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Traços do holocausto

Em "O Diário de Helga", tcheca Helga Weiss, de 84 anos, resgata desenhos que ficaram guardados até 2010 para contar sua experiência em campos de concentração

FERNANDO DUARTE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LONDRES

Um dos maiores best-sellers da história, com mais de 30 milhões de cópias vendidas, "O Diário de Anne Frank'' se tornou uma referência sobre os horrores do nazismo, sob o prisma da angústia juvenil vivida por sua autora e protagonista.

O que Frank nunca proporcionou foi um relato sobre jovens vidas nos campos de concentração, tarefa cumprida por vários outras obras.

A diferença de "O Diário de Helga'' --as memórias da tcheca Helga Weiss publicadas agora no Brasil pela editora Intrínseca-- para outros livros sobre o Holocausto é que ele não se resume à narrativa escrita.

Artista plástica, Weiss, de 84 anos, desenhou desde cedo, e, graças à habilidade, pôde documentar de forma rara o cotidiano não só do notório campo de Auschwitz como do gueto de Terezin, na cidade tcheca de mesmo nome. Weiss foi enviada para lá com apenas 13 anos.

Desde então registrou, sempre às escondidas, detalhes de sua rotina. Não é apenas a inocência dos instantâneos das agruras que chama a atenção, mas também a evolução de traços e perspectivas, um domínio técnico adquirido em circunstâncias que não poderiam ser mais desafiadoras.

"Desenhar e escrever eram formas de tentar encontrar algum sentido em tudo aquilo o que passávamos, ao mesmo tempo em que servia como um desafio aos nazistas", afirmou Weiss em entrevista à Folha, durante uma visita promocional a Londres para o lançamento do livro.

"Tentaram nos privar de estudar, e desde cedo meus pais e outros prisioneiros pensavam além da barbárie, em como a educação seria importante para o pós-Guerra."

MENGELE

Aos 15 anos, Weiss foi enviada para Auschwitz junto com a mãe, Irena. Por puro acaso, escaparam das câmaras de gás num dia em que a separação de gente apta ou não para os trabalhos forçados foi feita pelo carrasco Joseph Mengele ("Já vi escrito que o persuadi a nos liberar, mas nem palavras trocamos'', conta a artista).

Ao contrário do pai, Otto, Helga e Irena sobreviveram --no caso de crianças e adolescentes enviados de Terezin para Auschwitz, cerca de cem entre 15 mil tiveram a mesma sorte.

No retorno à Praga, lutaram para recuperar o apartamento da família, no qual Weiss vive até hoje.

Depois dos horrores do nazismo, conviveram também com a opressão soviética. "Parecia que tudo iria começar novamente'', lembra a autora tcheca.

FANTASMAS

Embora participe de diversas atividades típicas de sobreviventes, como palestras, Weiss ainda luta contra os fantasmas do passado.

Por décadas os manuscritos e desenhos ficaram engavetados, e foi somente uma conversa com um agente literário britânico durante um concerto em homenagem a Terezin, realizado em Londres em 2010, que a convenceu a publicar os diários.

"Não aprendemos nada com o que aconteceu no Holocausto. Continuo vendo muita intolerância e opressão e espero que as pessoas que leiam o livro reflitam. Tanto pela tragédia mas também pelo lado da esperança."


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