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Filme de Eliane Caffé tem pré-estréia na cidadezinha em que foi rodado, no vale do Jequitinhonha, e chega a São Paulo nesta semana
"Kenoma" faz caminho de volta do sertão de Minas a São Paulo
ALEXANDRE MARON
enviado especial a Araçuaí (MG)
Quando o filme "Kenoma", dirigido por Eliane Caffé, 36, estrear
na próxima sexta em São Paulo, a
experiência vivida pelos espectadores acomodados nas poltronas
das salas refrigeradas será muito
diferente do que aconteceu no último dia 23 de agosto.
No início daquela noite, em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha
(MG), cerca de 7.000 pessoas, de
pé, já se acotovelavam nos arredores do Mercado Municipal, um
prédio com 2500 m2 na área central da cidade. Eram apenas 18h30
e a projeção ao ar livre do filme
"Kenoma" estava programada
para as 20h30.
Araçuaí teve uma sala de projeção há muito tempo, cerca de 25
anos. No dia 23, por algumas horas, a cidade ganhou um cinema
novamente.
No palco armado em frente ao
mercado, cinco corais se apresentavam cantando músicas típicas
da região. Noutro dia seriam ovacionados. Naquela noite, todos esperavam ansiosos e pediam que o
filme começasse logo.
Depois das apresentações musicais, emocionada, Eliane Caffé falou na importância daquele filme
para ela e para todos ali. Ela foi rápida, também queria que tudo começasse logo. Ia assistir a outro filme. Queria ver as expressões dos
rostos de sua audiência.
Na primeira fila, os cidadãos do
município que participaram das
filmagens esperavam para se ver
na tela. Sua primeira experiência
com o cinema já os trazia como
personagens da trama, expostos
na tela de 7m x 12m, pintada em
branco na parede do mercado.
Convidados especiais
A maior parte dos convidados
que ocupavam a primeira fila viera
diretamente do pequeno vilarejo
de Itira, a cerca de 19 km de Araçuaí. Foi a vila que serviu de cenário para a cidade fictícia de Kenoma, que aparece no filme.
Para esses convidados assistir ao
filme tinha o atrativo especial do
ineditismo. Acostumados à TV,
não imaginavam que a tela de cinema fosse tão grande.
"É engraçado me ver lá, enorme", disse, após a projeção, Ana
Rita Pereira dos Santos, 36, cinco
filhos e algumas lágrimas mal disfarçadas nos olhos. O marido, embriagado, não queria que ela fosse
assistir ao filme. Só no fim da tarde
ela conseguiu convencê-lo: prometeu que voltava cedo.
A telefonista de Itira, Rosimeire
Rodrigues Jardim, 31, considerou
a história interessante, embora
ache a máquina que aparece no filme "impossível de ser feita".
Ela faz, no filme, par com Luiz
Gonzaga de Assis, 68, que aparece
como o atendente do bar da cidade. Ele, um dos poucos que assistiram a filmes no antigo cinema da
cidade, se resumiu a dizer que seria bom ter outros filmes sendo
produzidos na cidade. "O desemprego é muito alto", diz.
A cidade de Araçuaí, com 34.379
habitantes, segundo o censo populacional de 1996, é a maior do
vale do Jequitinhonha. O local
vem sendo castigado pela pior seca dos últimos cinco anos e não vê
chuva há pelo menos 11 meses.
No ano passado, as filmagens de
"Kenoma" se transformaram
num grande acontecimento e empregaram cerca de 130 pessoas na
região. Na véspera da projeção, no
dia 22, a equipe de produção foi
homenageada com o "Forró Kenoma". Ninguém do grupo pagou
pela cerveja.
Uma lembrança tornou-se monumento da cidade: a roda maior
da máquina de moto-perpétuo
que aparece no filme, com cerca
de 5m de diâmetro, está exposta
próxima à rodoviária e ao Mercado Municipal, onde aconteceu a
projeção.
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