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Artistas pop são agentes dos Illuminati?

Sites criam teorias da conspiração e colocam Lady Gaga, Rihanna e Jay-Z como mensageiros da sociedade secreta

Músicos, por sua vez, se divertem com acusações fazendo referências jocosas em clipes e no Twitter

JONAH WEINER
DA “SLATE”

Não tenho certeza se Eminem já conseguiu escapar do domínio dos Illuminati -a sociedade secreta de manipuladores para a qual entrou anos atrás em troca de riqueza, fama e poder-, mas eu sei que está fazendo o possível.

Diversas pessoas on-line me dizem isso. Para começar, existe uma página do Yahoo Respostas que traz a pergunta "Eminem está tentando se libertar dos Illuminati?" e oferece uma investigação espirituosa e análise de mensagens secretas contra a ordem escondidas em "Not Afraid".

Bem-vindo ao mundo das teorias da conspiração da música pop, uma indústria de denúncias na qual Eminem é um dos artistas evocados por instigadores anônimos da afinidade iluminista.

As melhores delas costumam ser as mais malucas, e esta vai ao topo das paradas.

Jay-Z? Uma "marionete dos Illuminati". Lady Gaga? Uma "prostituta dos Illuminati". Kanye West, Lil Wayne, Beyoncé, Rihanna: todos agentes dos Illuminati. Michael Jackson e 2Pac, por sua vez, foram assassinados por ordem dos Illuminati.

A investigação dos Illuminati se espalha de forma desordenada, mas vigorosa, por inúmeros sites, do YouTube ao Twitter, de fóruns de discussão a lojas especializadas, como VigilantCitizen.com.

O olho treinado sabe identificar roupas escolhidas pelos Illuminati.

Existem letras de música Illuminati, como a menção de Eminem a uma "nova ordem mundial" em "Lose Yourself", ou as referências que ele e Jay-Z fizeram a uma figura misteriosa chamada "Rain Man" (os teóricos parecem desconhecer o filme com Dustin Hoffman).

Os denunciadores dos Illuminati fazem os teóricos da conspiração do 11 de Setembro parecerem tão rigorosos quanto Bob Woodward e Carl Bernstein no caso Watergate.

As provas que apresentam se resumem a erros de interpretação forçados, numa impressionante alergia à possibilidade da metáfora.

Eles ocupam a periferia da música, mas sua mensagem chegou à grande mídia.

No final de 2009, um repórter da CNN achou adequado perguntar a Lady Gaga sobre os boatos dos Illuminati (ela se recusou a responder).

Rihanna reconheceu em tom de piada as acusações de envolvimento com o grupo no clipe "S&M", em que manchetes falsas pipocam na tela descrevendo-a como a "princesa dos Illuminati".

Existe um forte sabor fundamentalista cristão em grande parte das conversas do iluminismo pop, um temor mal dissimulado de que Lady Gaga e Jay-Z sejam agentes do Anticristo, cuja missão é subjugar as massas e transformar "nossas" crianças em homossexuais e/ou negras.

As tais ligações com os Illuminati têm a ver, de certa forma, com quase todo astro da música -Bob Dylan, Taylor Swift e até Céline Dion.

No entanto, parece mais do que mero acaso que Jay-Z e Lady Gaga sejam os alvos principais: um negro fascinante, rico e que fala de política sem papas na língua e uma esquisitona pró-gay que mistura gêneros.

A caçada aos Illuminati pop é uma volta ao tempo em que pais esquadrinhavam músicas do Led Zeppelin e Black Sabbath em busca de referências ocultistas.

A paranoia Illuminati dentro dos círculos do rap ataca e reduz a grande narrativa enaltecedora do sucesso negro descomunal, oferecida pelo hip-hop. A única forma pela qual Jay-Z, ou qualquer negro, poderia ter sucesso nos EUA, segundo essa linha de pensamento, seria capitulando e transformando-se em peão das pessoas que sempre tomaram as decisões.

Quando Kanye West canta em "Power" que "neste mundo do homem branco, somos os escolhidos", ele faz uma queixa implícita sobre os limites da mobilidade negra.

Ironicamente, alguns teóricos da conspiração do pop entenderam o verso como uma confissão de afiliação.

West abordou os boatos de forma provocadora no Twitter. "Illuminati e adorar o Diabo são a mesma coisa... Eles têm uma rede social na qual as celebridades podem entrar", escreveu ele, acrescentando: "Pergunta: dá para adorar o diabo no novo iPhone??? KKKK!!!".

As piadas de West apontam para uma razão gritante pela qual a teoria dos Illuminati pop se mostrou tão contagiante: é um grande barato transformar o ato de ouvir música pop numa caçada por simbolismos ocultos à altura de "O Código Da Vinci".

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