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Crítica

Abundância de imagens cria problema para o espectador

CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHA

Quando Björk apareceu, nos idos de 1993, em uma floresta cercada de bichos de pelúcia e esvoaçantes animações de papel no vídeo de "Human Behaviour", logo se descobriu que aquela extravagância anunciava mais que um talentoso diretor de clipes.

Em seu sexto longa em pouco mais de uma década, Michel Gondry reafirma a singularidade de seu universo audiovisual e uma assinatura que vai além da habilidade de produzir bricabraques.

O desafio em transpor "A Espuma dos Dias" para o cinema está na abundância das imagens, responsáveis, em grande parte, pelo fascínio do romance de Boris Vian.

O filme traduz com tantos detalhes e inventividade o imaginário tresloucado de Vian que acaba criando um problema básico para o espectador: é difícil se situar sensorialmente em meio ao volume de estímulos e ainda prestar atenção na narrativa.

O efeito desse excesso, em mais de um momento, é que o filme se confunde com um videoclipe de longa duração.

Outro obstáculo decorre, paradoxalmente, da proximidade do cinema de Gondry com a delirante escritura de Vian. Do mesmo modo que aconteceu com David Cronenberg ao transpor o "Almoço Nu", de William Burroughs, o filme sofre com uma falta de distância ou de diferença, portanto, de autonomia em relação ao cultuado original.

Nos dois casos, é como se os cineastas expusessem demais seu universo tão próprio à radiação da matriz, a ponto de quase perderem a capacidade de metamorfosear, vampirizar o outro. Apesar desses limites, é difícil não se emocionar com o modo como o filme expressa o tema usado e abusado da perda.

E quando Gondry consegue se despojar da mania de amontoar, quando acredita no desbotamento e nos convida a sentir a melancolia visualmente, "A Espuma dos Dias" vira, como "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", quase obra-prima.


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