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ODETE NÃO MORREU
Sucesso da reprise da novela "Vale Tudo" surpreende o canal Viva, que cria cotas de patrocínio às pressas a pedido de anunciantes e se arma contra pirataria; na internet, figurinos e gírias dos anos 80 são comentados em tempo real
Divulgação
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Beatriz Segall, a eterna Odete Roitman, e Nathalia Timberg, a Celina, em "Vale Tudo"
LAURA MATTOS
DE SÃO PAULO
Odete Roitman marcou a
sua passagem de volta ao
Brasil para 10 de novembro.
Nesta data será exibido o
29º capítulo da reprise de
"Vale Tudo", em que a grande vilã aparece na história.
Transmitida de maio de
1988 a janeiro de 1989, a novela foi um marco da TV ao
denunciar a corrupção no
Brasil e mobilizar telespectadores com a pergunta "Quem
matou Odete Roitman?".
A reapresentação vai ar no
Viva, canal pago da Globosat
que faz sucesso com programas antigos da TV Globo.
A volta de Odete Roitman,
22 anos depois, será comemorada com festa, na vida
real, por André Fischer, diretor do portal GLS Mix Brasil.
Desde que "Vale Tudo" entrou no ar, no início do mês,
ele está "enlouquecido". Deixa baladas para chegar em
casa antes da 0h45, quando o
capítulo começa. "Se vou
dormir cedo, coloco o despertador para esse horário."
Na primeira semana, a reprise levou o Viva à liderança
do Ibope da TV paga. No horário alternativo, ao meio-dia, só perde para os infantis.
O número de seguidores
do Twitter do canal triplicou,
e a novela se tornou um dos
assuntos mais comentados
na internet. Telespectadores-internautas, gays em especial, falam de tudo em tempo
real, de ombreira e cabelos
repicados a gírias como "eu
transo bem um fogão".
Tanto sucesso surpreendeu até Letícia Muhana, diretora do Viva. "Tínhamos pesquisas apontando que o público queria programas da
década de 80 para trás. Escolhemos "Vale Tudo" porque
foi marcante, mas nos espantamos com esse tsunami."
Às pressas, dois departamentos se mobilizaram. O comercial criou cotas de patrocínio para a novela, a pedido
de anunciantes. E o jurídico
se arma contra a pirataria dos
capítulos na internet.
Essa é a segunda vez que
"Vale Tudo" é reprisada. A
primeira foi em 92, no "Vale a
Pena Ver de Novo". Mas dois
fatores tornam a reapresentação atual mais badalada.
"Quatro anos foi um tempo curto, havia uma ressaca
da novela, que foi avassaladora. E hoje há as redes sociais da internet, fundamentais para esse sucesso."
O momento político do
Brasil de hoje também faz de
"Vale Tudo", produzida antes do impeachment de Collor, uma novela atual, para
Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia política da USP. "É lamentável
constatar que, após 22 anos,
a discussão política não evoluiu. Nessa campanha eleitoral, em vez de propostas, só
se falou de corrupção", diz.
Outra diferença crucial é
que, na primeira reprise, a
novela sofreu cortes, e nesta
está integral. "Respeitamos
até os blocos e não vamos tirar nem merchandisings",
afirma a diretora do Viva.
Isso acaba com o bafafá de
internautas de que Odete
Roitman, na reprise, poderia
ser morta por outra pessoa,
uma vez que, na época, a Globo fez cinco finais diferentes.
Gilberto Braga, autor da
novela em parceria com
Aguinaldo Silva e Leonor
Bassères, também sepulta a
hipótese. "Nem me lembro
quais foram os outros finais.
E, com toda a certeza, as fitas
foram apagadas", afirmou.
Odete pode até ter ressuscitado. Mas a mesma personagem de 1989 vai mandá-la
de volta para o inferno.
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