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O infiltrado

Inglês escreve "thriller" sobre crimes na internet a partir de conversas com hackers do Brasil

NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

Foi no Brasil que o escritor e jornalista inglês Misha Glenny decidiu, há cinco anos: "Eu preciso escrever um livro sobre cybercrime" (crime cibernético).

Estava preparando outro livro, sobre o crime organizado tradicional, "McMáfia", que seria lançado em 2008, quando um amigo, também inglês, o colocou em contato com "um grande hacker" brasileiro, que "não estava envolvido em atividades criminais, mas conhecia muitos que eram 'black hat'", gíria para hackers criminosos.

O nome do brasileiro? "Não posso contar, ele ainda é um contato muito importante", diz Glenny à Folha.

Foi assim que veio parar no Brasil em 2006, para entrevistar dois "black hat", também os policiais federais que tentaram prendê-los, sem sucesso, e o chefe de investigações especiais de uma empresa americana de segurança corporativa, a ISS, hoje parte da IBM, que estava no Brasil.

Este último, "ex-agente cibernético da CIA", descreveu para ele uma "corrida armamentista" global, entre criminosos, espiões etc.

Diante da sofisticação dos hackers, da falta de recursos da divisão policial e do cenário desenhado pelo investigador privado, "eu subitamente me dei conta de que era um grande assunto". O resultado é "Mercado Sombrio", livro que lança amanhã pela Companhia das Letras, um mês após sair no Reino Unido e nos Estados Unidos.

Mas, não, o livro não é sobre o Brasil. Parte de sua experiência no país é relatada em "McMáfia", também publicado aqui pela editora.

MERCADO NEGRO

"Mercado Sombrio" conta a história do fórum on-line global DarkMarket, que reunia hackers "black hat" para compra e venda de dados bancários, números de cartão de crédito e ferramentas para furtá-los. Um site de e-commerce para criminosos.

Glenny não queria mais um livro para especialistas e partiu para um "thriller", focando os personagens que resultaram das mais de 200 horas de entrevistas.

Entre outros, um agente do FBI, Keith Mularski, que invadiu o site e acabou se tornando um de seus administradores, e o "ladrão cibernético" Cha0, turco. Mularski é o protagonista, até porque a narrativa acompanha sua investigação, mas é Cha0 quem empolga o autor.

"É tecnicamente brilhante mas também muito bom do outro lado do 'cybercrime', que é a engenharia social, persuadir as pessoas a fazerem coisas. Sua história com o outro turco é a mais estranha de todas. São pessoas tão bizarras, mas muito interessantes, muito cativantes."

Com o livro, Glenny quer chamar a atenção para a desproporção nos gastos com segurança cibernética.

"Ao redor do mundo, incluindo o Brasil, gastamos US$ 110 bilhões (R$ 205 bilhões) por ano, quase exclusivamente para comprar uma proteção digital muito cara e consultoria. Não há dinheiro sendo investido para entender a comunidade hacker ou para estender a mão a ela."

O livro quer ser "o início", até porque a compreensão é urgente. A "caixa de Pandora", diz, já foi aberta para a guerra cibernética, com o ataque de vírus ao programa nuclear do Irã há um ano, creditado a Israel e/ou aos EUA, e a invasão de uma empresa americana de armamentos em maio, creditada à China.

Antes de mais nada, porém, Glenny escreveu "Mercado Sombrio", como insiste, "para ser divertido de ler, para que as pessoas possam compreender algo do assunto, sem saber coisa nenhuma de computadores". Daí o ritmo de "thriller" e o foco em personagens, e não técnica.

Já deu certo num aspecto: ele foi procurado por um estúdio de cinema interessado na compra dos direitos.

MERCADO SOMBRIO

AUTOR Misha Glenny

EDITORA Cia. das Letras

QUANTO R$ 49,50

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