São Paulo, sexta, 31 de julho de 1998

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DISCO - LANÇAMENTO
Nana Caymmi defende direito de não mudar

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local

Pressionada pela dúvida de mudar ou não mudar, Nana Caymmi, 56, sempre opta por não mudar. "Resposta ao Tempo", seu novo CD, é mais um tomo de uma história constante no seio da MPB: "A MPB é isso, essa bosta, o samba-canção abolerado, que veio do fado. Não muda", profere.
A cantora confessa que tem ímpetos de renovação. "Volta e meia digo: "Quero um disco igual a Sade, com bateria eletrônica, disco de surfista', ou um disco alegre, sem arranjo triste. Pensam que surtei, fiquei maluca. Aí vou escolher repertório, é a mesma coisa de sempre, não tem jeito."
Já em seguida, defende a não-mudança: "Só vou mudar no dia em que Roberto Carlos mudar. Cantoras vão ficando velhas, não podem mais pular no salão, aí têm que fazer acústico. Eu sempre fiz assim, vou fazer o quê?".
Agora, em "Resposta ao Tempo" -nome também da faixa que foi tema da minissérie "Hilda Furacão"-, tem justificativa adicional para se manter fiel aos boleros: "Justo agora que estão botando atenção vou mudar? Precisou da Globo, da Hilda Furacona, para a gravadora acordar, me notar".
A sequência lógica é colocar fogo na indústria local: "As gravadoras são um bando de merdas. Não querem ter trabalho, só ganhar dinheiro com o trabalho do artista. Aqui não há lei trabalhista".
Mais: "Estou fazendo este disco há um ano, mas nem estúdio para gravar eu tinha. A política da minha gravadora (EMI) é mais velha que papai. Os artistas menos talentosos vão gravar fora do país, precisam de recurso pra convencer. Aqui fica um monte de lixo gravando, eu tenho que esperar".
Tais dificuldades colaboram até para que seus convidados -Chico Buarque, Erasmo Carlos e Emílio Santiago- gravem duetos com Nana sem nem encontrá-la. Tudo bem para ela: "Para que encontrar? Vira brincadeira, pilhéria, o cara fica nervoso, a voz não dá certo. Melhor assim".
Quanto ao processo de criação de um disco, ela se diz desconexa. "Meu enfoque de fazer música é um horror, o disco não tem história, não tem nexo."
Há um critério, ao menos: "Quando há um massacre em cima de um compositor, que todo mundo começa a gravar, eu me recolho. O Chico, por exemplo, mal escreve uma canção e 30 mil pessoas gravam. Vira lugar-comum. Por isso escolhi "Até Pensei', que todo mundo esqueceu".

Disco: Resposta ao Tempo Artista: Nana Caymmi Lançamento: EMI Quanto: R$ 18, em média


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