São Paulo, quarta-feira, 31 de outubro de 2007

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31ª Mostra de SP - Crítica

"Dol" retrata conflito com a Turquia sob rara perspectiva curda

Diretor que fugiu da ditadura iraquiana dá versão parcial, mas traz informação fundamental sobre zona em ebulição

LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO

Para quem tem acompanhado as tensões na fronteira entre Turquia e Iraque, "Dol" é a chance de ver "o outro lado" de uma crise que tem feito os EUA coçarem a cabeça diante da hipótese de ver um aliado militar invadir o único lugar relativamente calmo no caótico país ocupado por suas tropas. É nesse lugar onde o governo turco quer reprimir guerrilheiros que atacam seus soldados -o Curdistão iraquiano, região semi-autônoma do país- onde o diretor Hiner Saleem nasceu e viveu até os 17, quando fugiu da então incipiente ditadura de Saddam Hussein para a Europa.
Neste seu quinto filme, o diretor ("Vodka Lemon" e "Kilômetro Zero") segue focando seu povo. Donos de língua, cultura e história próprias, mas não de um Estado, os 30 milhões de curdos se espalham por Armênia, Síria, Irã, Iraque e, sobretudo, Turquia, onde formam uma reprimida minoria de 15 milhões entre os 70 milhões de habitantes do país.
É na tensa fronteira de onde Saleem parte para contar a história do simplório Azad, que vaga pelo território curdo depois de ter sua festa de casamento interrompida por uma ação militar turca. Topa com personagens que vestem com romantismo dois arquétipos de seu povo: Taman, operadora de uma rádio clandestina dos guerrilheiros separatistas, e Cheto, o curdo europeizado que volta de Paris após a ossada de sua irmã ser achada numa das valas comuns de Saddam.
Não espere imparcialidade, Saleem dá apenas uma versão -doída e penosa- dos fatos. Mas porque pouco se registra do ponto de vista curdo, o que o diretor traz é informação complementar fundamental.


DOL
Produção:
Curdistão, França e Alemanha
Direção: Hiner Saleem
Com: Nazmi Kirik e Belcim Bilgin
Quando: hoje, às 15h40, no HSBC Belas Artes
Avaliação: regular

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