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Livro investiga ícones visuais do mundo

O historiador de arte britânico Martin Kemp lança trabalho sobre 11 imagens reconhecidas por várias culturas

Recém-publicado na Inglaterra, volume analisa a hélice do DNA, Jesus Cristo, Che e a garrafa da Coca-Cola

GABRIELA LONGMAN
DE SÃO PAULO

Numa era de profusão desenfreada de imagens, o historiador de arte britânico Martin Kemp procurou reduzir a iconografia ao essencial.

O que, afinal, uma hélice de DNA, uma garrafa de Coca-Cola e a "Monalisa" têm em comum? Nada, nos diz Kemp, mas os três ultrapassaram o conceito de imagem para se tornarem ícones.

Em seu novo livro, "Christ to Coke: How Images Become Icone" (de Cristo à Coca: como imagens se transformam em ícones, em tradução livre), recém-lançado na Inglaterra, Kemp retraça a história cultural de 11 desses emblemas, de Jesus Cristo -o "ícone dos ícones"- à formula de Einstein; de Che Guevara ao símbolo do coração.

No final da semana passada, Kemp falou à Folha por telefone. Atencioso, diz que não conhece São Paulo, mas fez questão de elogiar uma doutoranda brasileira. "É uma das melhores pesquisadoras da minha equipe."

Folha - Como nasceu o livro?

Martin Kemp - A ideia surgiu em 2003, quando fui convidado pela revista "Nature" a escrever um ensaio sobre a história visual da dupla hélice do DNA. Me dei conta de que aquela imagem havia ultrapassado seu primeiro uso e era usada em conteúdos médicos, comerciais. Comecei a estabelecer paralelos com a história de outras imagens, tentar refazer o caminho que cada uma delas percorreu.

Como definir uma imagem icônica?

O termo "ícone" vem do grego, "eikon" (imagem), e surgiu aplicado às imagens de devoção. A palavra também é usada para designar as imagens que adornavam as igrejas do Ocidente. Mas a mídia moderna tende a aplicar sem muito critério alguns termos, como "gênio" e "ícone", e a fazer com que eles percam sua força.

Existem falsos ícones?

Como eu coloco no livro, Elvis Presley, Marilyn Monroe ou Muhammad Ali são ícones em seus respectivos domínios e para minha geração. Mas o termo "ícone" vai sendo usado para celebridades passageiras ou muito locais e fica desgastado. Pelé é certamente um ícone, mas Tevez não é.

Se eu tiver que dar uma definição, diria que imagens ícones são as que atingiram um nível de reconhecimento excepcional e generalizado e que carregam consigo séries de associações variadas ao longo do tempo e de culturas variadas.

Como o senhor estabeleceu a lista de 11 ícones analisados no livro?

A ideia não era fazer um "top 11", mas juntar imagens em diferentes formatos: pinturas, símbolos, fotos. Aliás, a escolha na categoria "fotos" foi mais difícil do que em qualquer outra. Havia "Hasteamento da Bandeira em Iwo Jima", de Joe Rosenthal, ou o tiro no soldado espanhol, de Robert Capa. Mas foi preciso fazer escolhas.

Na definição de um emblema comercial, havia o símbolo da Nike ou o "M" do McDonald's, mas a garrafa de Coca-Cola, com seu logo gravado em letra cursiva, para mim se impôs, entre outras coisas, pelo tempo que perdura. E veja que eu não gosto de Coca-Cola.

No prefácio, o sr. menciona o viés ocidental do material

Tem a ver com as minhas áreas de estudo, mas também reflete uma realidade moderna: o Ocidente e a mídia ocidental dominaram a produção e a disseminação global de imagens.

Na China, a pintura mais importante é um enorme painel de Zhang Zeduan, feito entre o século 11 e o século 12. Com o crescimento da China e a sua transformação em potência global, pode ser que o painel de Zeduan assuma uma proeminência na iconografia.

CHRIST TO COKE

AUTOR Martin Kemp

EDITORA Oxford University Press

QUANTO US$ 22,71, cerca de R$ 41, na Amazon (352 págs.)

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