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31ª Mostra de SP - Crítica
"Dol" retrata conflito com a Turquia sob rara perspectiva curda
Diretor que fugiu da ditadura iraquiana dá versão parcial, mas traz informação fundamental sobre zona em ebulição
LUCIANA COELHO
EDITORA-ADJUNTA DE MUNDO
Para quem tem acompanhado as tensões na
fronteira entre Turquia
e Iraque, "Dol" é a chance de
ver "o outro lado" de uma crise
que tem feito os EUA coçarem a
cabeça diante da hipótese de
ver um aliado militar invadir o
único lugar relativamente calmo no caótico país ocupado por
suas tropas. É nesse lugar onde
o governo turco quer reprimir
guerrilheiros que atacam seus
soldados -o Curdistão iraquiano, região semi-autônoma do
país- onde o diretor Hiner Saleem nasceu e viveu até os 17,
quando fugiu da então incipiente ditadura de Saddam
Hussein para a Europa.
Neste seu quinto filme, o diretor ("Vodka Lemon" e "Kilômetro Zero") segue focando
seu povo. Donos de língua, cultura e história próprias, mas
não de um Estado, os 30 milhões de curdos se espalham
por Armênia, Síria, Irã, Iraque
e, sobretudo, Turquia, onde
formam uma reprimida minoria de 15 milhões entre os 70
milhões de habitantes do país.
É na tensa fronteira de onde
Saleem parte para contar a história do simplório Azad, que vaga pelo território curdo depois
de ter sua festa de casamento
interrompida por uma ação militar turca. Topa com personagens que vestem com romantismo dois arquétipos de seu
povo: Taman, operadora de
uma rádio clandestina dos
guerrilheiros separatistas, e
Cheto, o curdo europeizado
que volta de Paris após a ossada
de sua irmã ser achada numa
das valas comuns de Saddam.
Não espere imparcialidade,
Saleem dá apenas uma versão
-doída e penosa- dos fatos.
Mas porque pouco se registra
do ponto de vista curdo, o que o
diretor traz é informação complementar fundamental.
DOL
Produção: Curdistão, França e Alemanha
Direção: Hiner Saleem
Com: Nazmi Kirik e Belcim Bilgin
Quando: hoje, às 15h40, no HSBC Belas Artes
Avaliação: regular
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