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Crítica coletânea

'Bizarro' é ponto de contato de novos autores, reunidos em boa coletânea

PEDRO MEIRA MONTEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

As coletâneas organizadas por Nelson de Oliveira já nascem meio clássicas. O instantâneo que elas fornecem é fundamental para testar o fôlego da ficção contemporânea.

Sem dar-se ao deslumbre do "definitivo", assumem o risco de ser parciais, incompletas, mas também saborosas, com altos e baixos.

"Geração Zero Zero" reúne narrativas de 21 autores brasileiros que começaram a publicar na última década.

E confirma que os meios digitais ainda não produziram uma mudança qualitativa na prosa. Talvez se possa dizer que os blogs e a escrita em rede sequer arranharam a fantasia de um sujeito inteiro.

Vivo ou morto, lá está o autor, equilibrando-se para sustentar uma voz que os melhores contos revelam.

A grande virtude de "Geração Zero Zero" é o convite à leitura e a possibilidade de descobrir autores novos.

Nele, sente-se uma tensão entre narradores que se filiam a uma escrita rente ao real e aqueles que se deixam flertar pela lírica, forma de revelação momentânea do sentido.

O organizador sugere que o "bizarro" seja um ponto de contato entre todos, como se o "nonsense" ameaçasse tomar conta do mundo e os escritores fossem os narradores da própria perda do sentido.

É verdade. Mas não é menos verdade que alguns dos momentos mais altos de "Geração Zero Zero" são breves respostas à falta de sentido.

Sirvam como exemplos os "postais do abismo" de Walther Moreira Santos (PE) e o magnífico conto do paulistano Santiago Nazarian.

Ler este livro dá a sensação de que os autores de hoje se batem com a secura e a bizarria de uma espécie de ultrarrealismo (que faz pensar num Rubem Fonseca), embora por vezes deixem escapar pequenas iluminações líricas (que lembram João Antônio).

Não se trata de esgotar a verve narrativa de hoje nos modelos de ontem, mas a lírica fornece uma saída fugaz e precária para a angústia provocada pelo nonsense de um mundo sem saída.

Curiosamente, para vários dos autores, a "miséria" não é apenas econômica. Em tempos relativamente eufóricos como o nosso, a pobreza da alma existe e persiste.

Passada a primeira década do século 21, a literatura brasileira talvez nos lembre que o arranque econômico e a retomada do "crescimento" são uma fantasia e que a solidão e o esfacelamento do sujeito são ainda o grande e inescapável tema dos narradores.

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GERAÇÃO ZERO ZERO

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