Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Folhateen

Só Yeezus salva

Com um disco incômodo, hostil, o rapper americano Kanye West vai além do discurso falastrão e leva o hip-hop a um novo patamar

THALES DE MENEZES EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

Na década de 1960, John Lennon levou pancada de todos os lados quando disse que os Beatles eram mais famosos do que Jesus Cristo.

Em 2013, o rapper americano Kanye West, 36, talvez seja a coisa mais próxima dos Beatles inserida na cena pop.

Não por seus estilos musicais, bem diferentes, mas pela popularidade entre o público jovem. Nestes tempos, West não se acha mais popular do que Jesus Cristo. Ele se considera o próprio.

"Yeezus", o nome de seu sexto álbum, denomina um alter ego divino que o cantor assume em um álbum curto, direto, cru. Em uma das faixas, "I'm a God", ele --Yeezus-- conversa com Jesus. Como sempre, cheio de marra.

O disco transcende o hip-hop. Ao contrário do anterior, "My Beautiful Dark Twisted Fantasy", de 2010, exagerado, megalomaníaco, este é enxuto, quase monolítico.

West e o produtor Rick Rubin mexeram nas faixas até poucos dias antes do lançamento de "Yeezus". Segundo o cantor, Rubin não "produziu" o disco, ele o "reduziu", tirando todos os excessos.

Com apenas dez faixas e 40 minutos de duração, passa em vários momentos a sensação de que o ouvinte só tem a voz do rapper e a percussão eletrônica para escutar.

Esse percussão é pesada, metálica,estridente, agressiva até, como no rock industrial de um Nine Inch Nails.

O mistério de West é como ele consegue, com tão pouco, exibir tantas referências. As músicas vão do house oitentista de Chicago ao dancehall, passando pelo estilo robótico das fases anteriores do Daft Punk --não por acaso, a dupla francesa produz três faixas de "Yeezus".

SEM CAPA

A opção minimalista do projeto não fica restrita ao som. O disco não tem capa nem encarte. É vendido numa caixa de acrílico transparente, dessas comuns de CD.

Tem, na frente da caixinha, um adesivo vermelho que serve para fechar a embalagem e, atrás, outro adesivo com a relação de samples usados no disco --West é obrigado por lei a exibir essa informação.

Nas letras, a prepotência continua, mas o discurso é amargurado e angustiado. "On Sight", "Sent It Up" e "Black Skinhead" são exemplos de faixas que jogam os ouvintes longe de qualquer zona de conforto.

"Yeezus" é experimental, tão instigante que chega a incomodar. É um disco hostil.

O impacto sonoro provocado por "Yeezus" ofusca a vida louca do artista, colecionador de desafetos. Nos dias após o lançamento do álbum, as pessoas estão mais ocupadas em destrinchar suas letras do que conferir a última briga do astro na internet.

Poucas vezes um disco tão perturbador chega ao mercado. Parece que West pegou o que tinha mostrado em outros álbuns e cortou fora tudo que soava bem resolvido, acessível ao grande público.

E, mesmo assim, ainda é capaz de arrebatar fãs --eis a grande magia do cara que leva o hip-hop a um patamar completamente novo.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página