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Crítica/"Paranóia"
Suspense maltrata argumento genial de "Janela Indiscreta"
CRÍTICO DA FOLHA
Refilmagens e reciclagens são procedimentos comuns ao cinema
desde que os irmãos Lumière
refizeram alguns de seus primeiros curtas para aperfeiçoar
detalhes. Em maior ou menor
grau, todos os cineastas recorrem a isso. Os mais inventivos
dialogam com a tradição. Os
medíocres a maltratam.
"Paranóia" representa o segundo grupo, ao reduzir um argumento de primeira -o de
"Janela Indiscreta" (1954), de
Alfred Hitchcock, um grande
mestre em reciclagem- ao que
ele tem de mais óbvio.
A selva urbana de Manhattan
é trocada por um subúrbio de
classe média; o protagonista
adulto, por um adolescente
(Shia LaBeouf). O "acidente"
que o prende em casa é de origem sentimentalóide: responsável pela morte do pai, fica
traumatizado e bate no professor latino, mas o juiz bonzinho
o condena à prisão domiciliar.
Com tempo livre, e sem que a
mãe (Carrie-Anne Moss, de
"Matrix") saiba, começa a bisbilhotar a vizinhança. Movimentos suspeitos de um sujeito
misterioso (David Morse) o levam a uma investigação amadora em companhia de um
amigo (Aaron Yoo), estereótipo
do oriental boa-praça, e de uma
loirinha recém-chegada ao
bairro (Sarah Roemer).
As lentes do fotógrafo de "Janela Indiscreta" são substituídas por uma câmera digital e telefones celulares têm quase o
status de personagem. O uso
dessa parafernália só amplia as
incongruências da trama.
Por fim, um bocado de violência. Está certo que "Janela
Indiscreta" mirava o público
adulto e "Paranóia" quer o adolescente, mas tem gente aí subestimando o espectador -ou,
o que seria muito pior, acertando na mosca.
(SR)
PARANÓIA
Direção: D.J. Caruso
Produção: EUA, 2007
Com: Shia LaBeouf, David Morse
Quando: em cartaz nos cines Eldorado, Metrô Santa Cruz e circuito
Avaliação: ruim
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