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No Brasil, Alain de Botton critica elite, caos de SP e desigualdade

Filósofo anglo-suíço causou polêmica com comentários no Twitter durante viagem a capitais

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO

O Brasil passou uma semana de Geni na mão de celebridades estrangeiras por aqui.

Depois de o músico e empresário Perry Farrell acusar o país de não ter educação musical -que ele estaria trazendo com seu festival Lollapalooza-, o filósofo Alain de Botton desandou a tuitar comentários pouco lisonjeiros que deram o que falar.

Reclamou da chuva, da feiura das cidades, dos atrasos no aeroporto; chocou-se com a elite paulistana, com a "profunda desigualdade" do país e reproduziu comentários pouco elegantes sobre alguns de seus anfitriões.

Quando conversou com a Folha, na manhã de ontem, Botton já estava mais bem impressionado -gostara muito do Rio, onde foi da mansão Moreira Salles ao Complexo do Alemão.

Ainda assim, não se acanhou em criticar a cultura nacional e, em particular, a cidade de São Paulo. Leia abaixo um resumo da conversa.

Folha - O que achou do Brasil nesta primeira visita?

Alain de Botton - É um país fascinante, parece que estou aqui há um século, de tantas impressões. Estou maravilhado com o tamanho, a diversidade, as pessoas. Tenho lido história do Brasil, é impressionante a quantidade de turbulências, revoltas.

Vindo da Inglaterra, fiquei com a impressão de que vivo em um lugar muito pequeno, onde nada aconteceu.

Como tem sido a viagem?

Comecei em Porto Alegre, experimentei o sul germânico, aí fui para São Paulo e experimentei a loucura...

Loucura em que sentido?

Você vê na geografia urbana que é uma cidade em que ninguém parou para pensar "como podemos fazer essa cidade habitável, bonita, calma?". Foi tudo corrido, preocupado em fazer dinheiro, em se projetar no cenário internacional. Não houve tempo para pensar em parques e coisas do tipo. Num dia cinza, parece uma visão do inferno.

E você teve alguns encontros com a elite da cidade?

Tive uma rápida visão. Fui a um coquetel após uma palestra que dei para a elite [na Sala São Paulo] e fiquei espantado com o refinamento.

Não era uma riqueza decadente, mas extremamente privilegiada, impossível de acontecer no Reino Unido. Uma conversa de "pegamos o helicóptero para ir ali", "a limusine está aí fora". As diferenças são tão...uau! Saímos do prédio e havia algo que parecia um cadáver, mas provavelmente ainda era uma pessoa. Isso é extremo.

Qual é sua sensação geral desse contraste de classes?

Fiquei impressionado com a quantidade de gente que me disse nunca ter ido a uma favela. Com mais cinco anos de bom crescimento econômico, este país vai estar completamente diferente. Parece uma fase de transição. Fui a uma favela, e dá a sensação de que aquilo não vai ser daquele jeito para sempre. Não parece com a Índia, onde a pobreza é tão endêmica que não há como contorná-la.

As comparações com cidades americanas são cabíveis?

Chama a atenção como o Brasil é diferente dos EUA, felizmente. É um país religioso de um modo bom. A religião aqui tem uma influência calmante, diz às pessoas que há outro mundo além desse.

Isso faz com que o espírito brasileiro seja mais relaxado, enquanto o americano é sobressaltado, focado no dinheiro e no sucesso de um modo louco, porque não há nada além disso aqui.

Mas não compro isso de que os brasileiros são alegres. São afetuosos, mas sinto muita tristeza e melancolia, o que acho bom, porque torna a cultura mais interessante.

Leia a íntegra da entrevista

folha.com/no1011999

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