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Crítica fotografia

Indefinição conceitual mina exposição em SP

Mal organizada, "Extremos" reúne imagens do admirável acervo da Maison Européenne de la Photographie

JORGE COLI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Desconfie. Quando uma exposição tem um título muito vago ou genérico, é sinal ruim. Sinal que, nela, pode entrar tudo e qualquer coisa. Quem foi ver a mostra "Extremos", no Instituto Moreira Salles, em São Paulo, sabe o que eu quero dizer.

A palavra extremo sugere excesso, transgressão, veemência, radicalismo, brutalidade, estranheza. Ora, o que está ali não é extremo nem para o jardim da infância, nem para o Facebook. Tudo bem comportado.

De Mapplethorpe, fotógrafo que de fato arrebenta fronteiras de toda compostura, escandaloso, provocador e censurado, há lá algumas fotos. São, sem dúvida, admiráveis -mas neutras, numa escolha que não quis arriscar.

O que reúne numa unidade as obras desse extremo tão moderado? Impossível saber. São fotos bem conhecidas.

Mas o que cargas d'água tem a ver o magnífico nu de Edward Weston com o testemunho de racismo que Elliott Erwitt captou em 1950 na Carolina do Norte? Ou com uma imagem que Neil Armstrong fez do colega astronauta na Lua? Ou com o tríptico amazônico de Claudia Jaguaribe? Ou com os flagrantes da classe média em New Brighton, de Martin Parr?

O tema geral foi dividido em seções chamadas de "Portfólios". Mas também não conseguem desenhar sentidos mais claros: subtítulos como "Do Elogio da Beleza à Estética da Transgressão" e "Do Horror ao Sublime" são tão elusivos e imprecisos como a denominação geral.

Para não morrer ignaro, o visitante, perdido, busca socorro no catálogo. Solta um suspiro de desconsolo porque se depara com frases assim: "Se o extremo nos toca, é porque assombra nossas noites. Não habitaria ele igualmente, muitas vezes sem que percebamos, nossos dias?".

Ou "o poder simbólico e alegórico da fotografia, bem como seu caráter documental, nos confronta com a dimensão extrema da vida que oscila entre o sublime e o horror".

O que diabos quer dizer tudo isso? E o pobre leitor, quando chega a "Extremo: quantas histórias extraordinárias escrevemos em seu nome!", manda tudo às favas.

Não deveria. Tudo, não. Sem dúvida, a mostra não tem pé nem cabeça, e a saturação das salas aumenta a confusão. É preciso concentrar-se para ver cada obra. Muito próximas, elas atrapalham-se umas às outras.

Mas as fotos que estão lá, em tiragens originais, são todas admiráveis. Pertencem ao acervo da Maison Européenne de la Photographie, centro internacional de primeira importância criado pela municipalidade de Paris.

Compensam a visita. Embora, de nenhum modo, formem aquilo que se pode chamar de uma exposição.

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EXTREMOS

QUANDO de ter. a sex., das 13h às 19h; sáb., 13h às 18h; até 27/11

ONDE IMS (r. Piauí, 844, São Paulo, tel. 0/xx/11/3825-2560)

QUANTO grátis

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