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Novo Coen faz graça com fracasso de músico folk
Irmãos diretores abordam cena dos anos 1960 que abriu caminho a Bob Dylan
Filme segue percalços de cantor fictício talentoso que não consegue se destacar em cenário careta
A ideia de Ethan e Joel Coen filmando a cena do folk nova-iorquino dos anos 1960 deixou muita gente salivando quando o projeto foi anunciado, no ano passado.
Afinal, o que os irmãos diretores de "Fargo" (1996), "Onde os Fracos Não Têm Vez" (2007) e outros tantos filmes obrigatórios fariam com a revolução musical e cultural que, liderada por Bob Dylan, tomou conta dos EUA?
A resposta foi dada no sábado, quando aplausos entusiasmados encerraram a primeira sessão de "Inside Llewyn Davis", no 66º Festival de Cannes. Tornou-se um dos favoritos à Palma de Ouro.
Mas a tragicomédia dos Coen não é um retrato sobre a geração de músicos politizados que ganhou fama na época. O filme acompanha o cantor fictício Llewyn Davis (Oscar Isaac) na busca pela fama (e dinheiro) que garantiria um casaco para suportar o frio ou o teto para dormir.
"O filme é sobre transição, não sobre sucesso", disse Ethan Coen. "Não queríamos falar do movimento que teve Dylan como transformador, mas da cena que lhe abriu caminho", completou Joel.
O bardo é retratado discretamente ao fim do longa, cantando "Farewell". "Quisemos sublinhar sua participação na cena que surgia. Fico até desconfortável em falar o nome dele, o Monte Rushmore da música", derreteu-se Joel.
O humor negro dos Coen se encaixou bem ao épico inspirado no livro "The Mayor of MacDougal Street", do músico Dave van Ronk, resultando numa divertida parábola sobre sucesso e fracasso.
"Um minuto é o que basta na vida de um artista", disse T-Bone Burnett, produtor musical da trilha. "Um artista pode subir ao palco cansado quando o crítico vai vê-lo, e o menos talentoso, com mais energia, ganha a fama."
Llewyn Davis é talentoso, mas não consegue se destacar. Mostrando sua luta contra a cena careta folk, de canções fofas e letras idiotas, os Coen brincam com a indústria fonográfica atual e destacam o papel da vanguarda.
"Uma vez me disseram que, se você for a segunda pessoa a fazer sucesso, terá as vantagens que o primeiro não teve", concluiu o cantor Justin Timberlake, que faz a metade de uma dupla (Jim & Jean) com Carey Mulligan.