São Paulo, Sábado, 31 de Julho de 1999
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CRÍTICA PARALAMAS DO SUCESSO
Sopros inundam "Acústico MTV"

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local


Em 97, os Titãs emplacaram no Brasil o formato acústico de cordas mil, e foi uma enxurrada. Em 99, os Paralamas do Sucesso inauguram o acústico de sopros a granel, e é uma ventania.
Tudo isso acontece depois que a MTV norte-americana, dispersora do modismo, aposentou-o sem mais delongas, convencida da rapidez com que as teias de aranha cobrem a mobília.
Bem, não o aposentou de fato, mas sim o exportou ao quintal subdesenvolvido, onde a coisa mantém o vapor e ajuda a salvar da extinção bandas sem novos idéias e/ou golpes de marketing.
Após "Hey Na Na" (98), CD coeso, mas sem repercussão, Paralamas entram nessa parada. Sabem que há muitas teias a espanar e pisam o desvio investindo no naco mais fino de sua produção.
O esforço é evidente, mas isso não significa que os Paralamas digam coisa qualquer em seu "Acústico MTV". Se dizem, fazem-no revigorando o círculo vicioso que fez da insistência obsessiva em cordas meladas e sopros latinizados as pragas do pop brasileiro dito não populista dos 90.
Não dá para levar a sério algumas de suas pretensas "ousadias". Cantarem "Manguetown", de Chico Science & Nação Zumbi -terreno estranho à latinidade Mercosul do trio brasiliense- forrando-a de sopros caribenhos é apropriação indébita.
Pior, entrechocar os funks gastos "I Feel Good", de James Brown, e "Sossego", de Tim Maia, é de uma obviedade constrangedora; parece medo de ter novas idéias que não sejam consumidas por milhões. Esses meninos não eram assim em 1984.
Há os contra-exemplos. Se a ventania amaina e os violões conseguem se impor, alguma poeira sai do chão -pena que isso ocorra no interior das faixas; "Tendo a Lua" e "Que País É Este" (da Legião Urbana), de boa resolução em geral, despencam quando sax, trombone e trompete carregam baladas lunáticas e até o coitado do Renato Russo para o Caribe.
Acertam mais quando são prosaicos, no pop solto de "Caleidoscópio", "Uns Dias", "Nebulosa do Amor". "O Trem da Juventude" não peca por roubar pegada de "Taxman" (66), dos Beatles -o trem veloz da juventude já partiu mesmo.
"Life During Wartime" (dos Talking Heads) reestreita os velhos laços entre David Byrne e Herbert Vianna -e se sabe aqui qual é a turma em questão. "Feira Moderna", de Fernando Brant, Beto Guedes e Lô Borges, transpira honestidade -nos domínios do hippismo tardio, entre Milton Nascimento e Samuel Rosa havia, mesmo, um Herbert Vianna.
Fica assim então. O pop brasileiro navega em rio sem corredeira. Enquanto o barquinho vem e vai, mais vivas à rainha da Inglaterra, a Fidel Castro, à poupança Bamerindus e aos acústicos MTV. Um dia a lusitana roda.


Avaliação:  


Disco: Acústico MTV Grupo: Os Paralamas do Sucesso Lançamento: EMI Quanto: R$ 18, em média

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