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Passinho é novo fenômeno cultural do Rio

Dos morros para o asfalto, dança que mistura vários estilos, do frevo à capoeira, ganha documentário e um musical

"Batalha do Passinho" teve 722 inscritos e R$ 900 mil de patrocínio; final será no programa "Caldeirão do Huck"

MARCO AURÉLIO CANÔNICO DO RIO

Colado na grade em frente ao palco, na quadra do morro da Formiga, na zona norte do Rio, um garotinho acompanha os saltos e passos do dançarino e comenta com o colega ao lado: "Caraca, o moleque é sinistro".

De fato, Rene Assis, 20, é "sinistro" [gíria carioca para alguém que é muito bom] na dança conhecida como "passinho", o principal fenômeno dos morros cariocas nos últimos anos, já reverberando no asfalto.

Ele disputava, na noite do último dia 12, uma das 16 eliminatórias da terceira edição da "Batalha do Passinho".

Assim como os demais concorrentes, misturava em sua dança movimentos de break, frevo, samba, passos de Michael Jackson, capoeira e skate, quase tudo de forma improvisada.

"O passinho é muito antropofágico, ele assimila diversas danças", diz Emílio Domingos, 41, cientista social e diretor do documentário "A Batalha do Passinho", que será exibido no Festival In-Edit, em São Paulo, no dia 4/5.

"A característica do passinho é a performance que não se repete. Os garotos incorporam aquela música que está tocando e improvisam ao som dela", diz Domingos.

Dança associada ao funk carioca, a origem do passinho é incerta. O marco inicial mais citado é um vídeo ("Passinho Foda") postado no YouTube em 2008, que disseminou a moda e estimulou a molecada a criar suas variações.

LAN HOUSES

"O passinho é o primeiro produto estético da era das LAN houses", diz Julio Ludemir, 53, um dos criadores da "Batalha do Passinho", que neste ano ganhou patrocínio (R$ 900 mil da Coca-Cola) e teve 722 inscritos.

"Quando vi o menino botar frevo no funk, incorporando elementos da capoeira, tive certeza de que havia uma revolução cultural em curso."

Quem assiste à disputa nota logo que o visual dos competidores segue um padrão: bermuda até o joelho, camisetas coloridas, boné na cabeça --um ou outro usa calça justa e adereços como óculos coloridos sem lente.

A maioria dança descalça, batendo os pés no chão tantas vezes e com tanta força que não admira que alguns rachem a sola, como Rene, que disputou a final do morro da Formiga com o pé sangrando e venceu.

"Eu acho mais leve, mais solto, prefiro dançar descalço", diz o vencedor. "O tênis te permite entortar mais o pé, mas atrapalha na hora do pulo, quando eu pego o pé segurando pelo dedão."

Hoje, ele participa de uma disputa no Parque Madureira (zona norte do Rio) com outros 15 vencedores de eliminatórias. Os quatro primeiros irão ao "Caldeirão do Huck", da Rede Globo, no próximo dia 18, para a final.

MUSICAL

Todos os 16 finalistas vão participar de um musical teatral, "Na Batalha", que ainda está sendo planejado, com previsão de estreia neste ano.

"Meu esforço é para profissionalizar essa molecada, daí o musical", diz Ludemir. "Eles ainda não têm a convicção de que são artistas, que o que fazem deve ser remunerado. São grandes dançarinos, bailarinos, estão inventando algo tão importante quanto o samba, a capoeira."


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