São Paulo, sexta-feira, 31 de outubro de 2008

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Crítica/show/ "Banda Larga de Cordel"

Gil mistura temas atemporais com "parafernália" futurista

Em show que chega hoje a SP, ex-ministro usa três guitarras e outros ruídos pop

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Soa um toque de celular, seguido de outros ruídos produzidos pelo teclado, e Gilberto Gil adentra o palco carregando a terceira guitarra de sua banda. É a parafernália coerente com as idéias de "Banda Larga Cordel" -a música de abertura, o disco, o show nascido do disco. A turnê chega hoje ao Citibank Hall, em São Paulo, depois de passar por vários países e, há duas semanas, pelo Rio.
Ela começou com Gil ministro da Cultura e, mostra agora, três meses depois da saída do cargo, um Gil mais leve em seu macacão (saruel, diz uma fonte feminina) preto. No palco como no gabinete, ele tenta casar elementos marcadamente brasileiros com a falta de fronteiras das novas tecnologias e da cultura pop.
Os momentos mais fortes do espetáculo, no entanto, são aqueles em que Gil baixa a voltagem alimentada por sons e signos contemporâneos e põe voz e versos a serviço de temas atemporais.
Cantadas em seqüência, "O Oco do Mundo" e "Não Tenho Medo da Morte", faixas do último CD, emocionam com belas e intensas letras, além de despojamento sonoro e alguns efeitos visuais -na primeira, o rosto de Gil brilha no palco escuro e um tambor "dubla" suas batidas no peito. "Se Eu Quiser Falar com Deus", com a força intacta, fecha esse bloco "filosófico".
O bloco imediatamente anterior é um bem-humorado baião de dois -na verdade, dois subgêneros do baião: o xote "Despedida de Solteira", que conta a maliciosa união entre duas "cabritas", e o xaxado "Não Grude Não", brincadeira pró-solteirice. Cantor e público têm aqui o primeiro instante de grande comunicação. O quase-samba-de-breque "Gueixa no Tatame" não tem o humor dos melhores momentos do gênero. Bem mais mordaz é "Olho Mágico", jogos de palavras que parecem desconcertar parte do público: "Você quer ver um piolho/ No pêlo da minha púbis/ (...) Quer alho, quer alho".
Ainda no repertório do novo CD, uma homenagem à sua mulher, Flora -a canção "A Faca e o Queijo"- e uma parceria com o compadre Jorge Mautner: "Os Pais" fala sobre as agruras dos dias de hoje.

Pop setentista
Possivelmente por enxergar afinidade com sua fase banda-larga, Gilberto Gil revive exemplares das incursões na música pop que fez nos anos 70 e 80, como "Extra 2 (O Rock do Segurança)", "Sarará Miolo", "Realce", "Palco", "Tempo Rei", "Vamos Fugir" e "No Woman No Cry" -além de uma versão reggae de "Something" (George Harrison).
De todas, a que mais parece ter sofrido com a passagem do tempo é "Realce", com sua carga metafórica não muito brilhante (sem trocadilho) e seu pop sub-Stevie Wonder. O próprio Gil disse no Rio, antes de cantá-la: "É uma velha canção, já ficou velhinha". Felizmente, o show é bem mais do que essa visita ao que era futuro lá no passado.


BANDA LARGA CORDEL
Quando: hoje e amanhã, às 22h
Onde: Citibank Hall (av. dos Jamaris, 213, Moema, 0/xx/11/6846-6040)
Quanto: de R$ 70 a R$ 140
Classificação: não é permitida a entrada de menores de 14 anos; com 14 e 15 anos, só acompanhados de pais ou responsáveis legais
Avaliação: bom



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