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LIVROS
Crítica/"Fascismo de Esquerda"
Ensaio analisa parentesco entre fascismo e comunismo
Jonah Goldberg diz que assalto à liberdade individual não começou no século 20
JOÃO PEREIRA COUTINHO
COLUNISTA DA FOLHA
Em ciência política, existem dois tipos de livros
que interessam: os originais e os importantes. Os originais alteram a nossa percepção do fenômeno político: "O
Príncipe", de Maquiavel, "Leviatã", de Hobbes, e "Sobre a Liberdade", de Stuart Mill.
Mas a ciência política não se
limita a livros originais. Também existem livros importantes, que relembram verdades
esquecidas, como "Fascismo de
Esquerda". Nada do que Jonah
Goldberg afirma é original. Mas
tudo é importante.
Quais as teses de Goldberg? A
primeira relembra que o "fascismo" é um fenômeno de "esquerda", e não de "direita". O
argumento, longe de polêmico,
é cada vez mais consensual.
Se "direita" e "esquerda"
emergem na Revolução Francesa como conceitos espaciais e
ideológicos, e se a Revolução
Francesa deságua em Robespierre e no Terror (primeira experiência totalitária da história
moderna), não é novidade que
"fascismo" e "comunismo", filhos bastardos de Rousseau e
de Marx, são "religiões políticas" que se situam à esquerda.
No fundo, "fascismo" e "comunismo" são ideologias revolucionárias e utópicas apostadas em refundar a natureza dos
homens rumo a um estado de
perfeição. E a vocação teleológica dessas duas tiranias implica, como se viu no século 20, a
substituição e a liquidação do
"império da lei" e da liberdade
individual, dois valores caros
ao liberalismo clássico.
Existe uma segunda tese que
importa lembrar: o assalto à liberdade individual não começou com os totalitarismos do
século 20. As sementes do pensamento fascista e a apologia da
planificação da sociedade pelo
Estado já se encontravam no
século 19, sobretudo na Alemanha. Lênin, Mussolini ou Hitler
não apareceram por acaso.
Os Estados Unidos também
não escaparam a um clima
"progressista" que revelava traços do fascismo. Com Woodrow Wilson e na Primeira
Guerra, a República conheceu
o uso maciço da propaganda e
da censura, ao mesmo tempo
em que se desenvolvia o tipo de
mentalidade coletivista que seria prolongada por Roosevelt.
A juntar a Wilson e a Roosevelt, Goldberg analisa também
o "culto à personalidade" (e à
juventude) promovido por
John F. Kennedy, o projeto assistencialista da "Grande Sociedade" de Johnson e até o
"conservadorismo compassivo" de George W. Bush.
À primeira vista, pode parecer exagerado pretender ver
nos democratas (e em Bush)
puras encarnações do fascismo
europeu. Goldberg, felizmente,
não comete esse erro grosseiro.
Goldberg sabe que, na violência
e na desumanidade, os totalitarismos do século 20 não tiveram paralelo com nenhum momento da história americana.
Porém, o objetivo de Goldberg é mais sutil: ele reafirma,
tal Friedrich Hayek em 1944,
que a servidão começa quando
os indivíduos permitem que o
Estado regule e determine o
que somos e fazemos.
É esse "fascismo simpático",
hoje disseminado pelo Ocidente, que normalmente precede
versões mais antipáticas.
FASCISMO DE ESQUERDA: A
HISTÓRIA SECRETA DO
ESQUERDISMO AMERICANO
Autor: Jonah Goldberg
Tradução: Maria Lucia de Oliveira
Editora: Record
Quanto: R$ 59,90 (546 págs.)
Avaliação: ótimo
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