|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ARTIGO
O ano dos mortos-vivos
Metáfora para alardes ambientais e epidemias, zumbis vão tomar o lugar dos vampiros como protagonistas de filmes e livros que sairão no Brasil em 2010
SANTIAGO NAZARIAN
ESPECIAL PARA A FOLHA
Se 2009 foi o ano dos vampiros, 2010 será o ano dos zumbis. Seguindo a onda de filmes e
séries de TV, a literatura estrangeira traz os mortos-vivos
em romances de terror, juvenis, satíricos e até mesmo num
romantismo açucarado.
São versões mais palatáveis
desse subgênero, que até então
era associado ao horror escatológico e ultraviolento, principalmente a partir da década de
1960, com a paranoia nuclear e
filmes como "A Noite dos Mortos-Vivos" (de 1968, dirigido
por George Romero).
No mercado editorial externo, é flagrante a enxurrada de
livros tratando do tema. E, em
2010, vários deles serão lançados no Brasil. A Intrínseca, que
publica os best-sellers da saga
"Crepúsculo" aqui, já anuncia
para o primeiro semestre o lançamento do insólito "Orgulho e
Preconceito e Zumbis", uma
sátira trash do clássico romântico de Jane Austen.
A obra, do americano Seth
Grahame Smith, foi publicada
lá fora este ano e virou um best-seller instantâneo do "New
York Times". É de pensar se
Austen não está (literalmente)
se revirando no túmulo.
A editora Record investe no
público adolescente com "Loiras Zumbis", do americano
Brian James, em que uma nova
aluna do colégio percebe que as
líderes de torcida são mais desmioladas do que parecem. É
uma sátira de humor negro
com tom lúdico, como vários
filmes já vêm fazendo (vide "Fido", de Andrew Currie, de
2006, em que zumbis são tratados como animais domésticos).
Já o romance "Warm Bodies" (ainda sem título em português), de Isaac Marion, que a
Leya lançará no Brasil no segundo semestre, deixa o humor
(e o horror) de lado e investe
numa visão romântica do tema.
Narrado em primeira pessoa
por um zumbi apaixonado, é
uma espécie putrefata de "Romeu e Julieta", em que o amor é
capaz de vencer todas as barreiras e até re-humanizar os mortos. Não é à toa que os direitos
da obra foram comprados para
o cinema pelos mesmos produtores de "Crepúsculo".
Na literatura brasileira, o
realismo tradicionalmente domina, e elementos fantásticos
ficam em sua maior parte restritos à literatura de gênero.
Mas não poderia deixar de citar
meu próprio romance, "O Prédio, o Tédio e o Menino Cego",
publicado este ano pela Record,
em que zumbis aparecem como
alegoria de uma sociedade pós-apocalíptica imbecilizada.
Alegoria que até me parece
óbvia, nos tempos de hoje, e
que também é reforçada pelos
alardes ambientais e as novas
epidemias. Os zumbis carregam essa imagem de infecção,
das doenças transmissíveis entre humanos e animais.
É nessa linha que segue o ótimo thriller "Hater", do inglês
David Moody, a ser publicado
no Brasil em março pela Arx.
Embora não seja precisamente
um livro de zumbis, trata de
uma epidemia que desperta
uma raiva repentina e irracional nos seres humanos. Também está prestes a virar filme.
Mas quem quer ir ainda mais
longe pode ir se preparando para 2011. A nova onda virá com
uma maré que já está se esboçando e que é trazida pela lua
cheia. Depois dos vampiros e
dos zumbis, a sequência se dará
de forma óbvia: será a vez dos
lobisomens.
SANTIAGO NAZARIAN é autor de "O Prédio, o
Tédio e o Menino Cego", entre outros
Texto Anterior: Livro revê 30 anos do Ornitorrinco Próximo Texto: Contardo Calligaris Índice
|