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Crítica - Conto

Temática complexa de "Região" reafirma a potência da ficção

Textos de Zulmira Ribeiro Tavares testam limites e possibilidades da arte

ADRIANO SCHWARTZ ESPECIAL PARA A FOLHA

O aviso está logo ali, antes mesmo de o livro começar: "Os personagens e as situações desta obra são reais apenas no universo da ficção: não se referem a pessoas e fatos concretos, e sobre eles não emitem opinião".

O curioso é que não parecem faltar a esta reunião de seis obras de Zulmira Ribeiro Tavares, "Região - Ficções Etc.", referências e opiniões, irônicas e transfiguradas, é claro, sobre fatos concretos, lugares concretos (e, eventualmente, pessoas concretas também...).

Daí Augusto Massi, em seu bom posfácio, discutir, a partir da rememoração dos principais textos da fortuna crítica sobre a autora, as variações de sua prosa ensaística.

Em um momento como o nosso, em que se impõe a urgência do real, do "baseado em fatos reais", do documental, dos realities shows, talvez valha a pena apontar na obra de Zulmira Ribeiro Tavares o que vai além disso, contra isso.

A tematização complexa e constante dos limites e possibilidades das artes, que atravessa o volume, a despeito da carga corrosiva, reafirma a potência do ficcional.

Isso ocorre tanto nos contos dos anos 1970, de "Termos de Comparação", quanto na narrativa recente, que dá título ao livro, "Região", no qual um jogo de palavras banal instaura a confusão de uma fábula rebaixada que quase se redime pela alegria de um narrador que exerce seu ofício, mostra a sua voz.

Talvez também não seja por outra razão que, em "Plácido e as Mentiras", o personagem pendure no teto as suas "mentiras móbiles".

Cito, a seguir, o final do miniconto: "O vento sopra do morro, entra no aposento, os móbiles entrechocam-se, emitem ruídos, engraçados próximos ao choro, ao riso, ao cacarejo. De fingidas que são, ao imitarem a vida fazem-se a própria: refazem velhas civilizações derruídas -são o limpo rumorejar das folhas".

Até o texto final do volume, o ensaio em que a autora compara o uso do absurdo em "As Reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato (1882-1948), e em "O Nariz", de Gógol (1809-1852), caminha um pouco nesse sentido, ainda que o estudo seja provavelmente o momento menos interessante do livro.


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