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Guerra contra drogas projeta sombra sobre festival literário

Maior feira das letras em espanhol, na cidade de Guadalajara, começa dias após descoberta de 26 mortos por narcotráfico

Destaque é seleção de 25 novos autores latino-americanos; revelações recuperam temáticas locais em suas obras

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

A mais importante feira do mundo das letras em espanhol começa hoje em Guadalajara sob o impacto da descoberta, anteontem, de 26 corpos de mortos pelo narcotráfico a menos de um quilômetro da sede do evento.

O México vive uma guerra contra os cartéis de drogas que já fez mais de 40 mil vítimas desde 2006.

Em 2011, a feira comemora 25 anos escolhendo 25 novos autores latino-americanos para serem o centro da festa. "Os 25 Segredos Melhor Guardados da América Latina" é o nome do projeto que será a grande estrela dessa edição da FIL (Feria Internacional del Libro de Guadalajara).

Escolhidos por uma comissão de editores, jornalistas e críticos de vários países, os "25 Segredos" tomam inspiração em empreitadas de sucesso, como a edição da "Granta" em espanhol e o Bogotá 39, encontro dos 39 melhores escritores latino-americanos com menos de 39 anos. Ambos projetaram novos ficcionistas para o mercado internacional.

Há autores de Colômbia, Equador, Argentina, El Salvador, Chile, Nicarágua, Venezuela, Peru, Honduras, Bolívia e México, entre outros.

Apesar da diversidade de estilos e referências, há algo em comum entre eles.

RAÍZES

A maioria promove uma revalorização do local a partir do qual escreve, marcando uma diferença com relação a movimentos dos anos 90, como o Crack mexicano e o Mac

Ondo, que se originou no Chile, que defendiam a ruptura com as tradições literárias nacionais, principalmente com o realismo mágico.

"Foi uma movimentação importante por buscar uma nova linguagem, mas estamos nos dando conta de que aqui há coisas importantes e de que é preciso revisitar feridas de nossa história", diz a chilena Nona Fernandez.

A escritora apresentará seu romance "Mapocho", inspirado no nome do rio que corta Santiago e que resume parte de sua história, pois nele correu sangue dos desaparecidos durante a ditadura chilena nos anos 70.

"Essa geração não nega personagens como Borges e Cortázar, mas quer encontrar um caminho que não seja conflituoso com a tradição e, ao mesmo tempo, seja local. Há uma volta à aldeia", diz Laura Niembro, do comitê organizador da feira e responsável pela seleção.

O colombiano Luis Miguel Rivas, autor do livro "Los Amigos Míos se Viven Muriendo" (meus amigos vivem morrendo) diz que, depois do chamado "boom latino-americano", houve um processo de rompimento necessário.

"Tínhamos de nos livrar do peso despótico daquelas figuras. Hoje há mais liberdade e variedade, e cada um escreve a partir de sua visão de mundo."

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