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Coma antes de dançar
Crítico gastronômico avalia comida servida em novos bares e casas noturnas da cidade
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Tempos atrás, fui instado (é
uma palavra leve) pelo jornal a
escrever sobre a comida da noite paulistana. A experiência
não deixou ótimas lembranças
(para mim), mas a impiedosa
chefia voltou à carga: é hora
de avaliar os lugares abertos
este ano.
"Quem sai na balada para comer?", pensei eu. Ninguém,
acredito. Mas tive que admitir
que muita gente possa ser acometida de uma fome inesperada no meio da noite. Além do
mais, dessa vez estão também
incluídas não somente danceterias, mas bares entre as casas
noturnas selecionadas.
Passada a meia-noite, constatei, existe ainda vida gourmet
em certos lugares da noite, por
mais que nenhuma prime pela
alta gastronomia. Muitas têm
cardápio assinado por chefs de
cozinha assim nomeados e
apresentados -coisa rara num
bar de antigamente.
Encontrei bares moderninhos e agradáveis, com um burburinho que não chega a enlouquecer e ideias interessantes à
mesa. Como o Z Carniceria, no
coração do baixo Augusta, instalado num antigo açougue/
matadouro dos anos 50 (e com
decoração lembrando este passado). Não há pratos, mas há
petiscos e sanduíches de inspiração retrô e divertida, assinados pelo chef Vitor Lagden.
O estilo meio trash deste
contrasta com o ambiente de
outro novo bar na mesma região: o Volt. Este é moderno, é
chique, tem exposição de néons
e um jardim vertical. Pequeno,
tem mesas onde se pode comer
com conforto.
A chef Diana Benevides fez
um cardápio curto de pratos leves e alguns mais substanciosos. Dá até vontade de tomar
bons vinhos com aqueles pratos bem apresentados, mas a
oferta é fraca.
Drink aguado
O Squat, nos Jardins, também é um bar com pegada de
restaurante. Decorado com dezenas de objetos recolhidos em
várias partes do mundo, tem
uma proposta gastronômica
curiosa: servir comidas de rua
ou pratos de fim de noite de vários países. Mas nem sempre a
cozinha acerta a mão e meu dry
martini veio aguado!
Mas é hora de mergulhar na
balada. O Sonique é um bom
começo: tem pinta de pré-balada, com música e pista de dança, mas funciona mais cedo e
tem ambientes com alma de
lounge.
Sua arquitetura brutalista
consegue promover algum
aconchego nos sofás; e embora
a música eletrônica, com seus
combustíveis adequados, possa
favorecer vibrações interiores e
coletivas, ela certamente atrapalha a conversa e, para quem
insiste, a concentração na comida. ("Coma-se com um barulho desses!", gritei eu em meu
artigo anterior).
No Sonique, ao menos senti
um esforço de tornar esta atividade menos sofrida. Os pratos
são simples e reconfortantes. E
servidos em louças como cumbucas quadradas- que facilitam o manuseio mesmo para
quem está de pé, ou num sofá.
Menos mal.
Mas o Sonique fecha cedo. E
era necessário que este velho
jornalista, em nome de seu salário, não dormisse tão logo.
Amendoim
Então foi a vez do novo Hot
Hot, de ex-proprietários da
Lov.E, com um túnel negro na
entrada e uma pista de dança
com um som tecnicamente maravilhoso. Cheguei antes da
meia-noite, para saber que só
abriria bem depois. Fome, tédio, incômodo com a sujeira
nas calçadas ao redor. O que fazer enquanto espero?
Que tal... comer? Claro. Corri
até uma cantina ali perto, e depois de uma massa, um bife e
um vinho, voltei revigorado. Fila na porta para entrar. Fila lá
dentro para colocar créditos no
cartão e poder consumir. E a
descoberta: não há nada para
comer a não ser amendoim,
chocolate e outros itens industriais, em máquinas.
Eu teria ficado faminto. Por
sorte (ou intuição? ou pura impaciência?), tinha me socorrido
antes na cantina ali perto. De
onde vem a lição para os notívagos da cidade: se for sair à
noite em busca dos novos
points, até poderá encontrar
bares onde comer. Mas se for
para a balada mesmo, coma antes de sair. Ou de chegar.
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