangue." Ao descer do palco, "acabada e em lágrimas", foi procurada por um produtor do "Fantástico". Era um convite para homenagear a falecida.

 

Miranda fechou o dominical da semana passada cantando à capela a música "Tears Dry on Their Own", do segundo e mais famoso CD de Amy, "Back to Black". Era a última das loas do programa. As anteriores tiveram Ivete Sangalo e Paula Fernandes interpretando hits e adolescentes dançando ao som de "Rehab" segurando drinques e cigarros de mentirinha.

 

A cantora de soul ainda deu entrevistas para o "Jornal Nacional" e o "Jornal da Record". Foi o maior contato de Kassin com a TV. No ano passado, diz, tinha sido sondada para se apresentar numa festa do "Big Brother Brasil". "Me convidaram para cantar em 'playback'. Não topei, não é a minha."

 

Tampouco é a sua se fantasiar de Amy. Nos primeiros oito shows, em 2008, ainda usou uma peruca para fazer o coque-colmeia da musa. "Mas parei. Incomodava, pesava, não fazia sentido. Eu não queria ser a Amy. Eu não sou sósia, não faço imitação. Nunca quis ser ela."

 

Mas a imagem das duas colou desde que Miranda abriu o show de Amy em SP, em janeiro. "Tem quem disse que eu lucrei com a morte", diz ela. "Mas não é isso. O show já existia, e não aumentou tanto o trabalho: se eu fazia 15 shows por mês, agora faço 20."

 

No quadro branco em que marca as apresentações agendadas para o mês, há um aniversário de 50 anos, shows no interior do Estado e mais apresentações no Baixo Augusta e na Vila Madalena. "A Amy tem um público mais abrangente", diz o namorado, André Frateschi, ator global e cantor cover de David Bowie.

 

O aumento das apresentações permitirá ao casal "comprar umas luzes novas para o show, coisa que queria há tempos", diz ela. Por outro lado, a carga pode também custar a semana de férias em Fernando de Noronha, que planejava após terminar de gravar novo CD - só de músicas próprias.

 

A parede do banheiro de Miranda é decorada com uma foto de mais de um metro da atriz Giselle Itié fantasiada de Amy, em um supermercado. Um pôster da original encima o sofá. "Não vou tirar essas peças tão cedo. Nem vou parar de fazer o show tão cedo, não existe essa obrigação."

 

"Agora eu trabalho. Deixa para chorar daqui a pouco", diz Larissa Guedes, 25, autointitulada "a Amy oficial de Niterói (RJ) e região". "É claro que fiquei triste, mas mal desliguei o telefone depois de receber a notícia e já tinha gente ligando para 'bookar' show." Em seu número, Guedes dubla oito músicas da carreira de Amy, mesmo sem falar inglês. Repete "Rehab" até três vezes.

 

Larissa diz que foram 12 apresentações nos cinco dias que se seguiram à morte. "Lucrei dois meses em uma semana. E não é 'urubuzar' a morte dela, é tudo homenagem. Daqui a pouco passa a dor. E acabam meus shows, o que me dá medo."

 

Já Carina Brandão , 32, causou medo. Ela diz que foi confundida com o fantasma de Amy Winehouse no sábado à noite na praça de alimentação do shopping Santana Park. "A menina se levantou, apontou para mim e falou: 'Mãe, ela não morreu e está aqui!'", conta Carina, sósia paulistana da cantora.

 

Habituada a ganhar de R$ 15 a R$ 40 para passar um período do dia em plateias de programas de TV como o "Show do Tom" e "Programa Raul Gil", caracterizada como Amy, Brandão teve uma semana atípica de trabalho. Na segunda, por cachê, passou a noite tirando fotos numa cachaçaria. Ontem, iria a uma balada-tributo na rua Augusta, sem cobrar. "Se me chamarem para festa, eu vou pelo prazer do abraço, pelo amor."

 

"Assim que chego na balada, as pessoas me dão um copo de uísque, de vodca. Eu não bebo, então dou para uma amiga. Só tomo cervejinha, de vez em quando." O público, diz, "espera que eu fosse mais doidona do que eu sou". "Mas acontece que a Amy não era isso durante a vida, foi o que ela se tornou no fim!"

 

Enquanto Carina posa para fotos, fingindo estar arredia com o assédio dos paparazzi, seu marido Ivan Brandão projeta uma viagem à Inglaterra em futuro bem próximo.

 

"Imagina a gente no pub da Amy, ali em Camden [bairro boêmio de Londres], onde as pessoas pagariam dez libras para tirar foto com ela", diz Brandão, 35, integrante de um grupo de pagode. "Mas precisamos decidir rápido. Semana que vem, no máximo." Hoje faz uma semana e um dia que Amy Winehouse morreu.

"Foi o show mais dolorido da minha vida, o do sábado em que ela se foi. Saí do palco às 4h da manhã, chorando"
MIRANDA KASSIN
Cantora que desde 2008 apresenta músicas de Winehouse e outras divas do soul em seu show


"Tinha acabado de ir dormir quando meu celular tocou e recebi a notícia. Só pensei "não, não, não!", que nem a música ['Rehab']"
CARINA BRANDÃO
Sósia que trabalhou em uma cachaçaria dois dias depois da morte da cantora



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