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Crítica/show/ "Banda Larga de Cordel"
Gil mistura temas atemporais com "parafernália" futurista
Em show que chega hoje a SP, ex-ministro usa três guitarras e outros ruídos pop
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Soa um toque de celular,
seguido de outros ruídos
produzidos pelo teclado,
e Gilberto Gil adentra o palco
carregando a terceira guitarra
de sua banda. É a parafernália
coerente com as idéias de "Banda Larga Cordel" -a música de
abertura, o disco, o show nascido do disco.
A turnê chega hoje ao Citibank Hall, em São Paulo, depois de passar por vários países
e, há duas semanas, pelo Rio.
Ela começou com Gil ministro da Cultura e, mostra agora,
três meses depois da saída do
cargo, um Gil mais leve em seu
macacão (saruel, diz uma fonte
feminina) preto. No palco como no gabinete, ele tenta casar
elementos marcadamente brasileiros com a falta de fronteiras das novas tecnologias e da
cultura pop.
Os momentos mais fortes do
espetáculo, no entanto, são
aqueles em que Gil baixa a voltagem alimentada por sons e
signos contemporâneos e põe
voz e versos a serviço de temas
atemporais.
Cantadas em seqüência, "O
Oco do Mundo" e "Não Tenho
Medo da Morte", faixas do último CD, emocionam com belas
e intensas letras, além de despojamento sonoro e alguns
efeitos visuais -na primeira,
o rosto de Gil brilha no palco
escuro e um tambor "dubla"
suas batidas no peito. "Se Eu
Quiser Falar com Deus", com a
força intacta, fecha esse bloco
"filosófico".
O bloco imediatamente anterior é um bem-humorado baião
de dois -na verdade, dois subgêneros do baião: o xote "Despedida de Solteira", que conta a
maliciosa união entre duas "cabritas", e o xaxado "Não Grude
Não", brincadeira pró-solteirice. Cantor e público têm aqui o
primeiro instante de grande comunicação.
O quase-samba-de-breque
"Gueixa no Tatame" não tem o
humor dos melhores momentos do gênero. Bem mais mordaz é "Olho Mágico", jogos de
palavras que parecem desconcertar parte do público: "Você
quer ver um piolho/ No pêlo da
minha púbis/ (...) Quer alho,
quer alho".
Ainda no repertório do novo
CD, uma homenagem à sua
mulher, Flora -a canção "A Faca e o Queijo"- e uma parceria
com o compadre Jorge Mautner: "Os Pais" fala sobre as
agruras dos dias de hoje.
Pop setentista
Possivelmente por enxergar
afinidade com sua fase banda-larga, Gilberto Gil revive exemplares das incursões na música
pop que fez nos anos 70 e 80,
como "Extra 2 (O Rock do Segurança)", "Sarará Miolo",
"Realce", "Palco", "Tempo
Rei", "Vamos Fugir" e "No Woman No Cry" -além de uma
versão reggae de "Something"
(George Harrison).
De todas, a que mais parece
ter sofrido com a passagem do
tempo é "Realce", com sua carga metafórica não muito brilhante (sem trocadilho) e seu
pop sub-Stevie Wonder. O próprio Gil disse no Rio, antes de
cantá-la: "É uma velha canção,
já ficou velhinha". Felizmente,
o show é bem mais do que essa
visita ao que era futuro lá no
passado.
BANDA LARGA CORDEL
Quando: hoje e amanhã, às 22h
Onde: Citibank Hall (av. dos Jamaris, 213, Moema, 0/xx/11/6846-6040)
Quanto: de R$ 70 a R$ 140
Classificação: não é permitida a entrada de menores de 14 anos; com
14 e 15 anos, só acompanhados de
pais ou responsáveis legais
Avaliação: bom
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