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Fotolivros focam a angústia dos latinos

Volume cataloga 150 parcerias de escritores e fotógrafos e compõe perfil de arte em anos de repressão

Cortázar, Neruda e Borges estão entre os autores que emprestaram textos às publicações de fotos

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Do "umbigo de pedra" de Macchu Picchu à "alucinação na ponta dos olhos" de São Paulo ou ao "mundo de fantasmas" de Santiago, a fotografia não é a mesma quando sublinhada por palavras.

Juntos em tempos de transformação política e social, artistas e escritores como Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Roberto Piva e Pablo Neruda emprestaram prosa e verso a imagens em livros hoje raros ou já quase desaparecidos.

Enquanto grassavam as ditaduras e regimes de exceção, a produção dos chamados fotolivros deu vazão à angústia da América Latina -da Cuba de Fidel Castro ao Chile de Augusto Pinochet, passando por um Brasil do milagre econômico, que só fez aumentar a disparidade entre classes.

São esses frutos estranhos desses tempos, imagens de contundência ímpar, que estão reunidos em "Fotolivros Latino-americanos", volume lançado pela Cosac Naify que cataloga 150 desses livros.

Nos últimos quatro anos, uma equipe de pesquisadores, entre eles o fotógrafo britânico Martin Parr, vasculhou prateleiras empoeiradas de Buenos Aires a Havana em busca de exemplares que ajudassem a recompor essa história fragmentada.

"Existe uma forte relação entre escrita e fotografia na região", diz Parr. "É uma junção em que o texto tem o mesmo peso que as fotos."

Julio Cortázar, autor de "O Jogo da Amarelinha", faz rara incursão na fotografia em "Último Round", livro de 1969 em que repensa imagens turísticas da América Latina como um mosaico perverso de injustiças e contradições.

Não por acaso, Cortázar dizia que a fotografia, tal qual o conto, é um gênero que precisa "ganhar por nocaute", não por pontos corridos.

Quem dá uma surra com imagens é o chileno Sergio Larraín. Em "El Rectángulo en la Mano", ele parece rever vanguardistas russos como Aleksandr Ródtchenko para retratar a miséria das ruas.

Nesse resgate, também reaparece a maior obra-prima da coleção. "Amazônia", raro ensaio colorido de Claudia Andujar sobre índios na floresta, teve a primeira edição quase extinta pelo regime militar, que não deixou que cópias chegassem às livrarias.

"Esse é um dos livros mais importantes da história da fotografia", afirma Horacio Fernández, editor de "Fotolivros Latino-americanos". "Poucas pessoas conhecem a obra."

Destino parecido tiveram algumas obras editadas durante a ditadura chilena, muitas sobrevivendo só como fotocópias desbotadas.

Na contramão de raridades que ressurgem exumadas agora, há também um amplo registro dos livros de propaganda política, em especial volumes cubanos.

"Cuba", de 1966, tentou ser uma espécie de revista "Life" da ilha, com fotos coloridas de belas mulheres torrando na praia sob um sol incerto.

FOTOLIVROS LATINO-AMERICANOS

AUTOR Horacio Fernández

EDITORA Cosac Naify

QUANTO R$ 149 (256 págs.)

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