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Cinema - Crítica/Drama Novo filme de Gus van Sant tem ranço blasé Diretor de "Elefante" e "Paranoid Park" filma história de amor adolescente com a indiferença de um documentário INÁCIO ARAUJOCRÍTICO DA FOLHA
"Inquietos" é, como a maior parte do que faz Gus van Sant, um filme adolescente. Nada que se pareça com "Crepúsculo" ou "Harry Potter", no entanto: não é no registro do comercialismo que trabalha, mesmo em seus filmes mais comerciais, como "Milk". Algo, no entanto, parece distanciar "Inquietos" de "Elefante" ou "Paranoid Park": é a estranha aproximação entre fundo e forma que promove. O que fascina fortemente ali é o mistério da adolescência enunciado pelos personagens. Algo que pode lembrar certos trabalhos de Nicholas Ray, onde os garotos vagueiam sem compreender um mundo cujo sentido parece fechar-se a seus atos. Em "Inquietos", algo de "teen" se insinua no conteúdo mesmo. E isso desde o início: Enoch é um jovem e mórbido penetra de velórios. O que o leva a pensar com tal ímpeto, e quase em tempo integral, na morte nós saberemos ao longo do tempo. Annabel é a garota a quem encontra num velório. Ela estava lá por motivos diferentes dos dele, mas evita que Enoch seja expulso. Nasce daí, primeiro, uma amizade e, depois, um namoro fundado sobre identidades (visitar cemitérios é uma delas). No entanto, há um inquietante quê de super-8 dos anos 1970 nisso. Algo mais nos remete a essa época: Enoch e Annabel se apaixonam. Pouco depois, descobrimos que a ligação dela com a morte é mais imediata do que a do rapaz: ela tem câncer. Repassemos, então: um rapaz e uma moça se conhecem e se apaixonam; ela tem câncer. Não se nota, desde aí, uma estranha semelhança com o lacrimoso êxito de "Love Story - Uma História de Amor"? Mas, acima de tudo, "Inquietos" priva-nos do melodrama vulgar que lhe garantiria o sucesso. Mas também não trabalha a matéria que tem em mãos no sentido da inquietação. As cenas desfilam diante da tela quase que com a indiferença de um documentário. Assim, Enoch e Annabel passeando de ônibus ou Enoch invadindo a sala do médico a exigir que ele salve a namorada têm quase o mesmo peso dramático. Talvez tudo exista em função da última cena, em que aquilo que vimos (e não se pode contar aqui por motivos óbvios) ressurge e recupera a intensidade que o filme até então nos sonegara. Ainda assim é pouco para filme de um cineasta tão talentoso. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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