São Paulo, quinta-feira, 31 de agosto de 2006

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"Tarantino é tarado por pés"

Uma Thurman fala de seu novo filme, "Minha Super Ex-Namorada", e da obsessão do diretor de "Kill Bill"

Em entrevista, a atriz norte-americana diz que "superpoderes na cama também fariam bem a qualquer mulher"

TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM NOVA YORK

Ela já foi enterrada viva (em "Kill Bill"), ajudou a relançar a carreira de John Travolta com uma dancinha e uma overdose (em "Pulp Fiction"), foi iniciada sexualmente por John Malkovich (em "Ligações Perigosas") e agora aprende a voar e a combater o crime. Mas não anda nada bem. Não porque seus superpoderes estejam falhando. É que em "Minha Super Ex-Namorada", que estréia amanhã no Brasil, Uma Thurman interpreta o pesadelo básico de todo homem.
Ela encarna uma ex-namorada ciumenta, neurótica, paranóica, com visão de raio-x, força de estivador e habilidade de voar. "A ficção científica é só um apêndice. O filme na verdade é uma comédia romântica", disse o diretor, Ivan Reitman (de "Os Caça-Fantasmas"), à Folha no lançamento do filme nos EUA, no mês passado. "Ou uma tragédia romântica, se você pensar do ponto de vista do personagem masculino." No caso, o ator Luke Wilson, o irmão sem talento do engraçado Owen Wilson.
A Folha participou da entrevista que Uma Thurman, 36, separada desde 2004 do ator Ethan Hawke, deu à imprensa estrangeira em Nova York. A seguir ela fala sobre o filme e outros temas, a começar pela fixação de Quentin Tarantino por seus pés tamanho 41.
 

TARANTINO E OS PÉS
Não tenho a menor obsessão por meus pés. São imensos. Mas há muitos diretores que gostam muito de pés e muitos homens que também são fissurados. Quentin, que foi quem começou com essa história de mostrar os meus pés [em close-up em "Kill Bill"], é completamente tarado por pés e fala sobre isso abertamente. A culpa é toda dele, agora todos sabem como são os meus pés, e quem já tem uma queda pelo assunto pensa em mim. E eu odeio meus pés, eles são enormes!

SUPERPODERES
Quando estou me sentindo angustiada, gostaria de poder voar. Superpoderes na cama também fariam muito bem a qualquer mulher.

DIRETORES
Há vários diretores com quem eu gostaria de trabalhar, mas não vou mencionar nenhum nome só para não botar ninguém contra a parede. Procuro escolher trabalhos que sejam inovadores, que me desafiem. Não tenho a menor atração por trabalhar por trabalhar, quero fazer coisas diferentes, que me levem a pensar em coisas diferentes. E pessoas como eu, que gostam de testar idéias malucas, devem muito ao diretor. Se eles usassem um dos inúmeros takes em que apareço ridícula, ninguém mais se interessaria por mim como atriz.

GÊNEROS
Quando você pula de um gênero para outro, como eu gosto de fazer, em filmes que não são feitos sob medida para mim, mas sim para eles mesmos, e eu sou escalada como atriz e preciso descobrir como me virar e aprender a ser aquele personagem, você aprende muita coisa. Cada trabalho faz isso -com a exceção de um ou dois, que foram odiáveis e prefiro não mencionar. Mostra algo meu que eu não conhecia ou me faz desenvolver uma característica que eu realmente não tinha. Acho que nunca deixei um set de filmagem sem aprender alguma coisa, mas é difícil saber exatamente o quê.
Não fiz e não tenho vontade de fazer um filme de terror como "Jogos Mortais". Não me agrada, acho que não gostaria do processo nem do produto. Gosto mesmo é de fazer filmes contemporâneos. Quando me vejo arrastando um vestidão ultra-apertado na cintura por um castelo, o que eu já fiz ["Ligações Perigosas", 1988], fico sem saber por que, exatamente, estou fazendo aquilo. Sou muito curiosa sobre o que se passa no mundo agora, como o amor acontece nos dias de hoje, como a política e a economia interferem nas nossas vidas agora. Só tenho interesse no passado se ele reflete alguma coisa que estamos vivendo.

INSPIRAÇÃO
Este filme é uma comédia romântica muito fiel ao seu gênero, com uma pequena reviravolta, que é ela ser uma super-heroína. Quando era mais nova, eu lia muitas HQs, então tinha um arsenal de informações armazenadas na minha memória que podia usar como inspiração. Eu e minha família moramos um ano na Índia quando eu era bem nova e não tínhamos TV, então eu costumava alugar HQs de uma loja. Por isso sou fã de "X-Men" há muito tempo. Era apaixonada pelo Wolverine.

"SUPERPODER" DA FAMA
Nunca me senti assim. Trabalho para diretores que são artistas malucos e para roteiristas que me inspiram. Encontrar bons papéis é quase um milagre. Construí minha carreira de um modo artesanal, quase como uma teia de aranha, muito frágil e delicada. Nunca fiz blockbusters, nunca procurei esse tipo de filme. Já estive no topo da lista "A" de Hollywood e também já estive na "D". Fui e voltei de uma e de outra não sei quantas vezes. Sobreviver como atriz é um milagre.


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