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Crítica - Romance

Trama de Nobel sul-africano surpreende pela simplicidade

LUIZ BRAS ESPECIAL PARA A FOLHA

Não resta dúvida de que o Nobel de Literatura sempre produz um efeito poderoso nos laureados. Quase sempre nefasto, de intimidação.

José Saramago publicou meia dúzia de romances após receber o Nobel de 1998. Mas nenhum tão bom quanto os romances publicados antes dessa premiação.

Com J. M. Coetzee parece estar acontecendo o mesmo fenômeno. Após receber o Nobel de 2003, o ficcionista sul-africano não publicou nada que se compare a "Vida e Época de Michael K" (1983) e "Desonra" (1999).

Seu romance mais recente, "A Infância de Jesus", lançado no Reino Unido em março deste ano, ainda não é a nova obra-prima de Coetzee.Mas não deixa de ser uma narrativa inesperada, que surpreende justamente pela eficaz simplicidade.

"A Infância de Jesus" é o romance de um Nobel da Literatura que, bastante seguro de seu talento, não pretendeu em momento algum jogar para a torcida.

Em busca de uma nova vida, imigrantes trocam de nome e cruzam o oceano até um país quase utópico, sem conflitos sociais ou angústias pessoais. Para os nativos, as palavras de ordem são "camaradagem" e "boa vontade".

O segredo de tanta harmonia é o esquecimento. Aos estrangeiros é pedido apenas isso: que deixem as lembranças totalmente para trás. Só assim a nova vida será feliz.

Mas o recém-chegado Simón está em conflito com essa exigência. Sombras do passado atrapalham sua adaptação nesse país dos esquecidos.

LEVEZA

A terra santa dos benditos e dos mansos, sem luxúria ou libertinagem, é uma chatice sem fim. Para complicar mais ainda sua situação, Simón se impôs uma demanda sagrada: encontrar a mãe de um menino que embarcara sozinho no mesmo navio.

No momento em que Simón cisma com uma mulher e a convence a ser a "verdadeira mãe biológica" do menino, materializa-se no romance, sem grandes efeitos cênicos, a sagrada família do Novo Testamento.

"A Infância de Jesus" é uma narrativa sobre a busca tão humana por uma segunda chance, com diálogos de conto de fadas, misturando platonismo e cristianismo.

Não é nada que se compare a outras narrativas aparentadas, como a obra-prima do escocês Alasdair Gray, "Lanark: uma Vida em Quatro Livros". Mas também não é nada iconoclasta ou pretensioso, pensado em primeiro lugar para o bisturi da crítica pós-moderna.

Em vez de um romance-de-prêmio-nobel, solene e pesadão, Coetzee permitiu-se escrever um divertimento para espíritos leves.


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