São Paulo, quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coma antes de dançar

Crítico gastronômico avalia comida servida em novos bares e casas noturnas da cidade

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Tempos atrás, fui instado (é uma palavra leve) pelo jornal a escrever sobre a comida da noite paulistana. A experiência não deixou ótimas lembranças (para mim), mas a impiedosa chefia voltou à carga: é hora de avaliar os lugares abertos este ano.
"Quem sai na balada para comer?", pensei eu. Ninguém, acredito. Mas tive que admitir que muita gente possa ser acometida de uma fome inesperada no meio da noite. Além do mais, dessa vez estão também incluídas não somente danceterias, mas bares entre as casas noturnas selecionadas.
Passada a meia-noite, constatei, existe ainda vida gourmet em certos lugares da noite, por mais que nenhuma prime pela alta gastronomia. Muitas têm cardápio assinado por chefs de cozinha assim nomeados e apresentados -coisa rara num bar de antigamente.
Encontrei bares moderninhos e agradáveis, com um burburinho que não chega a enlouquecer e ideias interessantes à mesa. Como o Z Carniceria, no coração do baixo Augusta, instalado num antigo açougue/ matadouro dos anos 50 (e com decoração lembrando este passado). Não há pratos, mas há petiscos e sanduíches de inspiração retrô e divertida, assinados pelo chef Vitor Lagden.
O estilo meio trash deste contrasta com o ambiente de outro novo bar na mesma região: o Volt. Este é moderno, é chique, tem exposição de néons e um jardim vertical. Pequeno, tem mesas onde se pode comer com conforto.
A chef Diana Benevides fez um cardápio curto de pratos leves e alguns mais substanciosos. Dá até vontade de tomar bons vinhos com aqueles pratos bem apresentados, mas a oferta é fraca.

Drink aguado
O Squat, nos Jardins, também é um bar com pegada de restaurante. Decorado com dezenas de objetos recolhidos em várias partes do mundo, tem uma proposta gastronômica curiosa: servir comidas de rua ou pratos de fim de noite de vários países. Mas nem sempre a cozinha acerta a mão e meu dry martini veio aguado!
Mas é hora de mergulhar na balada. O Sonique é um bom começo: tem pinta de pré-balada, com música e pista de dança, mas funciona mais cedo e tem ambientes com alma de lounge.
Sua arquitetura brutalista consegue promover algum aconchego nos sofás; e embora a música eletrônica, com seus combustíveis adequados, possa favorecer vibrações interiores e coletivas, ela certamente atrapalha a conversa e, para quem insiste, a concentração na comida. ("Coma-se com um barulho desses!", gritei eu em meu artigo anterior).
No Sonique, ao menos senti um esforço de tornar esta atividade menos sofrida. Os pratos são simples e reconfortantes. E servidos em louças como cumbucas quadradas- que facilitam o manuseio mesmo para quem está de pé, ou num sofá. Menos mal.
Mas o Sonique fecha cedo. E era necessário que este velho jornalista, em nome de seu salário, não dormisse tão logo.

Amendoim
Então foi a vez do novo Hot Hot, de ex-proprietários da Lov.E, com um túnel negro na entrada e uma pista de dança com um som tecnicamente maravilhoso. Cheguei antes da meia-noite, para saber que só abriria bem depois. Fome, tédio, incômodo com a sujeira nas calçadas ao redor. O que fazer enquanto espero?
Que tal... comer? Claro. Corri até uma cantina ali perto, e depois de uma massa, um bife e um vinho, voltei revigorado. Fila na porta para entrar. Fila lá dentro para colocar créditos no cartão e poder consumir. E a descoberta: não há nada para comer a não ser amendoim, chocolate e outros itens industriais, em máquinas.
Eu teria ficado faminto. Por sorte (ou intuição? ou pura impaciência?), tinha me socorrido antes na cantina ali perto. De onde vem a lição para os notívagos da cidade: se for sair à noite em busca dos novos points, até poderá encontrar bares onde comer. Mas se for para a balada mesmo, coma antes de sair. Ou de chegar.


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Comida: Olea Mozzarella Bar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.